Geny do Carmo: a pedreira que faz sucesso nas redes sociais colocando a mão na massa

Há 12 anos na construção civil, paranaense revela que até hoje é alvo de preconceito e comentários machistas
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Geny do Carmo (Foto: Arquivo Pessoal)

Foi para poder provar que uma mulher pode trabalhar em qualquer área, inclusive na construção civil, que a pedreira Geny do Carmo, 40 anos, começou a gravar vídeos de sua rotina nas obras. Desde que começou a expor o  material nas redes sociais, a moradora da cidade de Santa Tereza do Oeste, no Paraná, já acumula mais de 300 mil seguidores no Facebook e quase 13 mil no Instagram, principais plataformas onde publica o conteúdo colocando, literalmente, a mão na massa. 

Antes da profissão atual, Geny era costureira. Em geral, ela costurava bolsas escolares. Ela diz que não é que fosse ruim, mas sentia falta de algo que realmente a motivasse.

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Em 2009, as empresas da cidade onde ela vive começaram a procurar mulheres para trabalhar na construção civil. Na época, ela lembra que se interessou pela vaga. Quando chegou ao local de trabalho, só havia homens. Isso não a intimidou. No início, ela foi contratada como servente de pedreiro, que basicamente é uma função de auxílio nas obras.

“Fui trabalhar em uma empresa onde meu marido já era pedreiro. Quando eu comecei a ver mais de perto a rotina, achei legal e comecei a me ver fazendo aquilo, sendo uma mulher pedreira. Eu admirava o jeito que os homens trabalhavam e, na hora do almoço, pegava o carrinho do meu esposo e assentava alguns tijolos”, lembra. 

Um dia, o mestre de obras que vinha observando o trabalho de Geny, disse que ela levava jeito. “Foi ele quem me deu a primeira oportunidade de ser uma mulher pedreira”, conta. Desde então, não parou mais. 

Na área há 12 anos, Geny confessa que já ouviu de tudo. Ela diz que ser uma mulher na construção civil ainda é visto por muita gente – homens e mulheres – como algo estranho ou errado. 

“Falam que obra não é lugar para mulher, mas de homem. Não escuto isso só de homens, mas também de mulheres. Em geral, essas pessoas acham que é algo muito pesado para uma mulher. Eu venho, por meio dos meus vídeos tentando provar que isso não é verdade. Que a gente consegue e pode fazer o que quiser, independentemente do que seja”, destaca.

E Geny, apesar de minoria, não está sozinha. A presença feminina na construção civil cresceu 120% de 2007 até 2018, subindo de 109.006 trabalhadoras registradas para 239.242 no Brasil, de acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Ela costuma dizer que a cada tijolo assentado, um novo aprendizado surge (Foto: Arquivo Pessoal)

A paranaense faz um balanço sobre ser mulher numa profissão tão masculinizada. Ela acredita que o preconceito não diminuiu, mas a forma como ela lida com os comentários machistas e preconceituosos mudou. “Antes eu ficava triste com a desconfiança, me sentia diminuída. Mas depois de tantos anos, isso não me afeta mais, aprendi a enfrentar essas dificuldades.”

Ela lembra de um episódio recente, enquanto construía uma laje, e um vendedor passou na obra para checar as medidas do material que forneceria. “Ao chegar lá, ele pediu para falar com o responsável. Eu disse que era eu. Ele, então, pegou o projeto da minha mão e começou a palpitar dizendo que o meu serviço estava errado. Eu falava para ele que eu sabia ler o projeto, do começo ao fim. E ele teimava em me desqualificar. No fim, o dono da obra acreditou em mim e dispensou o fornecedor. A  obra está ficando linda e fechamos com outra pessoa para fornecer o material”, conta Geny.

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Se, por um lado, os desafios são muitos, por outro o orgulho de construir algo também é enorme. Ela costuma dizer que a cada tijolo assentado, um novo aprendizado surge. “Hoje eu amo o que faço e não me vejo fazendo outra coisa e nem em outra profissão. Claro que é um trabalho pesado, mas nós, mulheres, com o nosso jeito, conseguimos executá-lo sem problema nenhum. A construção civil abre um leque para podermos criar e dar sugestões na obra de uma casa, por exemplo. Terminar um serviço e ver o resultado final impecável é muito bom, algo que não dá pra explicar.”

Atualmente, Geny não trabalha mais vinculada a construtoras. Decidiu que era o momento de pegar suas próprias obras e trabalhar por demanda, principalmente com residências. Além do trabalho de segunda a sexta-feira, ela e o marido estão realizando um sonho: aos finais de semana constróem sua própria casa.

Entre as principais obras das quais Geny se orgulha de ter feito parte, estão os edifícios construídos para gerar algum tipo de retorno à sua cidade, como faculdades, receitas federais e fóruns. “São obras que eu sei que, daqui a 20 anos, vou passar na frente e lembrar que ajudei a fazer.” 

Além de colocar a mão na massa, Geny também cuida da parte administrativa do negócio. É ela quem negocia diretamente com os clientes. “Eu gosto da minha rotina, apesar de muito corrida. Como estamos construindo a nossa própria casa, quase não temos tempo para sair ou viajar. Acredito que esse momento de mais lazer vai chegar, mas agora preciso aproveitar a fase boa para conseguir concluir o meu objetivo na vida.”

Apesar do pouco tempo livre para se divertir, Geny tem uma outra paixão além das obras. Desde a adolescência, é fã de carros, em especial do Opala, fabricado pela General Motors como o primeiro automóvel de passeio da montadora no Brasil. “Eu tenho dois carros, um Opala Diplomata 1988, que está comigo há 20 anos, e um 1973, o meu xodó, o Barão Vermelho. Gosto de limpar, cuidar, faço vídeos com eles também. Amo ser opaleira.”

A pedreira acredita que o preconceito com o seu trabalho vai diminuir com o tempo, mas, para que isso aconteça, é preciso que as mulheres acreditem mais nelas mesmas. “O ambiente de obra ainda é machista e precisamos lutar contra isso. No começo era mais difícil, as pessoas me olhavam com cara de espanto, parecia até que eu tinha feito algo. Quando eu ia preencher uma ficha cadastral onde precisava colocar a minha profissão, as pessoas me olhavam como se eu estivesse mentindo. Foi daí que tive a ideia de gravar os vídeos, queria provar que a gente consegue fazer tudo. Podemos ser pedreiras, serventes e até tocar obras sozinhas. Quero quebrar essa barreira.”

Para outras mulheres que têm essa paixão por obras ou, pelo menos, curiosidade de aprender como funciona uma construção, o conselho de Geny é procurar um espaço e não ter medo de desafios. “Quando a gente escolhe profissões não tão comuns para o público feminino, os obstáculos vão aparecer. Precisamos nos preparar para isso. Temos que quebrar esse tabu de profissão de homem e de mulher. Qualquer um pode fazer o que quiser. “

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