Bem-sucedidas, mas nem tanto: as mulheres ainda estão em desvantagem quando o tema é carreira. Como você pode virar esse jogo?

Pesquisa aponta que as mulheres vão demorar 33 anos para se igualar aos homens no mercado de trabalho.
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Quantas vezes você não escutou histórias ou até sentiu na própria pele que, após a maternidade, a sua carreira poderia simplesmente acabar. Essa premissa é muito comum entre as mulheres, mas ela não significa ser uma verdade absoluta. 

A virada desse cenário histórico está acontecendo, pois o comportamento humano está se desdobrando para um futuro mais justo e com mais oportunidades. Isso tem sido feito com o suor de muitas mulheres, e por que não de homens que enxergam validade nesta mudança. 

Neste artigo vamos conversar sobre a carreira da mulher após a maternidade, as diferenças evidentes que vemos em relação aos homens nesse sentido e trazer dados que comprovam essa temática.

A carreira da mulher: como mudar os dados?

De acordo com um estudo publicado em 2022 pela PwC Brasil, rede de firmas independentes e uma das maiores multinacionais de consultoria e auditoria do mundo, precisaremos de 33 anos para que, globalmente, as mulheres atinjam a taxa atual de homens empregados (80%, contra 69%).

Essa projeção fica ainda mais distante quando olhamos para a diferença salarial, em que a pesquisa indica que ainda há pela frente mais de seis décadas para que a nossa remuneração seja igual à deles.  

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A pandemia do novo coronavírus acentuou ainda mais essa diferença. E, ainda considerando o estudo da Pwc, vimos, em especial no Brasil, que mais mulheres assumiram atividades não remuneradas durante esse período, para suprir mudanças na rotina com o fechamento das escolas e creches, por exemplo. 

Essa iniciativa em assumir a responsabilidade quase que total do trabalho doméstico e dos cuidados com os filhos não é de surpreender, afinal, historicamente, essa era a carreira esperada da mulher. 

De toda forma, temos uma mudança de mentalidade, mesmo que a iniciativa ainda seja muito mais feminina. Hoje, é mais comum ouvirmos relatos de mães e pais que tentam se organizar de forma mais igualitária, ou que buscam esse lugar, para que ambos sejam responsáveis pelos cuidados com os filhos e, assim, possam também gerir outras atividades de maneira íntegra e bem-sucedida, como a carreira. 

Para a jornalista Maíra Liguori, de 42 anos, mãe do Tom e do Bruno, de 7 e 4 anos, essa nova realidade acontece. “Eu tenho a situação de “tempestade perfeita”, com um trabalho que me permite ter flexibilidade e ao meu lado um parceiro que divide as tarefas e responsabilidades comigo. Temos a escola como um recurso, em que posso deixar as crianças o dia inteiro, além de rede de apoio, com os avós que eventualmente podem participar. Mas, tenho a consciência de que a realidade em muitas famílias não é essa. Fica somente entre a mãe e a escola, e eu estou em um lugar de privilégio.”

Nesse sentido, observamos que os ganhos das mulheres nesse espaço de equidade é possível, apesar de percebemos que as mudanças ocorrem de forma lenta, gradual, mesmo que consistente.

O segredo? Para Maíra, além de um contexto mais esclarecido, nesse sentido, na sua criação e na do seu parceiro, a base para esse equilíbrio está no diálogo, no respeito e na transformação prática.

“Temos conversas recorrentes sobre as demandas que cada um executa e para sair do campo das sensações e percepções na nossa fala, montamos uma tabela com todas as tarefas que a nossa família exige, e vamos marcando quem as concluiu. Essa noção gráfica nos ajudou a mostrar um para o outro em fatos, como estamos nos organizando, quem está mais sobrecarregado, analisamos os motivos e assim vamos ajustando a rotina.”, afirma.    

Qual o perfil do sucesso na carreira? 

Em medidas diferentes, cada um pode organizar o seu significado de sucesso profissional. Há quem busque apenas manter um bom emprego, com garantias para o futuro, outras já veem essa necessidade no empreendedorismo ou em funções de liderança, entre outras motivações.

Em 2021, o jornal EXTRA em parceria com a pesquisadora e coordenadora de População e Indicadores Sociais do IBGE, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, Cristiane Soares, mostraram um estudo sobre o perfil de sucesso dos profissionais. 

Como parâmetro, utilizaram a parcela da população brasileira com salário mensal igual ou superior a cinco mil reais, e o resultado é que apenas 2,6 milhões de mulheres recebem essa remuneração, contra 4,5 milhões de homens, mesmo que se apresentem mais qualificadas academicamente para determinadas funções, pois, desse grupo, 91,1% concluíram o nível superior, oposta a 73,9% dos indivíduos do sexo masculino. 

Um fato interessante é que aproximadamente 46% das mulheres com renda mais alta estão empregadas no setor público e 30,5% no privado, as demais estão como empregadoras ou autônomas. 

A pesquisadora destaca essa consideração entre setor público e privado, pois nesse segmento as desigualdades são reduzidas pelo ingresso via concurso público. E lembra ainda que muitas mulheres em entrevistas de emprego, logo são questionadas sobre a sua maternidade, pois as empresas consideram isso um obstáculo. 

Do lado das corporações privadas, as empresas já começam a analisar esse tema com mais cuidado, incentivando em seus valores e iniciativas a inclusão de mais mulheres em seu quadro de colaboradores, além da preocupação com a colocação delas em cargos de gestão. 

A PwC, em 2017, mostrou em estudo com quase cinco mil profissionais líderes, em 70 países, que 80% dos executivos afirmam que a equidade de gênero é pauta na estratégia de recrutamento de colaboradores, e que 78% das organizações já mapeam planos para atrair esses talentos femininos”.  

Virando o jogo

Como podemos perceber, a mudança social desse perfil de sucesso profissional mais evidente entre os homens, deve começar de maneira individual para ganhar voos mais coletivos. 

Claro que isso não é simples e tem raízes muito firmes em nosso histórico cultural e social, além de exigir um esforço grande que vai tomando dimensões diferentes a cada geração. 

“Apesar de tudo, organizar a carreira e a maternidade foi algo custoso, e eu não sei dizer se consegui fazer até agora. Mas todos nós, mulheres e homens, precisamos primeiro reconhecer que esse trabalho do cuidado com os filhos é de ambos. E nós mulheres, também precisamos abrir espaço para assumir isso.”, afirma Maíra.

“Em segundo lugar, devemos pontuar com nossos parceiros a importância da nossa carreira, independente do parâmetro de sucesso, e, por fim, romper com a violência na comunicação e tentar fazer isso sempre da melhor forma.”, finaliza.    

Nós, já não somos mais as mesmas. O mundo também não. E, mesmo que a mudança não seja exatamente percebida agora, nesse momento, as sementes de oportunidades de fazer diferente podem ser mudadas, e talvez não demore 33 anos. 

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