Do Sambódromo ao Maracanã: os 75 anos de Rosa Magalhães

Carnavalesca é a maior campeã da Marquês de Sapucaí e a única mulher a assinar sozinha desfiles do Grupo Especial carioca
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Do Sambódromo ao Maracanã: os 75 anos de Rosa Magalhães
Rosa Magalhães se formou em pintura e em cenografia (Foto: Divulgação)

Foi do casamento entre um imortal da Academia Brasileira de Letras e de uma teatróloga que nasceu um dos nomes mais importantes do carnaval brasileiro: Rosa Lúcia Benedetti Magalhães, nascida em 8 de janeiro de 1947, na cidade do Rio de Janeiro. Filha do cearense Raimundo Magalhães Júnior e da paulista Lúcia Benedetti, Rosa se formou em pintura e em cenografia, mas foi na bagunça organizada do carnaval carioca que ela se encontrou. 

Tão popular quanto o arroz e feijão ou o futebol, os desfiles carnavalescos que invadem as avenidas das principais cidades brasileiras também foram afetados pela pandemia de Covid-19. Enquanto os brasileiros se isolavam em casa, o carnaval foi trancado nas quadras das escolas de samba.

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Provavelmente, no entanto, não há um momento mais propício para o país cantar e, assim, não deixar o samba morrer do que agora. E Rosa Magalhães, que possui 50 dos seus 75 anos de idade completados hoje dedicados a essa festa, é a cara deste país tropical.

Em 2022, os carros alegóricos voltarão a colorir a Marquês de Sapucaí, no Rio, e Rosa retornará ao seu palco preferido com a escola que venceu cinco títulos entre 1994 e 2001 – a Imperatriz Leopoldinense. Mas, para entender a história da mulher de mecha vermelha na cabeça que é a mais perfeita tradução da festa popular, é preciso rebobinar um pouco a fita, ou melhor, zerar os cronômetros do sambódromo. E que comece o desfile.

 “Ô abre alas que eu quero passar”

Rosa iniciou sua carreira como carnavalesca no Salgueiro, em 1971. Depois, desenhou figurinos para a Beija-Flor e trabalhou na Portela ao lado de Lícia Lacerda, criando vestimentas e alegorias para o enredo de Hiram Araújo.

Em 1982, a dupla Rosa e Lícia trabalhou na Império Serrano e assinou o desfile da escola com o enredo campeão do Grupo 1A daquele ano, “Bumbum Paticumbum Prugurundum”. Começava ali uma trajetória repleta de títulos para Rosa, que migrou ao lado de Lícia para a Imperatriz Leopoldinense.

Do Sambódromo ao Maracanã: os 75 anos de Rosa Magalhães
Rosa Magalhães e Lícia Lacerda comemorando o título do Império Serrano (Foto: Divulgação)

Mesmo com a crise financeira que assolou a escola verde, branca e ouro, a dupla alcançou o quarto lugar no Grupo 1A em 1984, ao lado do poderoso Salgueiro, com o enredo “Alô Mamãe”, colocação que classificou a escola para o Grupo Especial. O feito foi tão representativo que Rosa e Lícia ganharam juntas o prêmio Estandarte de Ouro de personalidade.

Naquela época, Rosa e Lícia se completavam como queijo e goiabada, e as duas, mais uma vez, saíram da Imperatriz para assinar os desfiles da escola de samba Tradição, que havia sido recém-formada. Pelo Grupo 2B, em 1985, e pelo Grupo 2A, um ano depois, a escola foi bicampeã. Em 1987, as carnavalescas foram para Estácio de Sá, que lutava por um acesso ao Grupo Especial e terminou o desfile na 4a posição. 

Imperatriz: mulher que comanda um império

No imaginário de grande parte dos brasileiros, o carnaval, apesar de ser substantivo masculino, é uma mulher, afinal, são muitas as representações femininas que cercam a festa: a porta-bandeira das escolas, a Globeleza, a rainha e a madrinha de bateria e até a ala das baianas. 

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Apesar disso, as mulheres em posições de liderança nos carnavais de “elite” são, ainda hoje, peças raras. Rosa Magalhães se tornou uma delas ao permanecer na Estácio de Sá em 1988 sem a sua parceira de longa data, Lícia. Até hoje, Rosa é a única mulher que assina sozinha os desfiles para o Grupo Especial do Rio de Janeiro.

Mas não é apenas isso que a torna uma das grandes carnavalescas da atualidade. Na verdade, se quisermos apelar para as contas matemáticas, ela é, entre homens e mulheres, a maior detentora de títulos na era do sambódromo: são seis entre 1994 e 2013.

Após as passagens pela Estácio de Sá, onde assinou sozinha dois desfiles, Rosa migrou novamente para o Salgueiro, conquistando o 3o lugar em 1990, com o enredo “Sou Amigo do Rei”, e o vice-campeonato com “Me Masso Se Não Passo pela Rua do Ouvidor” no ano seguinte.

Em 1992, Rosa voltou como carnavalesca, desta vez sozinha, para a Imperatriz Leopoldinense, onde construiu um reinado que durou 18 anos, até 2009. E tanto tempo em uma mesma escola tem seus motivos. Assim como no futebol, onde os técnicos são demitidos e contratados conforme as conquistas e títulos – ou a falta deles – no carnaval não é diferente. Sob o comando de Rosa Magalhães, a Rainha de Ramos ganhou cinco títulos – dois vice-campeonatos e três terceiros lugares -, além de passar sempre longe da “zona de rebaixamento” durante esses anos. 

A maior vencedora do carnaval em tempos de sambódromo conquistou cinco dos seis títulos da Imperatriz Leopoldinense no Grupo Especial. Começou em 1994 e 1995 com os enredos “Catarina de Médicis na Corte dos Tupinambôs e Tabajeres” e “Mais Vale um Jegue que me Carregue que um Camelo que me Derrube… Lá no Ceará”. Depois, vieram os tricampeonatos de 1999, 2000 e 2001, com os enredos “Brasil Mostra a sua Cara em… Theatrum Rerum Naturalium Brasiliae”, “Quem Descobriu o Brasil foi Seu Cabral, no Dia 22 de Abril, Dois Meses Depois do Carnaval” e “Cana-caiana, Cana Roxa, Cana Fita, Cana Preta, Amarela, Pernambuco… Quero Vê Descê o Suco, na Pancada do Ganzá”.

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Rosa Magalhães no barracão da Portela (Foto: Fernando Tribiño/Divulgação)

Após seu império na Imperatriz Leopoldinense, Rosa assumiu os desfiles da União da Ilha do Governador pelo Grupo Especial e, novamente, do Império Serrano, pelo Grupo A, ambos em 2010. No ano seguinte, tornou-se a carnavalesca responsável pela Unidos de Vila Isabel, onde ficou até 2013, quando a escola sagrou-se campeã com o enredo “A Vila Canta o Brasil Celeiro do Mundo – Água no Feijão que Chegou Mais Um…”.

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Em 2014, a carnavalesca também comandou o enredo de duas escolas, ambas concorrentes no Grupo Especial: Estação Primeira de Mangueira, que ficou com o 8o lugar, e Dragões da Real, que fechou o carnaval na 5a posição. De 2015 a 2017, Rosa ficou à frente dos desfiles da São Clemente. Em 2018 e 2019, retornou à Portela e, no ano seguinte, à Estácio de Sá, quando vivenciou o primeiro rebaixamento de uma escola sob sua responsabilidade.

No ano em que a pandemia tirou do sambódromo o brilho dos adereços e carros alegóricos, Rosa Magalhães completava 51 anos de carreira. Em 2022, com a esperança de que o samba não vai morrer e acabar, ela comandará novamente o desfile da escola onde construiu um império. Neste ano, o enredo da Imperatriz Leopoldinense é uma homenagem a um companheiro de ofício: “Meninos Eu Vivi… Onde Canta o Sabiá, Onde Cantam Dalva e Lamartine” levará à avenida a vida do carnavalesco Arlindo Rodrigues.

Até os gramados do Maraca

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Cerimônia de encerramento dos Jogos Olímpicos de Verão 2016 (Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil)

Muito além do sambódromo, Rosa Magalhães foi diretora artística da abertura e do encerramento dos Jogos Pan-Americanos, em 2007, realizado em sua cidade natal. A cerimônia não apenas encantou o público e a crítica especializada como lhe rendeu um prêmio Emmy de melhor figurino.

Quase dez anos depois, nos mesmos gramados do Maracanã, Rosa também assumiu como diretora artística e idealizou a cerimônia final da Olimpíada, em 2016.

A experiência nos dois espetáculos foi narrada em seu livro “E Vai Rolar a Festa…”, lançado em 2018 pela Editora Nova Terra.

O legado de uma Imperatriz

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Rosa é a maior vencedora do Carnaval do Rio na era sambódromo (Foto: Divulgação)

Além de um Emmy, Rosa pode colocar em seu currículo cinco Estandartes de Ouro: na Imperatriz Leopoldinense, com “João e Marias”, venceu por Melhor Enredo, em 2008. Em 2012, levou o prêmio de Personalidade e de Melhor Enredo com “Você Semba Lá …. Que Eu Sambo Cá! O Canto Livre de Angola”, pela Vila Isabel. 

No ano de 2015, ganhou novamente o Estandarte de Ouro de Melhor Enredo, pela São Clemente, com “A Incrível História do Homem Que Só Tinha Medo da Matinta Perera, da Tocandira e da Onça Pé de Boi”.

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Dois anos depois, mais uma vez foi agraciada com o prêmio de Melhor Enredo, também pela São Clemente, com “Onisuáquimalipanse”, uma narrativa sobre corrupção. O título do enredo foi uma brincadeira com a expressão francesa “honi soit qui mal y pense”, traduzida livremente como “envergonhe-se quem pensar mal disso”.

O currículo de Rosa contempla, ainda, um Tamborim de Ouro e dois prêmios de Estrela do Carnaval. Em 2021, a carnavalesca foi agraciada com o título de Doutora Honoris Causa pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ).

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