Dependência emocional: o que é e como sair dela?

O transtorno pode afetar qualquer pessoa e é marcado por comportamentos aditivos em relacionamentos amorosos, ou não.
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“Nenhum homem é uma ilha”. Embora o filósofo inglês Thomas Morus tenha dito a famosa frase no século XVI, ela não poderia ser mais atual. Vivemos em uma sociedade cada vez mais conectada e interdependente, onde quase não há mais distinção do público e do privado.

Dados de 2016 já apontavam uma incidência de 5 a quase 20% da população com dependência emocional, de acordo com o artigo “Dependência emocional: uma revisão sistemática da literatura”, do portal de Periódicos Eletrônicos de Psicologia (PePSIC).

Mas, afinal, o que é dependência emocional?

Ainda de acordo com o estudo, “a dependência emocional é um transtorno caracterizado por comportamentos aditivos em relacionamentos amorosos”. Porém, o psicanalista Igor Capelatto vai além: “hoje, revisitando a literatura psicanalítica e psicológica, a prática clínica e as demandas em grupos sociais, podemos notar uma intensa dependência emocional em várias outras relações: entre pais e filhos, entre irmãos, entre amigos, entre alunos e professores, entre colegas de trabalho. Podemos assim definir que a dependência emocional é uma necessidade de ter o outro de qualquer que seja a relação, 24 horas por dia”, explica.

Ainda de acordo com o psicanalista, a dependência também tem como característica o medo da perda e a ideia de que a pessoa não conseguirá fazer nada sem a outra, sozinha. “Esse medo ou falta de confiança em si, nasce de um pensamento de impotência, de incapacidade (não sou suficiente comigo mesmo). O desejo, o afeto, a relação com o outro torna-se um vício, sai do lugar saudável e começa a virar uma espécie de transtorno. Junto, vem o sentimento de que o outro não me quer mais, se ele fica algum tempo sem dar atenção”, conta.

Aos 42 anos, Marta* reconhece que sofreu isso em todos os relacionamentos. “Tive uma mãe abusiva, que tratava meu irmão melhor que eu e fazia com que eu me sentisse um problema na vida dela. Ela gritava comigo o tempo todo e, não importa o que eu fizesse, nunca era o suficiente”, conta. “Tudo o que eu queria era receber a aprovação dela, eu ficava o tempo todo tentando chamar a atenção, para o bem ou para o mal. Muitas vezes fazia coisas erradas na escola só para que ela percebesse minha existência. Isso arruinou o meu emocional e só consegui ter relacionamentos de dependência”.

Hoje, casada há 15 anos, vive mais uma relação de total dependência, tanto financeira, quanto emocional.

“Infelizmente, num mundo capitalista, a independência emocional passa também pela independência financeira”, diz Bruna Silva, psicóloga. “Muitos dependentes emocionais deixam de trabalhar para serem, consciente ou inconscientemente, dependentes de seus parceiros”, explica.

Marta é uma delas. “Deixei meu emprego para poder cuidar da casa e do meu marido. Agora, quando tento retomar o emprego, ele coloca uma série de restrições, do tipo não poder trabalhar aos finais de semana para não atrapalhar a programação com a família dele”, conta.

Como se livrar da dependência emocional?

“Para sair dessa situação, é preciso buscar ajuda terapêutica para estabelecer segurança na autoestima, fortalecer pensamentos positivos e entender de onde está vindo a ideia de que sozinho não dá conta e que precisa do outro o tempo todo”, explica Capelatto. Pode ser uma palavra “mal-dita” por alguém e que fixou na mente, pode ser um trauma (uma perda), um abandono, de um bullying ou de uma superproteção na infância.

De acordo com o psicanalista, quando existe essa dependência, a ansiedade e o pânico costumam aparecer de forma intensa. “Se for o horário da terapia, o terapeuta irá ajudar a trabalhar esses sintomas, se for num momento que está na escola ou no trabalho, é preciso ter um amparo nestes espaços para acolher a pessoa e ajudar, seja com um terapeuta do trabalho ou da escola, seja com uma conversa. Em casa, os parentes devem dar o acolhimento e, quando preciso ligar para um terapeuta. Quando o pânico ou ansiedade estiverem numa forma “descontrolada”, é preciso procurar um psiquiatra que possa medicar e, quando melhorar os sintomas, é necessário procurar uma terapia”, finaliza.

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