Imortal: relembre 8 momentos marcantes da trajetória de Fernanda Montenegro, nova integrante da ABL

Aos 92 anos, a atriz concorreu sem oponentes à cadeira de número 17, integrando a seleta lista de mulheres na história da instituição
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Leo Martins/Globo
Após a aprovação, Fernanda entrará para um grupo muito especial de mulheres que já ocuparam cadeiras na ABL (Foto: Leo Martins/Globo)

Nascida em 1929, Arlette Pinheiro Esteves recebeu um pedido inusitado quando iniciou sua trajetória na antiga TV Tupi: que tivesse um nome mais forte. Arlette, para a época, era considerado um nome comum demais, então a jovem decidiu que seu nome artístico seria Fernanda Montenegro. Chamativa e potente, a escolha representou o batismo de sua vida como atriz. 

Fernanda é a única brasileira indicada ao Oscar em categoria de atuação, a primeira a ganhar um prêmio Emmy como melhor atriz e uma das artistas mais prolíficas do país, com mais de 80 filmes, novelas e minisséries – sem levar em conta as incontáveis peças de teatro das quais participou. Agora, aos 92 anos, ela conquista uma nova posição ao integrar o seleto grupo de mulheres imortais da Academia Brasileiras de Letras (ABL). 

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Em outubro, quando a lista de concorrentes pela cadeira de número 17 – deixada após a morte do diplomata Affonso Arinos de Mello Franco – veio à tona, não foi difícil perceber que apenas Fernanda Montenegro estava indicada para a posição. A falta de concorrentes foi interpretada como uma homenagem e reflete o prestígio da dama do teatro no Brasil. A confirmação está prevista para hoje (4), data marcada para a eleição interna da academia. 

Após a aprovação, Fernanda entrará para um grupo muito especial de mulheres que já ocuparam cadeiras na ABL, como Rachel de Queiroz, Dinah Silveira de Queiroz, Lygia Fagundes Telles, Nélida Piñon, Ana Maria Machado, Cleonice Berardinelli e Rosiska Darcy de Oliveira. Rachel de Queiroz, em específico, foi a primeira delas, eleita em 4 de novembro de 1977. Em seu discurso, a escritora declarou: “Não entrei para a ABL por ser mulher. Entrei porque, independentemente disso, tenho uma obra”.

Inspirada pela fala de Rachel, a Elas Que Lucrem fez uma lista com algumas obras memoráveis de Fernanda Montenegro em mais de cinco décadas de carreira. Veja, abaixo, quais são elas:

“Central do Brasil” (1998)

(Foto: Divulgação)

É impossível falar da atriz sem mencionar a obra que a levou até a cerimônia do Oscar. Lançado em 1998 e dirigido por Walter Salles, o longa ambientado no Brasil gira em torno de Dora, interpretada por Fernanda, uma professora aposentada que trabalha como escritora de cartas para pessoas analfabetas na Estação Central do Brasil. No entanto, ela nunca coloca as mensagens no correio, apenas embolsando o dinheiro para si. Um dia, Josué, o filho de nove anos de uma de suas clientes, fica sozinho após a morte da mãe em um acidente de ônibus. Como o único contato próximo do menino, Dora reluta, mas se junta a ele em uma viagem pelo interior do Nordeste em busca do pai do garoto. 

“Central do Brasil” recebeu aclamação por parte da crítica mundial especializada, que elogiou a direção, o roteiro, as atuações e a trilha sonora. O resultado, para Fernanda, veio em forma de indicação ao Oscar na categoria de Melhor Atriz, tornando-a a primeira latino-americana, a única brasileira e também a única atriz já indicada ao prêmio por uma atuação em língua portuguesa. A estatueta do ano, no entanto, foi entregue nas mãos da atriz norte-americana Gwyneth Paltrow, pelo filme “Shakespeare Apaixonado” – decisão que tira o sono dos amantes do cinema nacional até hoje. 

“Doce de Mãe”(2013)

(Foto: Divulgação)

Em termos de premiações justas, “Doce de Mãe” é a obra que acalma o coração dos fãs de Fernanda Montenegro. Interpretando Dona Picucha, uma animada senhora de 85 anos, a atriz brasileira ganhou o Emmy Internacional de Melhor Atriz em 2013. Em comemoração, o filme virou série e, em 2014, ganhou o Emmy Internacional de Melhor Comédia. A história, escrita e dirigida por Jorge Furtado e Ana Luiza Azevedo, fala sobre a reviravolta na vida de Dona Picucha quando sua empregada e amiga Zaida (Mirna Spritzer) decide se casar e mudar de cidade. Por mais de 27 anos, Zaida foi a companhia diária da idosa, o que faz com que seus filhos se perguntem quem vai cuidar da mãe a partir de então. De roteiro simples, mas cativante, a obra e sua protagonista conquistaram os holofotes nacionais e internacionais. 

“Eles Não Usam Black-Tie”(1981)

(Foto: Divulgação)

Embora “Central do Brasil” e “Amor de Mãe” tenham um espaço especial na lista por terem conquistado a mídia e os telespectadores, o primeiro reconhecimento internacional de Fernanda Montenegro foi em 1981, com o longa “Eles Não Usam Black-Tie”, dirigido por Leon Hirszman e inspirado na peça homônima de Gianfrancesco Guarnieri. Reconhecida em diversos eventos internacionais, inclusive no Festival de Veneza, onde ganhou o Leão de Ouro, a obra acompanha um movimento grevista e suas consequências na vida de uma família com opiniões distintas e contrárias.

“Baila Comigo” (1981)

(Foto: Divulgação)

Em 1981, além de estrear em seu primeiro filme reconhecido internacionalmente, Fernanda Montenegro fez sua primeira novela na TV Globo – onde mantém contrato até hoje. Com a obra “Baila Comigo”, escrita por Manoel Carlos, ela abriu as portas para as mais de 20 novelas das quais já participou na emissora. Embora essa atuação esteja em destaque por ter sido uma estreia, alguns de seus papéis desde então fazem parte do repertório mais icônico da teledramaturgia brasileira, como a Charlô de “Guerra dos Sexos” (1983) ou a vilã Bia Falcão de “Belíssima” (2005). A presença da atriz na televisão aberta fez com que sua imagem ficasse ainda mais presente no imaginário da população, visto que as novelas são extremamente populares. 

“O Auto da Compadecida” (2000)

(Foto: Divulgação)

“O rosto de Fernanda agora vai se juntar, na minha memória, ao de Socorro Raposo, a primeira atriz a interpretar o papel [de Nossa Senhora]”, disse Ariano Suassuna, autor da peça teatral “O Auto da Compadecida”, ao assistir Fernanda Montenegro atuando na adaptação cinematográfica lançada em 2000. Para o escritor, falecido em 2014, a atriz foi um dos grandes destaques da obra, que é um dos marcos do cinema nacional. A comédia mostra as aventuras de João Grilo (Matheus Nachtergaele) e Chicó (Selton Mello), dois nordestinos que vivem de golpes para sobreviver. Tudo muda com a aparição de Nossa Senhora (Fernanda Montenegro) na vida dos amigos. Em 2015, o filme foi eleito pela Associação Brasileira de Críticos de Cinema (Abraccine) como um dos 100 melhores filmes brasileiros de todos os tempos.

“Casa de Areia” (2005)

(Foto: Divulgação)

Em 2005, Fernanda contracenou com a filha, Fernanda Torres, no filme “Casa de Areia”, de Andrucha Waddington. Mais do que uma conquista profissional, a obra foi um marco em função do amor pelo teatro que mãe e filha compartilham. No longa, a trama gira em torno de uma mulher (Fernanda Torres) que é levada por seu marido, junto à mãe dela (Fernanda Montenegro), para um deserto distante. Com a morte do homem, as duas são forçadas a passar os próximos anos tentando escapar do local. O filme ganhou prestígio internacional e chegou a  ser premiado no Festival Sundance de Cinema. 

“Prólogo, Ato, Epílogo”(2019)

(Foto: Divulgação)

Na literatura, Fernanda lançou, em 2019, a autobiografia “Prólogo, Ato, Epílogo”, que foi escrita em parceria com a jornalista Marta Góes. No livro, trata suas memórias com um equilíbrio entre vida profissional e pessoal. Embora fale sobre suas primeiras novelas e filmes, também discorre sobre o casamento com Fernando Torres e sua relação com a maternidade, com os netos e com a velhice. Na época, a obra ficou no ranking dos livros mais vendidos do país da “Veja”, chegando algumas vezes ao primeiro lugar na categoria “não ficção”. Uma obra diferente para quem deseja conhecer a essência de Arlette na vida artística de Fernanda. 

“O Beijo no Asfalto” (1961)

(Foto: Divulgação)

Nos anos 1950, quando Fernanda Montenegro já havia atuado em peças famosas de autores renomados como Shakespeare e Dostoiévski – e também conhecido seu marido, Fernando Torres, na peça “Alegres Canções nas Montanhas” -, a atriz entrou em uma companhia chamada Teatro dos Sete, que curiosamente contava apenas com cinco pessoas na equipe: Fernanda, seu marido, Sérgio Britto, Ítalo Rossi e Gianni Ratto. Juntos, eles produziram diversas peças e conseguiram um repertório exclusivo do autor Nelson Rodrigues, que escreveu “O Beijo no Asfalto” a pedido do grupo. Em 1961, a peça nasceu e se tornou um dos maiores clássicos da dramaturgia brasileira. Desde então, a história já foi adaptada mais de uma vez para o cinema. Até a norte-americana Viola Davis se interessou pela obra e está produzindo adaptações inéditas para as telonas e para a Broadway.

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