Comportamento de consumo: por que você compra além do que precisa?

Estudo mostra que 76% das pessoas no Brasil não praticam o consumo de forma consciente e que, entre as mulheres, essa relação está intimamente ligada a questões emocionais.
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Você já se perguntou que tipo de prazer você sente ao adquirir algo novo? Pode ser um item simples, como brincos, roupas e outros acessórios, a algo maior como uma TV nova para a sua sala ou um carro. 

A verdade é que praticamente todo mundo sente algo bom quando está fazendo compras, mas, nem sempre, esse consumo é feito de maneira consciente e pode trazer até mesmo consequências graves para a sua organização financeira. 

Nesse contexto, vamos conversar com uma especialista sobre o tema e trazer informações relevantes para que você possa melhorar a sua relação com o consumo. 

Consumidora consciente

Em linhas gerais há uma definição bem mais ampla sobre ser um consumidor consciente

“O consumidor consciente é aquele que leva em conta, ao escolher os produtos que compra, o meio ambiente, a saúde humana e animal, as relações justas de trabalho, além de questões como preço e marca.” 

Ou seja, nesse sentido, ao consumir precisamos também pensar no impacto disso em relação à sociedade e ao meio ambiente, algo que vai além das nossas relações emocionais e de necessidade ao comprar algo. 

Como atualmente essa discussão a respeito dos reflexos das nossas atitudes com coletivo, se faz necessário começarmos a nossa discussão também trazendo esse conceito para que seja um conhecimento importante para o dia a dia e, quem sabe, para incentivar a mudar o seu comportamento. 

Eu, consumidora.

Um estudo do Instituto Akatu, uma organização não governamental sem fins lucrativos que visa conscientizar e mobilizar a sociedade para o consumo responsável, afirmou que 76% dos mais de mil entrevistados, entre homens e mulheres com mais de 16 anos, não praticam o consumo consciente.

Além disso, viu-se que entre as pessoas que praticam o ato do consumo de maneira mais consciente, 40% são pessoas com ensino superior, 24% têm mais de 65 anos e 52% são pertencentes ao que consideramos classes AB. 

Destes últimos dados, poderíamos entender que há uma necessidade latente de disseminar essa cultura consciente com mais vigor entre os jovens, os menos escolarizados e de classes mais baixas. 

Ter um comportamento de consumo mais sustentável requer uma mudança de hábitos e, sem dúvidas, uma nova forma de se relacionar com esse ato de maneira emocional. 

Outra pesquisa, divulgada pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) e pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL), ainda mostra que quando falamos de gênero, 49% das mulheres são motivadas por impulsos relacionados a sua baixa autoestima, insegurança e problemas com a aparência. 

Muito provavelmente esse dado não seja uma surpresa entre as mulheres, afinal, coletivamente e individualmente carregamos pesos sociais já amplamente conhecidos. 

Para Rubia Gouveia, educadora e mentora de finanças pessoais, paulista de 38 anos, o consumismo pode ser explicado com uma metáfora da chupeta para um bebê.  

“Quando o bebê chora, você dá a chupeta para ele e você ganha tempo. Tempo para saber se esse choro é fome, se é a fralda suja, se é sede ou se é cansaço ou sono, e então você ganha tempo para cuidar do que precisa ser feito, como pegar o leite, ou fazer a comida, ou por para dormir. O consumismo é a mesma coisa, quando estamos com alguma questão emocional que não está bem resolvida, a gente tenta tapar esse buraquinho adquirindo algo, que é como colocar a chupeta, para anestesiar aquele choro.” 

Ela ainda explica: “Então, é assim, a gente às vezes precisa de um abraço e acaba na verdade comprando um sapato. A gente às vezes precisa só descansar, mas ficamos no instagram vendo anúncios de lojas e fazendo compras, e assim por diante.”.

Provavelmente essa soma de ações pode ter parecido semelhante ao que você passa. Mas, como saber se você realmente é uma pessoa consumista?

Será que eu sou consumista? 

Para entender se você é uma pessoa consumista, Rubia nos recorda sobre o princípio de Pareto, também conhecida como lei dos poucos vitais ou princípio de escassez do fator.

“A regra do 80/20, diz que a maioria das coisas podem se resumir a 80% e 20%, em que, por exemplo, 80% das nossas despesas mensais estão em 20% das nossas categorias de gastos.”, define.

“Na prática, para exemplificar melhor dentro de atitudes de consumo, eu costumo falar que 80% do tempo estamos usando apenas 20% do nosso armário, que são as coisas que a gente mais gosta e mais usa. Nesse sentido, o meu convite é testar: separe as coisas que você mais usa, coloque o resto em uma mala, e tente passar 3 meses só com essas coisas. Eu arrisco dizer que é possível e que muito provavelmente o que te faz manter todo o resto é apego.”, acrescenta. 

Em suas mentorias, Rubia nos explica que o que ela observa é que as pessoas com a autoestima baixa são as que mais gastam dinheiro com roupas. O que é uma estratégia contraditória, pois a compra que parece em um primeiro momento nutrir um valor positivo para autoestima, na verdade está na contramão, além de causar prejuízos financeiros a serem percebidos em curto ou médio prazo. 

Ou seja, aumentar o seu consumo não melhora a sua qualidade de vida e nem reflete em benefícios para a sua saúde emocional. 

“O Brasil bateu recorde de endividamento e inadimplência, comprovado em estudo que aponta que  de cada dez brasileiros, quatro estão com dívidas atrasadas – segundo Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas e do Serviço de Proteção ao Crédito. Se somarmos aos recordes de registros de pessoas com problemas ligados à saúde mental e emocional, podemos evidenciar que essa conta de consumismo não fecha.”, pontua. 

Melhore os seus índices de consumo 

Dito tudo isso, como será que podemos reorganizar a nossa intuição para o consumo consciente? Fizemos essa pergunta para a especialista e vamos às dicas: 

Mude os seus hábitos

A primeira dica que a Rubia nos traz vem da crença de que consumo é um hábito. “Nós não compramos mais coisas porque precisamos, mas sim por hábito. E para mudar esse hábito talvez você precise usar o recurso de criar barreiras, ou seja, dificulte o acesso a fazer compras.”

Fuja dos estímulos

A segunda dica está bastante incorporada a sua mudança de hábito que é: fugir de estímulos e gatilhos. E, hoje em dia, só podemos pensar em um único caminho, que é bloqueando o máximo possível cadastros em lojas e marcas que enviam promoções o tempo todo, ou pulando os inúmeros anúncios que passam diariamente pela tela do nosso celular. 

“É importante, além de fugir desses gatilhos, criar consciência. Uma boa fórmula é você sempre se perguntar o que realmente você estará atendendo para si, e por quanto tempo você vai se atender, ao comprar determinado produto. Por exemplo: se você comprar uma blusa, qual necessidade sua está sendo atendida? De autoestima, pertencimento, amor próprio? E aquele carro, por que comprar? Talvez para ser mais respeitada ou ter acesso a determinado grupo de pessoas? Enfim, faça perguntas a si mesmo antes de fechar o seu carrinho de compras.”, completa. 

A grama do vizinho não é tão verde

Para essa terceira e última dica, Rubia cita livremente a psiquiatra e autora de livros Ana Beatriz Barbosa Silva, que nos diz que “nós não conseguimos viver as próprias vidas porque estamos sempre olhando a vida do outro, que aparentemente tem mais. O problema que o que a gente vê não é necessariamente a realidade.”

“O mal do século é a comparação, estamos sempre nos comparando o tempo inteiro e não conseguimos olhar mais para dentro. É como se o clichê da grama do vizinho fosse mais verde sempre, e vivemos isso o tempo todo. É quase como se não formos igual a alguém, a gente não pertencesse, não existisse, a nossa existência fosse invalidada. O problema é que a cada patamar que você subir ou conquistar, pode ser social, financeiro e outros, vai ter alguém que tem mais do que você, então essa competição é dura, quase desumana. Precisamos ser mais cuidadosos com nós mesmos. ”, conclui. 

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