DRs financeiras: como casais podem falar sobre dinheiro sem conflitos

Como tentar conciliar as diferentes visões em relação à parte financeira para não criar um ambiente de guerra em casa
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“Que seja eterno enquanto dure”. Muitos casais já incorporaram aos seus relacionamentos essa famosa frase – cunhada pelo poeta Vinícius de Moraes, em seu “Soneto de Fidelidade” -, para justificar a impermanência das relações. Mas, nem sempre o final, quando chega, é tão poético assim.

Um levantamento de 2018 do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) revelou que 57% dos divórcios realizados no Brasil na última década foram motivados por problemas financeiros. 

Se o tema “finanças” está entre as principais causas de términos das relações, o que fazer para que a vida a dois não vire um verdadeiro “cabo de guerra”?

A resposta pode estar no hábito de começar a falar sobre isso logo no começo. 

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“Aquelas pessoas mais rigorosas com suas finanças ou as mais sensíveis em questões financeiras, tendem a ter maiores problemas conjugais relacionados à gestão do dinheiro. Por isso, sempre é importante um bom alinhamento financeiro já no início do relacionamento”, aconselha o economista e especialista em finanças pessoais, Stephan Sawitzki.

Precisamos falar de finanças

Os casais se relacionam de forma completamente aleatória e distinta em relação à sua vida financeira. É por isso que é impossível generalizar um diagnóstico capaz de servir para todos os casos.

No entanto, para efeito de análise, podemos dividir os tipos de casais em quatro grupos, que são encontrados de forma mais comum, conforme sugere Sawitzki. São eles:

  1. Casais com uma boa parceria afetiva, mas uma péssima relação financeira; 
  2. Casais mais moderados, que conseguem ter uma boa sinergia financeira e compartilham objetivos e metas; 
  3. Casais que têm completo distanciamento financeiro, vivendo, basicamente, cada um por si; 
  4. Casais que se comportam “conforme o vento”, permeando entre os extremos.

Qual tipo de casal pode gerar sofrer mais com impactos financeiros?

Para o economista, os casais “vida louca”, que vivem o momento sem se preocupar com o amanhã, são mais suscetíveis a terem problemas financeiros, do que os casais disciplinados, que levam o controle de receitas, despesas e economias ao pé da letra.

No entanto, vale destacar, que os casais mais cuidadosos, não necessariamente, terão felicidade garantida, embora a longo prazo, a falta de controle possa levar a desequilíbrios financeiros. E isso, sem dúvidas, trará problemas para o casal.

“Gosto da ideia de uma relação moderna, onde a transparência financeira seja a ótica do relacionamento. Cada parte decide suas responsabilidades e obrigações, de acordo com a capacidade financeira de cada um, objetivando alcançar as aspirações do casal. Acredito ser essa a forma mais duradoura e saudável de manutenção da saúde do relacionamento”, reforça o especialista em finanças.

Dinheiro do casal: junto ou separado? 

Em um mundo moderno em que ambos são geradores de renda, dividir as contas é cada vez mais necessário. E mais que isso, proporciona uma sinergia maior, um senso de pertencimento do “nós” e não do “eu e você”. 

Ao dividir as contas, o casal fica mais por dentro do que está, de fato, acontecendo e pode acertar a medida dos gastos, promovendo os eventuais ajustes que devem ser feitos. 

Estar atento a essas questões evita cobranças desnecessárias que, aos poucos, podem, inclusive, atrapalhar a relação. Mas, qual a melhor medida para isso?

“Pode-se cogitar ter uma conta conjunta para as despesas do mês, ou simplesmente dividir as contas e fazer um balanço final. Ou, ainda, distribuir as responsabilidades financeiras entre cada um. A melhor maneira deve ir ao encontro do que, na prática, tende a dar mais certo”, explica Stephan Sawitzki.

Respeitar o perfil de cada um

Aqui, vale lançar mão de algumas “brincadeiras”. Por exemplo, se alguém tende a extrapolar, ou dar menos atenção ao consumo de energia, pode-se deixar essa pessoa responsável pelo pagamento da conta de luz. 

A ideia é que a medida soe de forma didática, já que boa parte das pessoas, ao se depararem com uma conta alta, passarão a dar mais atenção a isso.

Além disso, é muito importante levar em consideração a capacidade financeira de cada uma das partes. 

“Muitas vezes, uma pessoa tem uma renda muito superior a outra e, nesse caso, o ideal seria ter um mecanismo de proporcionalidade, capaz de trazer justiça à divisão. Por fim, os desejos individuais, não compactuados entre o casal, são a parte da individualidade financeira”, ressalta o especialista em finanças.

Conta conjunta: vale a pena?

A verdade é que uma conta conjunta só funcionará se o princípio pela qual foi constituída seja respeitado, alerta Sawitzki.

“Ela deve ser usada apenas para seu fim original e é necessário disciplina para que as entradas e saídas sejam, de fato, aquelas que foram combinadas pelos dois. Quando ela é usada para objetivos conjuntos, acho muito válido e indico a experiência”, complementa. 

Combinado que não sai caro

Agir de forma transparente e estabelecer regras de conduta, que sejam discutidas e aceitas pelos dois, é a melhor forma dos casais lidarem com as finanças. Nada deve ser imposto ou escondido, pois isso tende a gerar desgaste na relação.

Estabelecer com antecedência a forma como as finanças serão conduzidas e fazer ajustes periódicos de acordo com as necessidades e expectativas é considerado pelos especialistas como saudável.

“Exemplo é estabelecer o que é de responsabilidade do casal e o que é responsabilidade individual. As contas comuns da casa, são responsabilidade do casal, desejos consumistas passionais, são responsabilidade individual de cada um”, distingue.

Para o economista, não misturar as coisas mantém a harmonia nos trilhos e evita cobranças desnecessárias. “Mas, ao perceber que uma das partes está perdendo o controle financeiro por impulsos consumistas, a outra parte tem a responsabilidade de tentar ajudar”, observa.

Os “inegociáveis” de cada um: como não criar um ambiente de guerra em casa?

Já quando as visões são completamente diferentes, é importante tentar chegar a um denominador comum, onde cada lado pode ceder um pouco, mas sem abrir mão totalmente de sua essência, já que isso seria muito doloroso a longo prazo.

“Mesmo pessoas com pensamentos divergentes, podem ter objetivos em comum. Nesse caso, a saída é focar nesses objetivos e compartilhar uma forma de alcançá-los”. 

Assim, com o tempo, novos passos em torno de uma cumplicidade financeira maior podem ser dados com calma.

“Não é tarefa fácil, pois pessoas que agem de forma muito diferente com as finanças vão enfrentar desafios, cobranças, desavenças. Por isso, sempre é importante um bom diálogo sem que um queira se impor em relação ao outro. Com pequenas concessões de cada lado, feitas através de uma boa conversa, pode ajudar muito”, aconselha o economista.

Guerra e paz entre os casais

Uma pesquisa sobre orçamento familiar feita pelo SPC Brasil e pela CNDL (Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas) em parceria com o Banco Central mostrou que a principal causa de discussão entre casais no que diz respeito a dinheiro recai sobre o hábito de gastar mais do que ganha, indicada por 38% dos entrevistados.

Outra questão comum identificada no estudo foi o hábito do parceiro não conseguir juntar dinheiro, apontado por 27% dos entrevistados. Já o atraso no pagamento das contas foi mencionado por 25% deles.

Então, se o assunto “finanças” pode ser espinhoso, o jeito é tratá-lo com normalidade, desfazendo tabus. O primeiro passo é conhecer o tamanho do orçamento do casal. 

Fidelidade financeira 

Nesse sentido, tem gente que não vê problemas em expor seus ganhos, já outros preferem não entrar nesse âmbito. Para que isso não vire motivo de discussão, a melhor saída é abrir o jogo em nome da fidelidade financeira. Nem que os valores sejam revelados de forma aproximada.  

“Não vejo problemas em saber o quanto o outro ganha, mas existem pessoas que não se sentem confortáveis com isso. Lembrando que gerar desconfiança em uma questão tão simples como essa não ajuda no sucesso do relacionamento”, comenta Stephan.

Além disso, conhecer a renda de cada um, nem que seja de forma aproximada, facilita na proporcionalidade para divisão das contas, deixando a relação financeira muito mais justa e amigável.

“Estamos falando de casais que compartilham objetivos e que realmente pensam em crescer juntos. Casais que, por definição e acordo prévio, concordaram que será cada um por si, isso não faria sentido”, aponta.

Parceria para criar um patrimônio sólido

Não tem jeito. O caminho para construir um patrimônio sólido e conjunto é buscar, de fato, construir coisas juntos. E, para isso, as palavras-chave devem ser “disciplina e parceria”.

“Deve-se ter objetivos alinhados e a disciplina mútua para alcançar esses objetivos. Quando temos um norte traçado em conjunto, onde cada peça esteja determinada a alcançar tal norte, essa construção se torna rotineira e mútua”, explica. 

Livros para ler a dois

Alguns livros famosos que trazem à tona a relação dos casais e as finanças são o best seller, “Casais inteligentes enriquecem juntos” – que inspirou o filme “Até que a Sorte nos Separe” e “Os segredos dos casais inteligentes”, ambos do consultor financeiro Gustavo Cerbasi. 

Em ambos, o autor aconselha os casais a unirem sua renda, seu patrimônio e suas contas bancárias, para, juntos, alcançarem os sonhos do casal. Mas sem, necessariamente, passar por cima dos sonhos individuais de cada um.

A decisão financeira mais inteligente de um casal

Os casais considerados como inteligentes no que tange as finanças são aqueles que estabelecem objetivos claros, precificam esses objetivos e discutem como cada um pode ajudar para alcançá-los. 

Resumindo: quando há parâmetros claros e concretos, a busca se torna muito mais palpável e significativa.

“Quando o casal está alinhado em questões como: ‘o que queremos?’, ‘como conquistaremos?’, ‘qual o papel de cada um na conquista?’, ‘que sacrifícios serão necessários?’, as decisões inteligentes acontecerão de forma mais simples”, destaca o economista.

Por fim, para neutralizar qualquer eventual clima de guerra entre os casais, vem a pergunta mais importante de todas a ser respondida em conjunto: “estamos juntos nessa?”.

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