“Incantadora”: Conheça Camila Casagrande, a empreendedora social que leva arte e cultura à periferia de Curitiba

Para a sócia-fundadora do Instituto Incanto, entre o lucro e a salvação do mundo, é possível ficar com os dois
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“Incantadora”: Conheça Camila Casagrande, a empreendedora social que leva arte e cultura à periferia de Curitiba
Sócio-fundadora do Instituto Incanto, Camila Casagrande (Foto: Divulgação)

Filha de empregada doméstica e caminhoneiro, Camila Casagrande só sentiu o que era realmente pertencer a um grupo aos 15 anos. De infância humilde na periferia de Curitiba, capital do Paraná, a jovem aluna do ensino público subiu aos palcos pela primeira vez em um evento escolar, para apresentar uma coreografia. Bastou sentir a energia da plateia para se apaixonar pela dança. A sensação, no entanto, também lhe despertou a impressão de que algo havia sido roubado de sua infância e adolescência: “Por que eu nunca tinha tido acesso àquilo antes?”, perguntou-se na ocasião.

Na época, Camila foi até a diretora da escola e sugeriu abrir um grupo de dança. “Ela, mais doida do que eu, concordou”, ri. A jovem, então, pegava emprestado o computador do vizinho e decorava as coreografias que assistia no YouTube. No pátio da escola, localizada no bairro de Santa Quitéria, ensinava a dança para crianças e adolescentes. Foi assim que nasceu o Grupo de Danças Senses. 

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Enquanto dava aulas no grupo, Camila conseguiu uma bolsa pelo ProUni e cursou a faculdade de publicidade e propaganda. Mesmo assim, em tudo o que fazia, dava um jeito de falar sobre sua paixão. “Eu usava o grupo como case em todos os trabalhos da universidade. Estava muito focada no processo de crescimento que estávamos construindo ali”, conta. 

Depois de formada, Camila fez especializações em gestão da arte & produção da cultura, MBA em dança com gestão e produção cultural, empreendedorismo social e negócios sociais e se formou como líder social na Falcons University, a universidade criada na favela para a favela. 

“Incantadora”: Conheça Camila Casagrande, a empreendedora social que leva arte e cultura à periferia de Curitiba
Empreendedora social Camila Casagrande viu na cultura e na arte uma forma de transformação (Foto: Divulgação)

Foi quase uma década ensaiando com as crianças. Elas cresceram e aprenderam. “Foi um momento de muito conhecimento e transformação. Eu era muito nova e elas também, então nós crescemos juntas. Depois desses quase dez anos, eu já não tinha mais o que ensinar, então as convidei para serem professoras e multiplicarem tudo aquilo que eu havia ensinado”, conta.

Foi nesse processo de reformulação do grupo de dança que a empreendedora social fundou o Instituto Incanto, em 2017. Com o intuito de impactar crianças em situação de vulnerabilidade social de seis a 17 anos, a organização não-governamental atua em várias ocupações e favelas de Curitiba e da região metropolitana. 

Por meio da arte, da cultura e da tecnologia, o Incanto funcionava, em um primeiro momento, de forma descentralizada, conectando seus voluntários a outras organizações. “No começo, a ONG não tinha nenhum recurso, então eu pensei num modelo de negócio no qual eu pudesse trabalhar com orçamento zero. Foi assim que projetei o sistema no qual os professores iriam oferecer as atividades artísticas e culturais em ONG’s parceiras”, explica. 

“Incantadora”: Conheça Camila Casagrande, a empreendedora social que leva arte e cultura à periferia de Curitiba
Voluntários do Instituto Incanto (Foto: Divulgação)

O Incanto cresceu muito mais rápido do que Camila projetou – e até do que poderia imaginar. Ainda assim, nem tudo são flores. Para a empreendedora social, a caminhada foi muito solitária e marcada por um machismo intrínseco, que ela vivencia até hoje. “Todos esses caminhos que eu fui trilhando, como a pós-graduação e a especialização logo após a faculdade, foram sendo feitos com um olhar de empreendedora. Mas eu sempre fui uma empreendedora solitária, autodidata e, por ser mulher e jovem, já fui muito subestimada”, relembra. 

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“Os três primeiros anos da ONG, entre 2017 e 2019, foram muito duros porque eu tive que provar muita coisa para muita gente”, conta. Como qualquer projeto de empreendedorismo, ainda mais liderado por uma mulher, foi difícil receber os primeiros retornos positivos e encontrar as primeiras pessoas que acreditassem nele. “Agora que a ONG está tomando uma proporção maior e sendo mais reconhecida, percebo que a confiança aumentou”, celebra. 

Pandemia

As aulas pararam durante a pandemia de Covid-19, mas Camila não. Como todo empreendedor, ela também precisou se reinventar. “Uma das preocupações que eu tinha era deixar as crianças que atendemos desamparadas, sem o mínimo de apoio da instituição”, relembra. Foi no meio da crise sanitária que parou o mundo que Camila assistiu o Instituto Incanto prosperar de uma forma que nunca tinha presenciado. 

“A gente mudou o foco. Passamos a fazer um trabalho muito mais assistencialista, com campanhas de arrecadação de kits de higiene e parcerias para a distribuição de cartões alimentação”, explica. No último caso, foram mais de 2.000 famílias impactadas. “Temos que trabalhar com a criança de forma integrada. Não podemos pedir que venha dançar se ela não tem o que comer em casa ou se é agredida”, ressalta.

Essas ações solidárias trouxeram visibilidade e credibilidade à ONG. Foi por meio desse trabalho de assistencialismo que o Instituto Incanto inaugurou, em julho deste ano, seu primeiro centro cultural, onde hoje oferece cursos em diversas áreas, como dança, teatro, circo, canto e até tecnologia. 

“Incantadora”: Conheça Camila Casagrande, a empreendedora social que leva arte e cultura à periferia de Curitiba
Voluntários no Centro Cultural (Foto: Divulgação)

“Sabemos que a cultura e a arte são essenciais para o desenvolvimento de uma criança, mas percebemos também, principalmente com a pandemia, que precisamos trabalhar de forma integrada, já que muitas ainda não têm nem as necessidades básicas, como alimentação, atendidas. O Incanto, então, passou a trabalhar também em outras frentes, como na qualificação profissional.” 

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É oferecendo desenvolvimento comunitário e de habilidades socioemocionais que a empreendedora entende que essas crianças se tornarão adultos capazes de praticar a liderança. 

Futuro

“Eu acredito que ser uma empreendedora social hoje pode motivar outras crianças a trilharem caminhos parecidos no futuro. Mas eu também creio muito na transformação pela arte, porque ainda que eles não sejam artistas e não sigam essa profissão, tenho certeza que se tornarão indivíduos melhores”, diz. 

A pequena Camila, que desde os 12 anos vendia pulseiras para fazer ginástica no contraturno escolar, sempre foi uma sonhadora. Hoje, além disso, ela é também uma mulher que transformou os sonhos em realidade. “O Instituto Incanto é meu propósito de vida, não consigo me imaginar fazendo outra coisa. As pessoas não acreditavam que os sonhos que eu tinha poderiam se concretizar e que existiam caminhos para que isso acontecesse”, conta. Atualmente, o Instituto Incanto impacta 510 crianças e adolescentes por meio de 17 ONG’s parceiras. O centro cultural, sozinho, atende outras 120. Em 2022, a meta é chegar a 200 inscritos.

Para ela, que acredita no poder de transformação da mulher, não existe mais espaço para um empreendedorismo que não seja social. “Entre lucrar e salvar o mundo, podemos ficar com os dois.”

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