“Bitcoin não deve ser restrito ao público masculino”, diz diretora da primeira cripto conta do Brasil 

Julieti Brambila conheceu as criptomoedas em 2014 e já passou por desafios para conquistar o seu espaço no mercado financeiro
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Julieti é diretora jurídica do Alter, a primeira cripto conta do Brasil, que conecta a criptoeconomia com o sistema financeiro tradicional

Julieti Brambila, 30, ficou surpresa e entusiasmada ao conhecer os primeiros conceitos de bitcoin, moeda digital, descentralizada e que não necessita de terceiros para funcionar, quando estava no fim da graduação de Direito, em 2014.

Ela lembra que ficou curiosa porque além de gostar de tecnologia, também já entendia sobre o mercado financeiro e como ele funcionava. “Isso me rendeu uma série de dúvidas e me instigou bastante, principalmente sobre quais seriam os reflexos dessa moeda digital no âmbito do Direito, que era o que eu estudava”, lembra. 

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Na época, ela conta que não conhecia ninguém que pesquisasse o tema no Brasil e, mesmo assim, decidiu escrever a monografia sobre bitcoin. “Mergulhei totalmente no assunto e acabou sendo um trabalho bem interdisciplinar, que envolvia tecnologia, economia e legislação. Queria entender os motivos dessa onda da criptomoeda que excluía os intermediários das transações, muito por causa da crise de 2008. Foi um desafio e tanto, mas desde então acabei entrando na comunidade cripto brasileira e estando cada vez mais por dentro do assunto”, diz. 

Hoje, Julieti é diretora jurídica do Alter, a primeira cripto conta do Brasil, que conecta a criptoeconomia com o sistema financeiro tradicional. “O meu papel, em linhas gerais, é fazer o Alter estar em conformidade com todas as leis e regulações do setor. Temos um desafio muito grande em desmistificar a criptoeconomia para mostrar que, embora a segurança jurídica seja algo que se discute por não termos regras precisas no setor, a gente consegue sim utilizar boas praticas de mercado e ficar em conformidade”, explica.

Mulheres investem em bitcoin?

Apesar dos avanços por mais igualdade de gênero, o mercado financeiro ainda é dominado majoritariamente por homens. Mas, se levarmos em consideração o universo das criptomoedas, o cenário é ainda mais desigual. 

Em 2020, um relatório divulgado pela Receita Federal sobre operações com cripto no Brasil mostrou que em operações acima de R$ 30 mil, apenas 11% dos grandes investidores de bitcoin são mulheres no país.

Julieti admite que ainda há muito a ser feito para alcançar o público feminino. Ela detalha que no próprio Alter ainda são poucas investidores mulheres, menos de 10% do total de clientes. “A gente gostaria muito de mudar esse panorama, acho que isso depende muito de trazer as mulheres para o mercado financeiro. Como na nossa cultura a responsabilidade com o dinheiro fica que sempre com os homens, é um processo que estamos amadurecendo ainda.”

Em sua trajetória, a advogada e pesquisadora de moedas digitais revela que já enfrentou preconceito e barreiras no setor financeiro. “Teve o desafio dos demais entenderem o que eu estava querendo naquele ambiente, que é patriarcal e masculino. Enfrentei algumas dificuldades, mas é isso: a gente vai enfrentando e tentando se projetar para mostrar para mulheres que bitcoin, mercado financeiro e investimentos não é algo restrito ao publico masculino. Todo mundo deve ser lidar com as suas próprias finanças”, destaca. 

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A diretora jurídica do Alter acredita que o interesse por finanças, economia e por entender como funciona o dinheiro seja algo que veio da infância por influencia de sua mãe. “Sempre foi o pulso firme e a dona do dinheiro em casa. Eu tenho memórias afetivas dela fazendo a conta e indo ao banco”, lembra. Como a mãe já investia na bolsa de valores em uma época que não era comum mulheres nesse mercado, Julieti acredita que isso serviu de exemplo e inspiração. “Ela tinha essa vontade de multiplicar o patrimônio dela de forma inteligente. Eu sempre quis fazer o mesmo, ter a minha independência financeira.”

O sobe e desce do bitcoin

O interesse por bitcoin no Brasil e no mundo certamente aumentou bastante nos últimos meses. No fim de março de 2020, um bitcoin valia R$ 31,9 mil. Exatamente um ano depois, ele ultrapassou R$ 321,7 mil, o que representa um aumento de mais de 900%. Hoje, a atual cotação é de R$ 173 mil. Uma das características mais conhecidas do mercado de criptoativos é a sua volatilidade, a variação no valor de um ativo.

“As mulheres têm mais controle, inteligência emocional e resiliência para esse tipo de investimento de renda variável. Justamente porque a mulher tende a ser um pouco mais analítica, e antes de entrar no mercado ela se municia mais de informação do que o público masculino”, diz Julieti ao explicar que há espaço para aumentar o percentual de investidoras nesse mercado.

Para ela, o desafio é conjunto e é preciso informação. “No primeiro momento, cripto parece complexo porque além da questão financeira, também tem a parte da tecnologia. Não parece seguro. Por isso as empresas precisam trazer mais mulheres para o seu negócio, para que elas consigam se projetar no mercado de uma maneira saudável e quebrar esses paradigmas que não são verídicos.”

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