Como Daniella Pelosini, membro-fundadora da Aliança das Mulheres do Café no Brasil, pretende impulsionar o mercado cafeeiro nacional

À frente do Reserva Pelosini, empreendedora investe na inovação e na criatividade para ganhar reconhecimento
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Divulgação
Daniella Pelosini é membro-fundadora da IWCA (Coffee Women’s Alliance) no Brasil (Foto: Divulgação)

Por muitas décadas, a relação das mulheres com o café foi invisibilizada. Seja por conta da crença de que bebidas fortes são para homens ou pela desinformação sobre a presença de mulheres nas lavouras, a bebida nunca foi ligada ao mundo feminino. Mesmo para Daniella Pelosini, que cresceu em meio à cafeicultura na fazenda do pai, a ideia de que havia um grupo de mulheres trabalhando com a produção da bebida era muito distante – quase uma fantasia engraçada. 

Foi apenas há uma década, quando descobriu a existência da IWCA (Coffee Women’s Alliance), que Daniella abriu os olhos para essa realidade. “Decidi ir a um evento desse grupo, que aconteceu em São Paulo, para entender do que se tratava. Quando cheguei lá, fiquei surpresa com a quantidade de mulheres. Um mundo que eu realmente não conhecia”, destaca. Depois do baque, ela decidiu que era hora de outras brasileiras entrarem em contato com essa rede feminina de apoio e incentivo. Tornou-se, então, membro-fundadora da IWCA no Brasil – que ficou conhecida como Aliança Internacional das Mulheres do Café. 

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“Modéstia à parte, o olhar da mulher é mais atento e detalhista do que o do homem. Combina muito com a produção de café”, brinca Daniella, que se aproximou deste mundo aos 35 anos, quando tomou a frente do Reserva Pelosini, a marca de cafés da família. “Eu tinha oito anos quando o meu pai comprou uma propriedade em Pardinho, no interior de São Paulo, que virou nossa casa nos finais de semana. Na adolescência, eu já o acompanhava na produção de leite, até que, de repente, ele começou a cultivar café. Na época, eu achei uma doideira, mas logo a ideia se mostrou ainda mais viável financeiramente do que o leite.” 

A projeção positiva do cultivo tinha relação com a região. A partir da década de 1850, a cultura cafeeira se expandiu pelo Oeste Paulista, onde encontrou condições ideais de plantio nos férteis solos da localidade, a chamada terra roxa. Hoje, o café produzido em São Paulo – principalmente nesta região do interior – carrega as peculiares características do terroir onde se encontra, além de levar consigo uma herança histórica e sociocultural. “Nós não brigamos com a natureza. Seguimos suas particularidades. Esse é o nosso diferencial”, diz Daniella, que acabou se encantando pela produção ao longo do processo. 

“Eu sempre fui muito apaixonada pelo lugar, então acabei me envolvendo naturalmente com o café. Quando vi, já estava fazendo todos os cursos possíveis sobre o assunto: barista, mestre de torra, degustação e até administração agrícola”, conta. Formada em economia, ela nunca pensou em trabalhar em bancos ou startups financeiras, então decidiu utilizar o seu conhecimento para levar o café Pelosini a outro patamar. “Comecei a investir em inovação e participar de concursos regionais. Pouco a pouco, consegui chegar às feiras estaduais.” E era exatamente isso que faltava para que ela conquistasse visibilidade nacional – e até internacional. 

O auge, para a empreendedora, foi receber o Prêmio Ernesto Illy de Qualidade em um evento em Nova York. “Foi aí que eu percebi o tamanho do nosso potencial. Estávamos mostrando o café brasileiro para o mundo”, ressalta. Para ela, esse é o maior exemplo de que o Brasil tem condições de oferecer os melhores cafés do planeta, inclusive inovando com sabores e técnicas especiais. Um de seus cafés mais famosos, por exemplo, carrega uma maturação tardia, na qual as cerejas são processadas junto aos grãos, gerando lotes especiais de origem única e com características complexas.

“O café pode ser especial, e esse é um mercado muito promissor. Tem muito para crescer porque é um movimento das capitais para o interior. Temos todo um país para alcançar”, diz Daniella, que também atribui à sustentabilidade o futuro deste mercado. Desde 2017, ela investe no processo de recomposição da mata nativa, em uma área inicial de 12 hectares que integra a Mata Atlântica. O objetivo é perpetuar a flora e fauna da região. Além disso, também investe em energia solar e adubos organominerais. “Somos uma propriedade de 55 hectares. Onde não há plantação de café, fazemos o reflorestamento. Não dá para avançar sem uma boa visão de comunidade.” 

E não é apenas a sustentabilidade que faz parte desse raciocínio. Para Daniella, a visão de comunidade também envolve o apoio a outros cafeicultores. “Se você não se junta, não consegue fazer nada. Cerca de cinco anos atrás, eu entrei para o sindicato rural. Lá, consegui organizar feiras de café na região de Pardinho, movimentando os produtores locais. Com esses eventos, conseguimos gerar visibilidade para os produtos locais e estímulo para os trabalhadores”, explica. “Se você quer ir rápido, vá sozinho. Se quer ir longe, vá junto. É nisso que eu acredito.” 

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A ideia de avançar de mãos dadas se torna ainda mais importante para Daniella quando o feminino entra em jogo. Na IWCA, sua grande missão é unir as mulheres da cadeia produtiva nacional. Segundo dados levantados em 2017, no último Censo Agropecuário realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mais de 40 mil estabelecimentos agrícolas brasileiros com produção de café são dirigidos por mulheres. 

Esse número equivale a apenas 13,2% dos 304,5 mil existentes. No entanto, além das dirigentes, há também aquelas que estão na condição de cônjuge na codireção, sendo 32.400 mulheres em estabelecimentos com café arábica e 15.700 mulheres em estabelecimentos com café canephora. Dessa forma, pode-se afirmar que há um público feminino de 88.700 mulheres dirigindo e codirigindo estabelecimentos com café em todo o Brasil.

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Em relação à área dos estabelecimentos, as mulheres são responsáveis por 815 mil hectares de produção de café ao redor do Brasil, o que corresponde a 9,1% do total. A maior parte das propriedades (72%) encontra-se na região Sudeste, com pouco mais de 29 mil estabelecimentos rurais, seguida pelo Nordeste, que conta com 5.860, ou 14% das propriedades dirigidas por mulheres. O Norte abriga 3.119 propriedades (8%), o Sul 1.586 (4%) e o Centro-Oeste 663 (2%).

Na opinião da empreendedora, ainda há um longo caminho a percorrer, mas as mulheres já estão dominando seus espaços no cultivo. Segundo ela, que comanda uma propriedade que leva o seu nome – Fazenda Daniella -, poder representar o avanço feminino em um mercado tradicionalmente masculino é uma honra.

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