Em Uganda, aprendi que podemos mover montanhas… Mas, sem amor, nada faz sentido!

Quando decidimos ser voluntários, só enxergamos nossas intenções, mas não as possíveis consequências e reações a elas
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Gisele com as crianças durante voluntariado em Katebo (Foto: Arquivo Pessoal)

Como sabem, em 2009 decidi passar um tempo comigo, aprendendo sobre o desconhecido e vencendo alguns medos. Em pleno início da crise mundial, larguei um incrível trabalho e estabilidade financeira para me aventurar na África.

Minha jornada no continente africano começou com um voluntariado em Katebo, um vilarejo nas margens do lago Victoria em Uganda, aproximadamente 2 horas da capital Entebbe. Esta parte da viagem foi sem dúvida uma experiência “pesada”, mas extremamente rica ao mesmo tempo.

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Gisele fez voluntariado em Uganda em 2009 (Foto: Arquivo Pessoal)

Katebo era (talvez ainda seja) um lugar surreal. Uma vila de mais ou menos 400 pessoas onde aproximadamente 90% delas tinham Aids. Eu queria saber mais sobre esta doença e o impacto que ela fazia em uma sociedade. Foi chocante e muito dolorido o meu tempo lá.

Nesta parte de minha jornada, amei, ensinei, brinquei e ajudei muito! Consegui construir parte da escola, levar comida para as crianças e até consertar o sistema para levar água potável para a vila. Além destes projetos que eu “financiava”, também dava aulas de inglês e geografia para lindas crianças órfãs de pai e mãe. Foi lá que aprendi uma das maiores lições da minha vida:  a importância de ver o “todo” e não só o que diz respeito a nós mesmos. Nossa intenção nunca pode ser tomada como verdade absoluta apesar da necessidade de ser defendida.

Percebi, de uma forma muito dolorosa, que quando decidimos ser voluntários e fazer a diferença na vida de outras pessoas, só enxergamos nossas intenções, mas não as possíveis consequências e reações às nossas ações.

Na hora da despedida, achando que eu tinha feito o bem para a comunidade e, principalmente, para aqueles incríveis e sensíveis órfãos, eu notei que eles não estavam falando e nem olhando para mim. Perguntei, então, para a “líder” do grupo o que estava acontecendo e ela olhou para mim seca, chateada e disse: você é igual a todas as pessoas que já amamos, você também vai nos abandonar…

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Acho que nem preciso dizer que meu mundo caiu naquele momento. Fiquei em choque e sem atitude. Fui embora da vila em transe. Depois de dois dias sem conseguir fazer absolutamente nada, inclusive seguir viagem, voltei para vila para falar com as crianças e explicar o que aconteceu.

Eu sei que acrescentei à vida deles, eu os amei e eles me amaram, eu os ensinei e eles me ensinaram, mas também sei que realmente os aborreci quando parti. Eles são todos órfãos que já se sentiram “abandonados” em algum momento de suas vidas, e eu fiquei arrasada quando percebi que eles estavam sentindo isso de novo.

De volta à Katebo, perguntei para as crianças que eu tinha ficado muito próxima se haviam gostado de eu ter passado aquele tempo com elas e se eu as tinha feito felizes. Elas disseram que SIM. Perguntei se elas concordavam que seria bacana eu fazer isso em outras vilas também, para outras crianças. Elas responderam que SIM.

Gisele deu aulas de inglês e geografia para as crianças do vilarejo africano (Foto: Arquivo Pessoal)

Continuei e perguntei o que eu poderia fazer para que elas não ficassem tristes comigo e elas pediram para eu prometer que eu voltaria. Sabendo das possibilidades, eu disse que eu não podia prometer, pois eu não acreditava que conseguiria voltar. Então insisti e perguntei se tinha algo mais que eu poderia fazer para deixá-las felizes. E de uma maneira genuína e absolutamente mágica me pediram para eu prometer que eu sempre as amaria e essa promessa eu pude fazer!

Agora um conselho: viaje sempre que puder… da maneira que for!

Gisele Abrahão é uma viajante do mundo, empreendedora consciente, criadora do prêmio Impactos Positivos e idealizadora da plataforma Lugares pelo Mundo.

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