Empresas precisam cuidar da saúde física e mental das mulheres

Síndrome de esgotamento profissional atinge mais as trabalhadoras; sobrecarga no trabalho e em casa são motivos
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A ex-bancária Mariela de Paula precisou deixar o emprego por recomendação médica. Ela estava com estafa mental e emocional, síndrome do pânico e com crises recorrentes de ansiedade e depressão. Mesmo medicada, ela não conseguia controlar os sintomas e, durante uma terapia e com o apoio de sua psiquiatra, resolveu mudar de vida.

“Era o emprego ou minha saúde, optei pela segunda”, conta a ex-bancária. Com o dinheiro da rescisão ela abriu uma franquia, ganha menos, mas se sente realizada. “Há um ano não tomo mais os antidepressivos”, comemora. “Hoje consigo trabalhar em horários mais flexíveis e estar mais presente com meus filhos. Não consigo contar quantas apresentações de escola eu perdi ao longo da minha carreira no banco”, diz.

De acordo com uma análise da empresa de consultoria Great Place to Work, mães com empregos remunerados têm 23% mais chances de sofrer de burnout que pais empregados devido às demandas desiguais da casa e do trabalho.

Segundo o psicanalista Igor Capelatto, todo ambiente em que haja relações sociais demandam cuidado físico e emocional. “As empresas devem cuidar da saúde física oferecendo condições de cuidado aos seus funcionários”, explica. Cuidar do emocional é ainda mais importante, visto que reações ou sintomas relacionados aos sentimentos não têm hora para acontecer, afinal, as cobranças e pressões trabalhistas e angústias relacionadas ao trabalho chegam junto com o trabalhador e os sintomas estão pulsantes. Se não forem descarregados, o trabalhador não vai dar conta de sua função no trabalho”, completa.

Mariela sabe bem o que é isso. “Chegou um dia que eu não consegui entrar na agência. Travei na porta, me sentei no chão como uma criança e não consegui entrar. Foi aí que percebi que precisava fazer uma escolha”, conta.

O psicanalista avalia que o cuidado com as mulheres é ainda mais importante, tanto física como emocionalmente, já que as pressões sociais são geralmente maiores para esse público. “Mulheres têm um ciclo hormonal que precisa ser respeitado. No caso de mulheres que voltaram da licença maternidade e estão amamentando seus bebês precisam de uma compreensão ainda maior, pois acabam se desdobrando para atenderem às demandas dos recém-nascidos”, reflete.

Cuidados com a saúde física e mental durante expediente

Como muitas pessoas acabam passando horas de deslocamento entre a casa e o trabalho, Igor diz que as empresas deveriam ofertar cuidado com saúde física e mental durante o expediente. “Isso impacta na qualidade de vida dos empregados e, consequentemente, da empresa”.

É importante mostrar que a empresa não está lá apenas para pagar salário, cobrar demanda, mas também para ofertar cuidado, acolhimento, criar vínculos. De acordo com o profissional, é ideal:

  • Ofertar um ambiente com diálogo, acolhedor, onde os diretores e funcionários sentem juntos para tomar um café, almoçar, conversar.
  • Ofertar palestras com profissionais da medicina integrativa da psicologia, da psicanálise e vivências.
  • Ofertar eventos em finais de semana ou datas específicas em que possam levar as famílias em atividades interativas, jogos, atividades físicas, e atividades que cuidam da saúde emocional, como rodas de conversas, jogos que lidam com emoções.
  • No dia-a-dia do trabalho, também ofertar o espaço do acolhimento.

Como acolher mulheres com problemas

A situação no trabalho de Mariela impactou profundamente em suas relações pessoais e familiares. Ela precisou do apoio do marido, que passou a ser o único provedor financeiro da casa, e dos filhos, para que pudesse sair da depressão.

“Acolher mulheres em situações problemáticas, é fundamental. O índice de afastamento do trabalho por transtornos mentais e emocionais, principalmente ansiedade, depressão e burnout têm crescido muito nos últimos anos. Não é só ofertar terapeuta. Mas perceber quando elas estão em situações de fragilidade, de angústia, e permitir que possam ser acolhidas. Às vezes as empresas, com medo de prejudicar a sua demanda de serviço, acabam não dando esse espaço do cuidar. E quem está em sofrimento acaba, por vez, adoecendo mais ainda” pondera Igor. “Cuidar da saúde física e emocional, no trabalho, é ferramenta para um bom desenvolvimento profissional”, finaliza Capelatto.

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