Jogos NFT ou blockchain games: entenda o que são e os riscos que oferecem

Baseadas na negociação de tokens não-fungíveis, plataformas têm recebido cada vez mais atenção de investidores em criptoativos
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NFT
Criada pela Sky Mavis em 2018, Axie Infinity é baseado na rede Ethereum e um dos jogos NFTs mais populares do mundo (Foto: Axie Infinity/ Divulgação)

Considerada a palavra de 2021 pelo dicionário Collins, NFT é a sigla para Non-Fungible Token, ou token não-fungível em português. O termo se refere a arquivos digitais certificados com um selo que atesta sua unicidade, ou seja, que são insubstituíveis e não existe repetição. Dessa maneira, uma foto, vídeo, personagem ou qualquer outra obra digitalizada torna-se um item colecionável único e registrado como tal. 

A popularização dos NFTs estimulou o surgimento de uma nova tendência: os jogos NFT ou blockchain games. Neles, alguns elementos – ou até todos os itens da plataforma – são ativos únicos, registrados por meio da tecnologia blockchain, que gera um código eletrônico. Assim, sua autenticidade fica garantida.

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Camila Nascimento, advogada e especialista em direito digital e proteção de dados, explica que, no ambiente dos jogos, os proprietários dos NFTs negociam os itens – que possuem valores e atributos diferentes – com outros jogadores. “Como ocorre com jogos eletrônicos comuns, os jogos NFT também podem oferecer os chamados itens colecionáveis, o que gera engajamento e atrai o público. Para os aficionados por games, é uma aventura até conseguir uma skin rara [vestimenta do personagem, arma ou outro item utilizado para a mecânica do jogo], por exemplo, e os jogos NFT podem proporcionar esse item de desejo ao jogador”, afirma. A diferença é que, na modalidade NFT, os itens adquiridos são totalmente exclusivos. 

Mas, para além dos interesses de colecionadores, os jogos NFTs têm se tornado alvo dos jogadores que desejam lucrar com os ativos digitais. Os ganhos com os games dependem da dinâmica de cada um deles, que pode se enquadrar no método “play-to-earn” (jogar para ganhar)  ou “in-game” (dentro do jogo). 

Camila esclarece que, na primeira categoria, os participantes têm rendimento com a interação no jogo e, normalmente, recebem moedas por isso. “Basicamente, quanto mais se joga, mais se ganha. Uma vez que o jogador alcança níveis avançados na plataforma, fica mais apto a conquistar itens mais raros e valiosos.”

Já na segunda modalidade, o jogador recebe tokens não-fungíveis conforme avança de nível no jogo, o que a especialista em direito digital equipara a passar de fase em games de console. “O jogador não é remunerado em criptomoeda, por exemplo, mas pela venda interna dos itens que ganhou. Mais uma vez, quanto mais raro o item, mais caro.”

A advogada elucida, ainda, que é possível jogar sem um investimento inicial, como na aquisição de itens, mas muitos deles requerem um valor para começar a render. “Alguns jogos não possuem investimento inicial para ingresso, ou seja, o jogador não precisa comprar nenhum item na própria loja virtual do jogo ou investir um valor para entrar no game. Outros exigem que o jogador compre algum item para que possa utilizar como método de entrada na plataforma do jogo”, diz. 

Lucro com jogos NFTs

A especialista em investimentos e produtora de conteúdo sobre criptomoedas Emilly Shey explica que os jogos funcionam como uma maneira de negociar NFT’s dentro de redes de blockchain, como Ethereum, Polygon e Binance Smart Chain. Além disso, ela acrescenta que cada game possui suas regras quanto ao rendimento, ainda que façam parte da mesma categoria (play-to-earn ou in-game). 

Emilly dá exemplos com jogos populares atualmente. “No ‘Thetan Arena’, você só ganha dinheiro se vencer as batalhas e pode resgatar apenas a partir da fase bronze 1. Já no ‘Bomb Crypto’, basta você comprar os personagens do jogo e deixar a tela aberta, que eles vão minerar moedas para o jogador. É muito simples. O que muda é que se você tirar um personagem comum, ele vai minerar menos. Mas se ganha dinheiro com qualquer personagem. Nesse jogo, especificamente, só é possível sacar quando o jogador tiver 40 bcoins [tokens do jogo].”

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Moeda oficial do Bomb Crypto é a Bcoin, que possui cotação diária (Foto: Bomb Crypto/ Divulgação)

Camila esclarece que, apesar de não haver regulamentação que indique se a propriedade dos NFTs pertence aos jogadores ou aos desenvolvedores, entende-se que os ativos pertençam a quem joga, uma vez que este é o dono do código eletrônico que atesta a autenticidade do item ganho. Por isso, esses artigos digitais podem ser negociados por criptomoedas, como bitcoin e ethereum, por exemplo, ou pela própria moeda do jogo, que pode ser convertida em valores monetários de moeda corrente, como o dólar, por meio de transações em corretoras de carteiras digitais.

Graças à possibilidade de ganhar dinheiro apenas jogando, muitas pessoas têm começado a atuar no mundo dos jogos NFTs. Esse é o caso da estudante de pedagogia Karina Gouveia, 33 anos, que iniciou no “Litebringer” e depois migrou para o “Axie Infinity” – principal play-to-earn do mundo atualmente – motivada por um colega que já participava do game. 

Ela conta que já estava acostumada a jogar com foco em obter retorno financeiro, mesmo antes dos jogos NFTs, e, por isso, não teve dúvidas em começar a injetar dinheiro no título. A estudante entrou para a plataforma como “schoolarship” – quando a conta é dividida entre mais de um jogador – para treinar e avaliar se deveria investir um valor mais alto. 

Após o período usado para “teste”, Karina comprou R$ 8 mil em personagens e passou, junto ao marido, a fornecer contas “schoolarship” para outros jogadores que não podiam ou não desejavam gastar o mesmo montante. Com o valor obtido, os dois adquiriram mais itens no “Axie Infinity” e, neste momento, já possuem R$ 19 mil aplicados no play-to-earn. 

Apesar de afirmar que ainda não teve nenhum prejuízo com os jogos, Karina diz que ainda faltam R$ 7 mil para cobrir o valor investido, quantia que ela prevê recuperar em quatro ou cinco meses. Ela ainda destaca que os NFTs são, no momento atual, sua única fonte de renda e que pretende continuar com as aplicações nos games.

Conheça os riscos

Ainda que sejam populares e pareçam vantajosos em muitos sentidos, os jogos blockchain apresentam uma série de riscos a quem decide aplicar dinheiro em seus NFTs, já que não possuem regulamentação e nem órgão fiscalizador. Emilly Shey alerta que um dos perigos envolve os golpes aplicados pelos criadores dos games. “Existe a possibilidade de os desenvolvedores incentivarem as pessoas a jogarem, fazendo com que o token se valorize. Depois, eles vendem seus tokens na alta e acabam com o jogo. Por isso, é necessário avaliar quem está por trás dos títulos”, afirma. 

Outras questões envolvendo as plataformas dos jogos podem levar os participantes ao prejuízo, como um possível ataque hacker ou a queda do game devido ao alto volume de jogadores, como explica a sócia e diretora digital e compliance da Russell Bedford Brasil, Amanda Israel Fraga. “Hackers podem retirar todas as moedas que os jogadores possuem, além de poderem até derrubar o jogo.” 

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A probabilidade de os ataques virtuais ocorrerem são tão altas que, recentemente, o jogo “Crypto Burgers” foi invadido e houve um prejuízo de US$ 770 mil em BURG, o token do game. 

Além disso, ainda é possível cair em golpes como o phishing, como esclarece Camila Nascimento. “Golpistas criaram sites de negociação de itens NFT falsos para atrair jogadores e conseguir que eles façam algum investimento achando se tratar de um jogo legítimo. Outros casos de engenharia social nessas plataformas é o oferecimento de brindes ou vantagens no jogo, para coletar dados do jogador, como logins e senhas.”

Por fim, o risco mais evidente é a perda do valor injetado nos tokens não-fungíveis, já que eles podem ser desvalorizados por influência de uma série de variáveis. “Se as pessoas perdem o interesse pelo jogo e param de utilizá-lo, os itens começam a valer menos do que antes, visto que isso varia conforme a procura e popularidade”, finaliza Amanda.

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