StartUp traz soluções para lixo nas empresas e muda vida de pessoas

Muito além de um saco de descartes, Ana Arsky, CEO da 4H, explica porque olhar para o lixo é olharmos para nós mesmos.
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“Olhar para seu lixo é um processo de autoconhecimento. Quando você olha para seu lixo, você olha para si mesma”. Foi assim que Ana Arsky, arquiteta, cofundadora e CEO da 4 Hábitos para Mudar o Mundo descreveu a importância de se olhar cada vez mais para o nosso descarte.

Se você é como eu, provavelmente nunca tinha pensado nessa relação. A verdade é que ter um cuidado a mais com o próprio lixo vai muito além de pensar no planeta e no nosso próprio futuro, mas se configura também em um olhar para dentro de nós mesmos. Afinal, ali está um retrato de (quase) todos nossos hábitos. Se estivermos com uma alimentação saudável e balanceada, é ali que vamos ver algumas cascas de frutas e verduras. Quando estamos em uma semana mais corrida, em que os salgadinhos e doces se transformam em fiéis escudeiros, é ali que estarão as embalagens. O mesmo serve para outras questões: produtos de beleza, restos de comida, bebidas, papéis… Tudo vai parar no lixo. E olhar para ele é um processo de autoconhecimento.

Processo que, aliás, Ana considera não só importante como essencial, dentro e fora da sua empresa. Hoje, por exemplo, o processo seletivo de todo colaborador que entra na 4H começa com um curso de autoconhecimento, antes mesmo da entrevista. “A gente já entrega valor antes mesmo da pessoa entrar. Porque independente se ele começar a trabalhar conosco ou não, já agregou esse conhecimento, que pode o levar a se tornar uma pessoa melhor”, pontua.

A StartUp, aliás, foca muito nos profissionais que ali trabalham, se organizando em um ambiente completamente home office, com horários flexíveis para atender melhor às demandas pessoais de cada um ali que produz lá dentro.

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Mas, afinal, o que é a 4H? Não foi à toa que começamos tudo falando sobre lixo. A empresa b2b trabalha trazendo soluções para grandes corporações a fim de trazer o máximo de reaproveitamento dos resíduos.

Em linhas gerais, as empresas que os contratam contam com um serviço personalizado, que ajuda a encontrar a melhor forma de lidar com cada tipo de resíduo produzido.

“A gente olha para cada região. Vê quais funções têm naquele lugar, os atores que estão lá, quais são os recicladores que tem ali, quais são as cooperativas que tem por lá. E aí o que não tem, nós trazemos soluções. Pegamos exemplos que deram certo em outras empresas, outros ambientes e vamos fazendo essas conexões. Então a gente se transformou em um ecossistema de catalisador de soluções país afora”, explica a CEO.

Ou seja: eles fazem um estudo e olham com atenção para todo tipo de lixo produzido naquela empresa e a melhor forma de “acabar” com ele: reciclando o que dá para reciclar, usando composteiras para cuidar dos orgânicos, produzindo hortas para reaproveitar esse material como adubo. Tudo pensado para transformar a forma dessa empresa olhar para o lixo e reaproveitá-lo.

E, claro, além de um olhar para o meio ambiente, essa solução acaba trazendo também certas economias, já que, por exemplo, os materiais recicláveis são vendidos para cooperativas e garante que a empresa terá um descarte regularizado e sem problemas com as leis relacionadas ao assunto.

Olhando para as pessoas

O valor agregado também vem para os funcionários, que aprendem com palestras dadas pela 4H nas empresas e acabam mudando os próprios hábitos. Para olhar mais para as pessoas, aliás, a StartUp conta até mesmo com certificados, selos e premiações para os funcionários. Tudo para incentivar essa mudança de hábito dentro e fora do ambiente corporativo.

E esse olhar tem dado certo. Ana Arsky hoje coleciona algumas histórias que vivenciou dentro dos anos no mercado de trabalho. Para ela, a mais tocante foi uma que aconteceu com seu primeiro cliente, uma empresa de ônibus.

Na ocasião, ela descobriu, junto com a empresa, que a maior quantidade de lixo produzido ali vinha do descarte das pessoas dentro dos transportes. Isso mesmo: o maior volume de resíduos eram aqueles que as pessoas deixavam para trás ao sair no seu ponto, seja de propósito ou sem querer.

Enquanto trabalhava lá, aprendeu muito. No primeiro mês todos já viram a diferença. Em 28 dias, a empresa alcançou um desvio de lixo de 93%. Os funcionários também sentiram a diferença.

“Para mim tem um relato que é o mais incrível de todos. Eu estava visitando uma das garagens de ônibus e aí o lavador que cuidava da horta ali me mostrou um pé de pimenta. Na hora falei ‘nossa, que bonito’. Aí ele me contou que um motorista tinha achado dentro do ônibus e dado para ele. Fiquei logo impressionada né? Como assim esqueceram um pé de pimenta dentro do ônibus? Daí ele me falou que não, que o motorista tinha achado a pimenta. Ele viu a pimenta que alguém deixou cair no chão, pegou e levou para o colega plantar. Esse ato é simples, mas vemos a mudança. Um impacto social que não é monitorado”, relembra.

Início de um sonho, deu tudo certo

Olhar hoje para a 4 Hábitos para Mudar o Mundo (Separar, Reduzir, Recuperar e Multiplicar) é ver uma empresa nacional com 14 funcionários que trabalha com grandes corporações em todas as regiões do país. Mas nem sempre foi assim, como tudo, a empresa também começou do zero.

O início do sonho veio com uma pós-graduação de arquitetura urbana sustentável em resíduos que Ana fez. Na época, em 2008, a política nacional de resíduos ainda estava em discussão no Congresso. A estudante entusiasmada com o tema logo quis começar a pesquisar mais, aprender mais e por em prática. Mas como tudo estava ainda muito no início, ela logo foi desencorajada.

O sonho, no entanto, não saiu da mente. A partir da inquietação, a arquiteta começou a monitorar de perto as novidades relacionadas ao tema. Foi então que, olhando para fora do país, viu que italianos e espanhóis estavam conseguindo, em alguns municípios, converter 60% dos resíduos em dois meses. Aí veio a coragem: ‘se eles estão conseguindo, eu também posso!’.

A primeira ideia era trabalhar com escolas. Ana ficou 4 meses em imersão em escolas públicas para entender o processo de descarte antes de abrir o negócio. Mas ali, percebeu que seria um produto que ficaria muito caro e traria pouco retorno. “Teria muita dificuldade em monetizar e manter o negócio em pé. Então quebrei em pedacinhos o que aprendi e mudei meu foco para empresas privadas”.

Para começar a empreender, ela contratou um mentor. Na época, lembra que dividiu as aulas em várias parcelas de R$ 75,00, para fazer a inovação caber no bolso. Com um simples desafio do mentor, em pouco tempo, Ana conquistou o primeiro cliente, a empresa de ônibus. E a partir daí foi só crescimento. Claro que sempre acompanhado de muito estudo e tato.

Planos para o amanhã

Como boa parte das StartUps, a 4H queima caixa. O dinheiro extra que entra hoje normalmente é usado para investir na própria empresa e em inovações para melhorar os serviços. Recentemente, eles conseguiram um investimento que ajudou a dar um gás que precisavam para instalar novas tecnologias. Mas, para Ana, vai ser questão de tempo, afinal, quando essas novidades estiverem rodando, logo vão olhar para as próximas e assim segue o ciclo.

Os planos para o futuro são muitos. “Estamos com uma perspectiva de crescimento bem agressiva para o ano que vem. Estamos começando a analisar outros mercados para ver como podemos colaborar, porque no momento em que nos conectamos como um ecossistemas, passamos a ter muitos parceiros. Então temos essa possibilidade de crescer a abrangência de soluções sem precisar crescer muito o time”, aponta.

E a longo prazo, essa meta aumenta ainda mais. “Nossa meta mega agressiva é para 2030, em que queremos alcançar um patamar de zero aterros no Brasil com nossas soluções”, completa.

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