Conheça a Casa Viccas, empresa de vinho artesanal fundada por duas mulheres

Todo o trabalho é feito só pelas duas sócias, que estão à frente de todo o processo, desde a colheita das uvas e a fabricação da bebida até marketing e vendas
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Da esquerda para a direita: Sara e Vivian (Foto: Arquivo Pessoal)

As sócias Sara Valar, 41 anos, e Vivian Vitorelli, 37, sempre foram apreciadoras de um bom vinho. Mas só em janeiro de 2019 decidiram fazer disso um negócio. Foi quando fundaram a Casa Viccas, uma empresa de vinhos artesanais feitos só pelas mãos das duas. 

A ideia surgiu em 2018, quando a dupla estava produzindo um documentário sobre vinhos fabricados em vários lugares do Brasil. No meio do processo, no entanto, surgiu um edital de financiamento com foco no público feminino. Elas, então, mudaram o tema para “mulheres que produzem vinhos”. “Começamos a pesquisar mais sobre o assunto e fomos visitar uma produtora que fazia a bebida de forma artesanal na Praia do Rosa, em Santa Catarina. Passamos uma tarde na casa dela bebendo e conversando. Nos apaixonamos pelo vinho e pelo projeto”, lembra Sara, que é neta e filha de vinicultores.

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Para as sócias, aquele dia foi um divisor de águas na história da Casa Viccas. Depois daquele encontro, elas desistiram do documentário e perceberam que podiam ter o próprio negócio de fabricação de vinhos. Além da tradição familiar de Sara, Vivian já havia administrado um comércio voltado para a bebida. “Nesse mesmo ano, a gente tinha uma viagem marcada para a Itália. Reorganizamos o roteiro para conhecer pequenos produtores de vinho natural e entender mais sobre o assunto”, conta Sara.

Entre abril de 2018 e janeiro de 2019 – que elas brincam dizendo ter sido o período de uma gestação -, as duas mergulharam no projeto para aprender todos os passos de como fazer bons vinhos. “A gente só era apreciadora da bebida e precisava entender mais do universo, preparar o nosso espaço e colocar tudo em prática”, diz Sara. 

As duas queriam focar totalmente no novo projeto. Sara trabalhava com audiovisual e Vivian largou o emprego no mercado financeiro. “Eu não estava feliz com o que estava fazendo, precisava me reencontrar”, avalia Vivian.

Para começar o negócio, o local escolhido para a fabricação das bebidas foi um sítio da família de Sara, onde o seu pai já produzia para consumo próprio, em Serafina Corrêa, pequena cidade no Rio Grande do Sul, com apenas 18 mil habitantes.

O investimento inicial foi de R$ 60 mil, do próprio bolso, para comprar a matéria-prima de fora, porque o vinhedo ainda era pequeno. Quase três anos depois, a equipe continua sendo apenas as duas, que ficam à frente de todo o processo, da colheita e fabricação ao marketing e vendas. “Eu vejo que o mercado hoje, por sermos mulheres, nos incentiva muito. Isso faz com que a gente alavanque o negócio. Mas ainda causa surpresa duas meninas trabalhando sozinhas”, diz Vivian.  

Elas precisam acompanhar a maturação da uva, com um cronograma que depende totalmente da fruta e da natureza (Foto: Arquivo Pessoal)

Sara explica que o nome escolhido para o negócio é uma homenagem às antigas mulheres moradoras da casa onde o vinho é fabricado. “Antes da minha família comprar a terra, diz a lenda que lá viviam cinco mulheres, filhas de um senhor que se chamava Ludo Vicco. Elas eram conhecidas como as Viccas. O que se diz é que as irmãs eram chamadas de bruxas na cidade porque não saíam muito de casa e, quando isso acontecia, causavam medo nas pessoas. Elas também acabavam tendo receio daquelas que encontravam pelo caminho. Nós quisemos  homenageá-las porque foram mulheres potentes que cuidaram desse espaço e honraram essa terra para a gente poder chegar aqui. A nossa história também é de mulheres fortes.”

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A dupla se divide entre São Paulo e Serafina Corrêa, já que a vinificação é sempre feita no verão, especialmente de janeiro a março, quando as uvas estão prontas. Vivian explica que o diferencial do vinho é a forma como é feito. “Fazemos de um jeito totalmente diferente do das grandes indústrias. Não usamos nenhum aditivo químico, é simplesmente uva. E isso requer uma presença muito maior na hora da fabricação.”

Atualmente, a dupla produz 8.000 garrafas a cada safra anual. Um crescimento considerável, já que em 2019 foram apenas 1.500. Entre os principais desafios de montar um negócio do zero, Sara cita o aprendizado sobre o processo de fabricação, já que nenhuma das duas eram enólogas. “A produção não é feita todos os dias, temos um período único. Então, precisamos tomar as melhores decisões naquele momento, como definir a quantidade de produção e a variedade de produtos”, destaca. 

Na prática, o trabalho é bastante cansativo. Elas precisam acompanhar a maturação da uva, com um cronograma que depende totalmente da fruta e da natureza. Depois da colheita, separam e esmagam as uvas. Essas permanecem por dez dias em um tanque para o processo de fermentação alcoólica. É quando o açúcar se transforma em álcool e gás carbônico, um dos momentos mais importantes, já que tudo pode virar vinagre se der errado. Depois disso, as sócias prensam as uvas para retirar o suco e o material vai para o processo de fermentação malolática. “O líquido fica parado por mais seis meses até que comece o processo de engarrafamento, que também fazemos sozinhas. Eu diria que demora mais ou menos o parto de uma mulher, são como os nossos filhos”, conta Vivian. 

O local escolhido para a fabricação das bebidas foi um sítio da família de Sara (Foto: Arquivo Pessoal)

Para ela, que trabalhou muitos anos em São Paulo e sabe o quanto um ambiente pode ser frenético e imediatista, esse processo mais lento é o que mais a encanta. “A sociedade sempre quer resultados rápidos em tudo e isso acaba sendo uma grande lição para a gente.”

A Casa Viccas vende hoje uma variedade de vinhos tintos, brancos e espumantes, com preços que variam entre R$ 85 e R$ 90.

Com a pandemia de Covid-19, elas explicam que o cliente mudou. Muitos restaurantes deixaram de comprar e o consumidor final passou a ser o principal comprador, já que muitas pessoas passaram a beber mais em suas próprias casas. As sócias lembram, ainda, que os vinhos importados encareceram muito nesse período, o que acabou favorecendo os nacionais.

O consumo da bebida no Brasil cresceu 18,4% em 2020, segundo a maior autoridade no setor, a Organização Internacional da Vinha e do Vinho (OIV). Os dados revelam que o país passou de aproximadamente 360 milhões de litros para 430 milhões de litros entre 2019 e 2020.

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Atualmente, os principais consumidores da Casa Viccas estão no Rio de Janeiro, São Paulo, Brasília e Minas Gerais, que compram os produtos principalmente pelo Instagram da marca.

Atualmente, a dupla produz 8.000 garrafas a cada safra anual. Um crescimento considerável, já que em 2019 foram apenas 1.500 (Foto: Arquivo Pessoal)

Nesses quase três anos, as sócias consideram que empreender no Brasil é difícil, principalmente por causa das burocracias. Vivian ressalta, ainda, que falta incentivo e sobram cobranças. “Mesmo que eu tenha experiência na área administrativa, na prática é outra história. Apesar desses desafios, eu me sinto realizada. Estamos no começo, mas cada vez mais vejo que temos um futuro promissor. É um trabalho gostoso porque acreditamos nele.”

O objetivo para as próximas safras não é aumentar a quantidade de vinhos produzidos. Vivian lembra que elas não querem perder as características artesanais. “Vamos manter o mesmo cuidado. O que queremos é melhorar os nossos processos e agregar valor ao nosso produto.” 


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