Amanda Gomes: 3 reflexões importantes para engajar os homens nos temas da equidade de gênero, diversidade e inclusão

O assunto é desafiador e estrutural, e ainda levará tempo para vermos mudanças impactante no mundo
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Atualmente, os temas diversidade, inclusão e equidade de gênero são pautas prioritárias nas empresas do mundo todo. Esses assuntos ganham, a cada dia que passa, mais relevância e geram polêmicas e discussões.

Existe uma atenção focada em identificar as empresas que, de fato, estão conscientes da importância do tema e que possuem iniciativas assertivas e outras que estão apenas sendo “obrigadas” a se posicionarem sobre um assunto que não estava entre suas prioridades. Um exemplo é o caso de uma empresa de investimentos cuja foto polêmica viralizou recentemente no Brasil.

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A constatação sempre é a evidência da predominância de homens brancos no poder que refletem a herança de mais de 5 mil anos de patriarcado.

E como engajar os homens nessa pauta?

Engajar é muito mais do que envolver – essa é a diferença. E, para ficar ainda mais claro o meu ponto de vista, quero destacar a definição formal da palavra engajar: “verbo pronominal dedicar; fazer alguma coisa com dedicação e afinco”.

Com certeza é um tema desafiador e estrutural, e levará um tempo até vermos uma mudança impactante no mundo. No entanto, como disse Nelson Mandela: “Tudo parece impossível até que seja feito”. E eu tenho fé de que passos dados com constância e genuinidade farão a grande diferença.

Depois de sensibilizar dezenas de empresas e contribuírem com a mobilização de centenas de homens para o tema, elegi três reflexões importantes que podem fazer grande diferença para o engajamento deles:

1. A mudança começa pela emoção e não pela razão

Se o ser humano não sente, ele não compreende. Somente aquilo que nos toca a alma nos mobiliza a agir. Todo ser humano é regido pelas emoções, mesmo os homens que, por uma herança milenar, foram educados a não sentir para não parecerem frágeis, estimulados a buscarem a razão e lógica em todas as decisões. Ainda assim, as emoções estão lá, escondidas e anuladas, e será por meio delas que a mudança efetiva vai acontecer, na minha opinião.

A linguagem que vai engajar os homens não será a teórica, e sim aquela que os fará sentir que essa construção social não é só destrutiva para os outros e sim para eles também.

E é possível ter isso claro quando alguns dados são apresentados. Por exemplo: os homens se suicidam quatro vezes mais do que as mulheres. Homens estão mais suscetíveis às drogas e à violência, e de fato são autodestrutivos – representam o grupo de maior presença no poder, no cárcere e no cemitério.

Homens não falam dos seus sentimentos, mal sabem nomeá-los e passam por cima de tudo isso para se sentirem pertencentes a um grupo do modelo ideal do homem que “moldam o que eles percebem como identidade”.

Eu não quero apequenar as consequências nocivas do machismo estrutural na sociedade, no entanto quero trazer uma reflexão de como incluir os homens no diálogo, criando também um ambiente seguro para que eles possam ver na sua vulnerabilidade a força da mudança de todos em prol de todos. É uma questão efetiva de consciência.

2. O ponto cego – preconceito inconsciente é ambiente seguro e confortável

O ponto cego está nas convicções absolutas, nas grandes verdades construídas e “ignora” o efeito dos comportamentos preconceituosos na realidade do dia a dia. Bastam apenas três segundos para julgarmos coisas, pessoas, tomarmos decisões e termos certeza de que estamos certos, até que seja provado o contrário. Se os vieses fossem conscientes, logo seria mais fácil a mudança. Mas, infelizmente, não são.

Viver no piloto automático e continuar em um mundo competitivo, das super performances, onde o resultado tem que ser para ontem, é uma boa justificativa para continuar onde está e não tratar o que “vai dar trabalho”. Todo comportamento ou comentário inapropriado parece inofensivo e, lógico, por isso todo comportamento preconceituoso tem uma justificativa fundamentada.

Na minha opinião, as conversas abertas com os homens têm que, de forma apropriada, desafiar os padrões e não gerar “embate e defensiva”, para que a reflexão perdure e gere autoconhecimento em cada um e a autorresponsabilidade com interesse genuíno de investigar sobre seus próprios comportamentos.

3. A transformação verdadeira é percebida depois da repetição e constância

Somos fruto de uma construção social que nos educou de uma forma que gera os efeitos nocivos da falta de inclusão de hoje. Fomos educados pela família na qual nascemos, pela sociedade na qual vivemos, pelas informações que consumimos da publicidade e pela demasiada chuva de dados que concorre com nossa atenção.

Por isso, acredito que estamos na era da desconstrução, do desaprender para reaprender, e sem repetição e constância voltaremos para padrões negativos.

Ter uma pauta progressiva, recorrente e que avalia o progresso de tempos em tempos é o que vai mostrar os avanços e trazer a mudança efetiva. Lembrar que todo esse movimento é por um mundo melhor de fato, não só na teoria. É um longo caminho, mas, a meu ver, mais curto quando o autoconhecimento é promovido em todas as esferas – empresarial, pessoal e social.

Amanda Gomes é graduada em Administração de Empresas, pós-graduada em Gestão de Varejo pela Fia USP, possui MBA Executivo pela Fundação Dom Cabral e é CEO e cofundadora do Instituto Geração Soul

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