Conheça a catarinense que está desbravando o mercado de superiates na Europa

Patrícia Davet é fundadora da Lord Howe Yachting & Ocean, empresa que representa, internacionalmente, brasileiros proprietários de embarcações de luxo
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Para Patrícia Davet, esse é o momento perfeito para investir no mercado náutico (Foto: Divulgação)

Após os almoços de domingo, quando os familiares de Patrícia Davet deitavam para repor as energias do dia quente de verão, a menina, de apenas oito anos, pegava a cadeira de praia e o guarda-sol e ia, sozinha, aproveitar a faixa litorânea de Balneário Camboriú, em Santa Catarina. “Não era tão perigoso na época. Eu simplesmente ia e ficava observando o mar”, recorda. Apaixonada pela cor e pelo movimento do oceano, ela não entendia como a mãe podia ter tanto medo de água. Para ela, o ambiente transmitia apenas paz. 

Quase como um amor de verão – passageiro -, Patrícia perdeu um pouco o fascínio pelo mar durante a adolescência. Foi apenas durante a faculdade de design de produtos, ao escolher o tema para o TCC, que a paixão ressurgiu timidamente. “Tive um professor que desenhava para a Catarina Yachts, e ele foi o meu maior incentivador para que eu participasse de um projeto no meio náutico. Foi a partir de conversas com ele que eu decidi fazer o protótipo de uma lancha de 55 pés como trabalho de conclusão de curso.” Durante o processo, a catarinense mergulhou em questões técnicas do mercado e abriu portas importantes para ingressar na área após a formação. 

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Em 2010, quando começou a trabalhar no Astondoa Yachts, estaleiro espanhol que tinha acabado de chegar ao Brasil, Patrícia viu a paixão de infância voltar com força. Mas, na época, ela se manifestou em forma de iates e lanchas de luxo. “Eu sou apegada a detalhes, e o luxo está nos detalhes. Era o trabalho perfeito para mim”, conta ela, que ficou no emprego dos sonhos por quatro anos, até o fim das operações da companhia no Brasil. “Eu fiquei até o final: apaguei a luz e fechei a porta. Foi muito frustrante.” Acostumada com a dinâmica da empresa, não foi fácil se realocar no mercado. Embora fosse chamada para muitas entrevistas, nenhuma oportunidade a animava o suficiente.

Naquele período, Patrícia se afastou pela segunda vez do setor e passou a focar em um MBA na área de gestão de projetos. De certa forma, foi um período de experiências e aprendizados. Ela se permitiu até mudar de país e explorar outros caminhos profissionais, como construção civil e gestão de e-commerce. “Fora do Brasil, no entanto, minha mente e meu coração ficaram ainda mais conectados aos barcos. Aproveitei o aquecimento do mercado no exterior para frequentar eventos e fazer contatos. Conheci toda a costa australiana e visitei países como Dubai, para acompanhar os famosos boat shows. Levava como um hobbie, mas foi algo essencial para o meu crescimento no setor.” 

Enquanto preenchia seus finais de semanas com passeios náuticos, Patrícia pensava em como voltar a trabalhar na área. Mas, já naquela época, tinha uma certeza em mente: não queria ser funcionária. Almejava fundar sua própria empresa. “Todos os meus amigos e familiares me ouviam dizer que eu voltaria para o setor, até que meu marido recebeu uma proposta de emprego em Luxemburgo e nós mudamos de país novamente.” Predominantemente rural, com uma população atual de 647 mil habitantes, a pequena nação europeia não é a melhor opção de moradia para quem sonha trabalhar com os oceanos. “O máximo que tem de água aqui é um rio perto de casa”, brinca a catarinense. 

Ironicamente, foi em Luxemburgo que ela tomou a coragem necessária para fundar sua empresa. “Para a minha surpresa, mesmo longe do mar, o país tem um mercado marítimo dedicado à gestão de iates”, explica. “Não precisamos de água para resolver burocracias e papeladas.” A descoberta fez com que, em 2019, Patrícia decidisse fundar a Lord Howe Yachting & Ocean, uma empresa que representa brasileiros proprietários de superiates internacionalmente. De forma simplificada, seu trabalho é tornar as embarcações aptas para navegarem.

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(Foto: Divulgação)

“Somos o principal ponto de contato entre proprietários e capitães. Nosso principal objetivo é garantir que o proprietário esteja livre de preocupacoes relacionadas a segurança, tripulação, manutenção, seguro, auditorias, classe, regulamento de bandeira e demais tarefas que são geridas nos bastidores diariamente. Por trás de um iate flutuando, tem muito trabalho. Não basta apenas colocar combustível e sair por ai”, destaca. Hoje, Patrícia oferece esse serviço apenas para brasileiros com embarcações no exterior. No entanto, antes de montar a empresa, ela começou a trabalhar como yatch manager na Luxembourg Marine Services – um Gestor Marítimo Credenciado pelo Ministério da Economia do país. Sendo assim, sua jornada dupla propicia um compartilhamento de know-how e experiência entre as duas companhias. Boa parte da sua equipe na Lord Howe Yachting & Ocean, por exemplo, também trabalha na Luxembourg Marine Services. A diferença é apenas o foco da clientela. 

Patrícia não espera conquistar o mercado europeu com a sua empresa. Seu foco é chamar a atenção dos brasileiros e, em 2022, expandir sua atuação para o mercado nacional. “No Brasil, esse mercado não é comum, mas é um ecossistema em crescimento. Em janeiro, volto para Santa Catarina para passar as férias e começar a prestar esse serviço. Vai ser ótimo, já que a temporada na Europa começa apenas em maio, com o início da Fórmula 1”, explica. “Além disso, quero fazer parte da construção dessa cultura de serviço de gestão de iates no meu país.” 

O MERCADO NÁUTICO NO BRASIL

Nos Estados Unidos e na Europa, a gestão de iates existe há cerca de 40 anos. “No Brasil, ainda estamos caminhando para a maturidade, mas ela vai chegar”, diz Patrícia. Os últimos dados sobre o mercado nacional comprovam a previsão da empresária. De acordo com a Associação Brasileira de Construtores de Barcos e Implementos (Acobar), o setor náutico deve fechar o ano de 2021 com um faturamento de cerca de R$ 840 milhões. O montante representa alta de 10,3% em relação a 2020, quando movimentou R$ 761 milhões e cresceu 20% frente a 2019. 

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Desde o início da pandemia de Covid-19, quando as pessoas começaram a fazer home office e se isolar das movimentadas capitais, a busca por embarcações têm crescido entre a classe alta da população. “Observamos um número gigantesco de venda de barcos na pandemia, e isso não é uma tendência passageira. Um dos efeitos da crise sanitária foi a concentração de renda nas camadas mais ricas e, por isso, o mercado de luxo ficou mais aquecido. Nos próximos anos, teremos ainda mais milionários, então precisamos nos preparar para atender esse público”, explica. O crescimento dos últimos dois anos já levou o Brasil a 9ª posição no ranking global dos 20 principais países construtores de superiates, segundo o Boat International Media. É o único país a representar a América do Sul na lista. 

Para Patrícia, agora é o momento perfeito para investir no negócio. Aos poucos, os novos donos de iate vão começar a lidar com as burocracias de uma embarcação ativa e vão precisar da ajuda de uma gestão especializada – e é aí que a Lord Howe Yachting & Ocean  entra. No mercado europeu, a empresária já começou a se preparar para uma alta na  demanda de 2022, provocada pela Copa do Mundo no Catar. “Logo depois da Fórmula 1, em Mônaco, os barcos vão começar a se preparar para ir ao país árabe. Temos que organizar questões como locação de ancoragem e regulamentação internacional. Vai ser uma procura muito grande.” 

Ao explicar um pouco mais o cenário internacional, Patrícia diz que quem dita a temporada náutica é justamente o Principado de Mônaco, começando com a F1, em maio, e terminando com o Mônaco Boat Show, em outubro. Já no final do ano, no inverno europeu, as únicas demandas são daqueles que querem viajar para o Caribe – o que também exige um trabalho cuidadoso para que não haja imprevistos no meio do oceano. 

Embora a empresária não esteja mais observando o mar de uma cadeira de praia em Balneário Camboriú, sua ligação com ele é muito mais forte hoje do que quando era criança – apesar da distância física imposta por Luxemburgo. Seus esforços atuais são completamente focados no mercado náutico. E, quando não está pensando em trabalho, a brasileira planeja sua aposentadoria dos sonhos: “Quando parar, pretendo comprar um barco e viajar por aí.”

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