Fed e incertezas sobre China ameaçam liderança do real nos mercados globais de câmbio

Moeda brasileira tem se beneficiado dos fluxos de investimento estrangeiro após o início da guerra na Ucrânia.
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O rali de quase 19% da taxa de câmbio brasileira neste ano pode perder gás em breve, dizem analistas e autoridades do governo, conforme aumentos da taxa de juros nos Estados Unidos e riscos para a economia chinesa ameaçam os fundamentos da moeda de melhor desempenho entre as principais do mundo em 2022.

Para se ter ideia, o real ganha mais que o dobro do rand sul-africano (+9,1%), segundo colocado num ranking de 33 pares do dólar – entre divisas de mercados desenvolvidos e emergentes. A moeda doméstica tem se beneficiado depois de elevações agressivas dos juros pelo Banco Central atraírem fluxos de investimento estrangeiro que buscam distância da guerra na Ucrânia.

Embora a taxa Selic, atualmente em 11,75% ao ano, ainda possa oferecer um lucrativo resultado em operações de arbitragem com taxa de juros (estratégia conhecida como “carry trade”), as iminentes elevações de juros nos EUA por parte do Federal Reserve podem diminuir esse hiato rapidamente. Lockdowns agressivos na China para combater a Covid-19 também pesaram nos preços do minério de ferro, soja e petróleo que o Brasil exporta.

“Existem dois grandes riscos para o desempenho do real: o Fed elevar os juros mais do que o esperado e uma forte desaceleração na economia chinesa que poderia afetar os preços das commodities”, disse Alvaro Mollica, estrategista de mercados emergentes do Citigroup.

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Em nota de hoje (14), o Citi Economics sinalizou “uma moeda mais fraca à frente” para o Brasil e previu taxa de câmbio ao fim de 2022 em R$ 5,19 por dólar – desvalorização nominal de 9,5% em relação ao fechamento desta quinta-feira (R$ 4,6966 por dólar).

Mesmo no Ministério da Economia, que tem alardeado o salto no investimento estrangeiro e as vantagens de uma divisa mais forte para combater a inflação, algumas autoridades duvidam que a tendência de apreciação do real continue indefinidamente. O governo do presidente Jair Bolsonaro, que gerou enorme otimismo inicial entre investidores, tem um histórico misto de reformas e privatização de ativos estatais.

“Infelizmente, não vi nenhum fator estrutural. Tudo parece circunstancial”, disse uma autoridade que pediu anonimato para poder fazer uma avaliação franca do mercado. “O dólar caiu muito, até abaixo de onde algumas instituições veem seu equilíbrio… acho que há espaço para alguma reversão.”

A mesma autoridade destacou que a bolsa de valores brasileira, que atraiu quase R$ 67 bilhões líquidos em fluxos estrangeiros neste ano até dia 12 de abril, não parece mais tão barata em dólares ou reais após um aumento de quase 11% neste ano (em reais).

Outra fonte ministerial concordou que, além da taxa Selic, os principais impulsionadores da alta do real foram “externos” e estão sujeitos a mudanças.

Nem todos as autoridades são tão céticas, contudo.

O subsecretário de Política Macroeconômica do Ministério da Economia, Fausto Vieira, disse que a regulamentação favorável aos negócios está impulsionando investimentos em áreas como saneamento, em que os gastos de capital privado saltaram de R$ 3 bilhões para R$ 30 bilhões anualmente.

O Ministério projeta cerca de R$ 360 ​​bilhões em novos investimentos privados até 2025, o que ajudaria a atrair fluxos de capital estrangeiro de longo prazo, independentemente dos efeitos de mercado de curto prazo.

No entanto, isso pode depender das eleições deste ano. O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que lidera as pesquisas de intenção de voto, com Bolsonaro em segundo lugar, prometeu reverter grande parte da agenda econômica do atual presidente.

À medida que a disputa presidencial se acirra, analistas alertam que tanto Lula quanto Bolsonaro podem recorrer a uma retórica mais populista, o que aumenta a preocupação de investidores com a disciplina fiscal do país.

Por enquanto, os prêmios de risco do Brasil caíram, destacou o economista Jonathan Petersen, da Capital Economics, o que “pode ​​refletir preocupações reduzidas sobre sustentabilidade fiscal e riscos políticos”.

“Mas se nossa perspectiva de queda nos preços das commodities e de enfraquecimento do crescimento econômico se mostrar correta, essas preocupações podem ressurgir, especialmente antes da eleição”, disse ele em nota a clientes nesta quinta-feira, prevendo taxa de câmbio de R$ 5 por dólar até o fim do ano.

(Com Reuters)

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