Grupo de investidoras-anjo autofinancia edtech liderada por elas mesmas

Jéssica Paraguassu, fundadora e CEO da plataforma, desistiu de ser subestimada na busca por aportes
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Jéssica Paraguassu, fundadora e CEO da plataforma Mulheres no Comando

Ainda hoje, quando o assunto é o perfil do investidor, é comum cairmos em velhos estereótipos sociais e imaginar um homem, de terno e gravata, com visão de longo prazo, capaz de identificar potenciais negócios lucrativos – e apostar neles. Por muito tempo, a figura feminina foi dissociada desse movimento, em função de preceitos culturais e machistas

Segundo o “Female Founders Report 2021”, estudo elaborado pela empresa de inovação Distrito em parceria com a Endeavor, rede global de empreendedorismo, e a B2Mamy, empresa que capacita mulheres com filhos ao ecossistema inovador, menos de 5% das startups brasileiras são fundadas apenas por mulheres e outros 5% têm um time de fundadores com participação feminina. 

Essa desigualdade é resultado de um efeito cascata, que passa pelas diferentes fases do negócio, desde a idealização até a captação de investimentos. Segundo dados do Banco Mundial, apenas 7% dos investimentos de risco nos mercados emergentes são destinados a negócios liderados por mulheres. Outro dado significativo: a média de capital recebido por startups com liderança feminina é 65% da média recebida por startups lideradas por homens. E esse cenário se agrava à medida que os valores investidos vão ficando maiores.

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Inconformada com essa realidade, Jéssica Paraguassu criou, em 2020, a partir de um evento sediado pelo hub de inovação CUBO Itaú no ano anterior, o Mulheres no Comando, uma plataforma educacional que ajuda as mulheres a se desenvolverem profissionalmente. Formada em Relações Internacionais com especialização em gestão de negócios, ela sempre teve o sonho de empreender.

“Cresci muito rápido no setor de vendas – fui de vendedora à diretora em pouco  tempo -, mas meu objetivo sempre foi ser dona do meu próprio negócio. Queria aprender com quem tinha dado certo para fazer uma operação sair do chão, mas, ao mesmo tempo, tinha consciência de que a área de vendas era crucial para o sucesso de qualquer empresa. Chegou um momento, no entanto, em que eu ocupava o cargo de diretora, mas já não me sentia muito conectada aos valores da companhia onde atuava. Decidi então largar tudo e me dar a chance de construir meu próprio negócio”, conta.

Jéssica conta que, para viabilizar a ideia, quanto para expandi-la posteriormente, recebeu propostas de aportes de grupos de investidores do Brasil e de outros países, mas que os líderes desses grupos, bem como os anjos, eram quase sempre 100% homens. “As condições propostas eram complicadas, muito porque eles não sentiam a mesma dor que nós, mulheres, incluindo o machismo na captaçao”, diz a CEO da startup.

“Numa dessas buscas por investimentos, eu levantei os nomes de 100 possíveis investidores e tive mais de 30 reuniões. Em uma delas, com a presença de um homem, as perguntas feitas foram deixando muito claro o quanto ele subestimava meu trabalho. Eu contei que tínhamos o Bradesco como cliente, e ele me perguntou se a conquista do banco tinha sido por indicação, como se eu não tivesse competência para conseguir trabalhar com uma empresa daquele porte”, conta. “Foram várias perguntas machistas, que fizeram com que eu me sentisse muito mal e retirasse minha candidatura ao aporte.”

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A solução acabou vindo de dentro de casa. Jéssica reuniu todas as mentoras da edtech num evento batizado de Pitch Night Mulheres que resultou em 35 intenções de investimento, com cheques que variaram de R$ 5 mil a R$ 80 mil. Em menos de um mês, 25 investidoras assinaram os contratos e fizeram os aportes, totalizando R$ 400 mil.

“Formamos o nosso próprio grupo de investidoras-anjo sem nos submetermos a condições abusivas. E o mais importante: elas entendem o machismo estrutural e acreditam no nosso propósito de liberar o potencial das mulheres no mundo”, explica Jéssica, que está aplicando os recursos em ações de marketing, vendas e operações de atendimento ao usuário e no desenvolvimento e implementação de tecnologia.

Além de expandir o negócio, a empreendedora conta que a ideia, futuramente, é apostar em outros empreendimentos gerenciados por mulheres. Atualmente, o grupo é formado por mais de 300 investidoras, entre elas, Karen Rebello, líder de transformação digital da Exxon Mobil, Celina Silva, chief actuary e controller da Brasilprev, Ciléia Assunção, head de data & analytics da Colgate-Palmolive, e Loredana Sarcinella, diretor da marketing da Samsung.   

Jéssica acredita que existe um movimento em curso para mudar a realidade atual: apenas 15,7% das startups em operação no país são lideradas por mulheres, segundo a Associação Brasileira de Startups (ABStartups). “Existe uma tentativa de ampliar essa visão, mas boa parte do mercado ainda é extremamente machista, repele as mulheres. A boa notícia é que elas querem ocupar esses espaços.”

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