Maternidade e empreendedorismo: na dúvida, não abra seu negócio!

Ideias, dados e iniciativas reais de mulheres que decidiram empreender junto com o desafio da maternidade
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Empreender é realizar uma ação e dedicar seu tempo em algo ou alguém que gere valor.

Há vários caminhos para empreender, mas o fato é que esse ato pede coragem e resiliência seja lá quem for. E, no caso das mulheres, que historicamente já enfrentam muitos degraus a mais no mercado de trabalho, essa atividade parece uma solução “adequada”.

Em paralelo, muitas mulheres ainda têm outro desafio junto: o de maternar. É, apesar de algumas famílias já compartilharem melhor as tarefas de educar e cuidar de uma criança, entre mães e pais, essa dinâmica ainda não acontece em todos os lares, por diversos motivos.

Nesse contexto todo, neste artigo, trouxemos alguns relatos de mulheres que a maternidade foi um impulso para empreender, talvez contrariando o que todos ao seu redor classificam como segurança e estabilidade. 

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Mas para além da maternidade e empreendedorismo, não devemos esquecer que, independente de empreender em sua carreira profissional, a mulher já vive empreendendo por si só. Afinal, todas estão a todo tempo equilibrando carreiras de empresária, funcionárias do lar, investidoras das finanças da casa, esposas e mães em seu dia a dia. Então por que não dizer, inclusive, que essas atribuições, que vão além de um emprego, não são carreiras e que podem, e devem, gerar lucro?

Empreendedorismo feminino 

De acordo com o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas, o Sebrae, e a Pesquisa Global Entrepreneurship Monitor 2020 (GEM), o Brasil possui 30 milhões de mulheres empreendedoras, o que significa 48% do total de 52 milhões de empreendedores, e nos classifica como sétimo país com maior número de mulheres nessa atividade. 

Também registramos o total de 48% de mulheres microempreendedoras individuais (MEI) atuando, em especial, nos segmentos de alimentação, moda e beleza.

Em geral, observa-se junto a essas pesquisas que essa decisão entre o público feminino está diretamente ligada à flexibilidade e independência financeira, diferente dos homens que nesse sentido buscam uma renda extra no seu orçamento. 

Essa diferença de objetivos está conectada com os nossos papéis na sociedade, pois a sociedade ainda entende a mulher como a cuidadora principal das tarefas relacionadas a família, como é o caso da maternidade. 

Dados de uma pesquisa divulgada pela  Rede Mulher Empreendedora, apontam que 68% das mulheres decidem abrir um negócio próprio após se tornarem mães. É o que popularmente conhecemos como empreendedorismo materno, que concilia as obrigações da maternidade com as responsabilidades de concretizar um negócio.

A empreendedora paulistana Ana Carla Facchinato, de 35 anos e mãe do Francisco, de três anos, reafirma esse dado: “A ideia de empreender veio junto com a intenção da maternidade, e eu diria até que ela fez parte do planejamento da minha gravidez. Eu olhava para o mercado de trabalho, para aquela rotina sem flexibilidade, para colegas que lutavam contra o tempo para conciliar o período no escritório e o tempo com os filhos, e só pensava em tentar escrever a minha história de maternidade num cenário diferente.”

Clara Dansa, empreendedora carioca, mãe do Lucas, de 17 anos, e do Dom, de seis anos, nos conta que “vi-me completamente atordoada na segunda gravidez, ao pensar como seria conciliar uma maternidade presente, com a exaustiva rotina em uma grande empresa do ramo de hotelaria, em que vivia um excelente momento profissional. A partir desse receio, pensei em alternativas dentro da minha área de atuação e coloquei em prática de forma independente. Arrendei uma pousada de pequeno porte em outra cidade menor e, com poucos recursos de investimento, coloquei a mão na massa e pude participar da primeira infância do meu filho, e nos sustentar.”  

CLT x PJ

Como podemos ver, o empreendedorismo feminino associado com a maternidade muitas vezes não vem de um lugar confortável ou glamouroso, pois é motivado pela necessidade e o receio. 

A Fundação Getúlio Vargas (FGV) observa que após 24 meses quase metade das mulheres que tiram licença-maternidade estão fora do mercado de trabalho, sendo a maioria por iniciativa do próprio empregador e sem justa causa. 

No mercado corporativo, apesar de muitos contratos hoje serem feitos sem seguir as diretrizes da CLT (Consolidação das Leis do Trabalho), seja por motivação do empregador ou do empregado, a carteira de trabalho assinada ainda é sinônimo de garantias de direitos e segurança. 

Para empreendedoras, a mudança dessa categoria de CLT para PJ (pessoa jurídica) pode vir junto com grandes responsabilidades de organização financeira e resiliência. 

“Como CLT eu tinha segurança financeira, pois eu sabia que independente do resultado da empresa, meu salário cairia na minha conta no dia certo, junto com os benefícios. Além disso, os meus períodos de férias eram garantidos e eu conseguia me desligar das atividades.”, afirma Facchinato. 

Ainda assim, Facchinato, em nossa conversa, observa que a CLT era para ela uma segurança financeira questionável, já que a modalidade não é uma garantia de emprego vitalício. Ademais, ela convivia com o incômodo, muito comum entre as mulheres, de precisar conviver com preconceitos e politicagens para alcançar o seu espaço e sucesso profissional. 

No setor de hotelaria e lazer, Dansa reforça que essa diferença ainda conta com o fator sazonal, em que há períodos de altas e baixas temporadas de consumo e presença de clientes ou hóspedes. “Na CLT eu ao menos sabia que o meu salário fixo estaria garantido, independente da sazonalidade”.  

Poder ou necessidade?

Não podemos romantizar a vida de qualquer pessoa que decide empreender. Pode ser um caminho mais fácil, que se pautou em recursos financeiros bem organizados e um planejamento do negócio, ou mais complicado, com altos e baixos, testes, perdas e ganhos. 

No caso das mulheres, o mercado de trabalho em si, além da questão do empreendedorismo, já é um desafio, como destacamos anteriormente. E isso vem atrelado a um contexto histórico, afinal, nosso papel há muitos anos ainda era apenas ocupar a gestão do lar e das atividades de uma família.

Esse atraso em relação às oportunidades já oferecidas aos homens faz com que esse tema seja tão plural e cheio de significados.  

Talvez muitas mulheres não tenham essa percepção do poder que vivenciam ao sentar em uma cadeira importante dentro de uma grande companhia ou simplesmente ingressar como funcionária. O mesmo vale para aquelas que encontram o caminho do empreendedorismo. E isso geralmente acontece, pois a necessidade da escolha não é tão  fascinante assim. 

“Não houve nenhum preparo específico, além de um planejamento financeiro. Eu tinha a certeza que queria e precisava administrar melhor a maternidade, e com a realidade que eu tinha não seria possível. Não fiz grandes planejamentos, mas com o tempo conquistamos maturidade organizacional. A decisão foi instintiva.”, afirma Dansa. “No início, servi café da manhã para os hóspedes com o Dom no sling e fazia as faxinas nos quartos enquanto ele dormia.”, complementa. 

Como se preparar para o empreendedorismo na maternidade 

Essa frase pode parecer uma receita mágica de sucesso, mas, infelizmente, não existe uma preparação ideal e perfeita.

Cada mulher está dentro de uma realidade social, em uma estrutura familiar, e com sonhos e necessidades distintas. 

Ainda assim, podemos indicar algumas etapas interessantes de como você pode se preparar e motivar para viver o seu empreendedorismo na maternidade. 

Identifique o seu objetivo

Por que você quer empreender, e quais são as suas metas pessoais e financeiras a serem conquistadas em diferentes prazos? 

Na dúvida, não empreenda

O anseio de mudar o status quo rapidamente por conta de tantas transformações faz muitas mães pensarem em abrir um negócio em busca de flexibilidade e maior fonte de renda. Na maioria das vezes empreender sem conhecimento básico e planejamento financeiro pode destruir a saúde mental das mães empreendedoras. Portanto, na dúvida, teste o modelo de negócio enquanto desfruta de alguma estabilidade numa carreira com renda previsível.

Estude e defina o seu modelo de negócios

Todo mundo tem um talento ou um sonho de trabalhar com determinado serviço e produto, porém, apenas isso não é suficiente. 

É importante ir além e construir um conhecimento aprofundado sobre o ambiente em que vai atuar, até mesmo para que você prospere com mais velocidade. 

Vale lembrar que esse caminho do estudo é algo constante, pois tudo se atualiza em uma velocidade que você e o seu negócio precisam minimamente acompanhar. “Os meus maiores desafios de negócio hoje são justamente o que também vivi como CLT, em que preciso estar sempre me atualizando com as práticas de mercado, buscando novas ideias e fazendo networking. E são essas recorrências e outras tomadas de decisão que vão diferenciar o meu sucesso, no negócio e na minha carreira.”, finaliza Facchinato.  

Uma pitada de desafio

Não espere pelo momento perfeito. Assim como na maternidade muitas vezes não existe esse tempo ideal para organizar a vinda de um bebê, no empreendedorismo também. 

Experimente, erre, corrija e aprenda com o seu negócio. Não nascemos mães perfeitas, nem poderemos ser, vamos evoluindo junto com a transição de cada fase dos nossos filhos. 

Confie na sua marca

É importante ter uma proposta de valor para a sua marca e fazer com que o seu público se identifique com ela. 

Em um mundo de consumo, queremos nos aproximar das experiências mais positivas e relevantes, que nos engajam e criam felicidade ao participar, seja usando um serviço ou comprando um produto. 

Na maternidade, por exemplo, queremos amar, cuidar e também inspirar, para que você crie semelhantes que possam fazer a diferença que você quer ver no mundo. 

“Dentro do que é possível entre as distintas realidades, precisamos nos imaginar imersas nessa rotina do que estamos oferecendo, e o mágico é encontrar conforto dentro desse sonho de empreender. É preciso estar confiante.”, finaliza Dansa. 

Rede de apoio

Falamos muito em ter uma rede de apoio quando o assunto é a maternidade e essa rede é importante em vários sentidos, não só para ajudar a resolver problemas da rotina, como ter alguém que busque o seu filho na escola, como também para compartilhar as experiências, alegrias, medos e angústias. 

Quando você decide empreender, a rede de apoio vem na mesma estrutura da motivação e suporte. Precisamos ter por perto pessoas que nos ajudem a acreditar no que estamos nos desafiando, mesmo que no fim do dia, quem coloque a mão na massa para isso funcionar seja somente você. 

Lembre-se todo negócio se faz com pessoas, produto e paixão. Cercar-se de gente que se importa com você de verdade é um caminho absolutamente lucrativo. 

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