Setor de veículos elétricos chama atenção de investidores da bolsa da valores

Estimativas apontam que 40% do mercado automotivo brasileiro será de modelos dessa categoria até 2030
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Carro elétrico recarregando em estação (Foto: Mikes Photography/Pixabay)

Na corrida pela modernização da mobilidade urbana, os carros elétricos estão cada vez mais presentes. Se antes eram o sonho de um futuro distante, hoje, esses modelos menos poluentes provam que vieram para ficar. 

Um relatório da Agência Internacional de Energia (AIE) mostrou que, em 2021, foram vendidos 6,6 milhões de carros elétricos em todo o mundo. O número é mais do que o dobro de 2020, quando 3 milhões deles foram comercializados. O estudo revelou, ainda, que hoje existem cerca de 16 milhões desses veículos em circulação.

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No Brasil, a frota de eletrificados leves já é superior a 82 mil unidades, devendo ultrapassar a marca dos 100 mil no início do segundo semestre, de acordo com dados da Associação Brasileira do Veículo Elétrico (ABVE). No ano passado, o mercado de elétricos e híbridos registrou um recorde de 34,9 mil unidades vendidas. Os números representam um aumento de 77% sobre os 19,7 mil emplacamentos realizados em 2020.

Segundo a Associação Nacional dos Fabricantes de Autoveículos (Anfavea), os eletrificados poderão representar até 62% da frota de carros do país em 2035.

De olho na bolsa de valores

A evolução do segmento está provocando movimentações até na bolsa de valores. Um exemplo disso é a Rivian, fabricante de caminhões elétricos que fez sua estreia em 2021 em Wall Street e alcançou mais de US$ 100 bilhões em valor de mercado, superando a Ford.

No Brasil, empresas de setores correlatos e até de outros segmentos da bolsa também já estão acompanhando o cenário. A Movida (MOVI3), por exemplo, adquiriu unidades com motores elétricos para sua frota de aluguel. Em 2021, a Ambev (ABEV3) anunciou a compra de 150 caminhões elétricos da fabricante chinesa JAC Motors. Já a WEG (WEGE3) fechou um acordo com a Neoenergia (NEOE3) que prevê a exclusividade de fornecimento de estações de recargas para veículos elétricos.

Manuela Campolina, operadora de mesa de renda variável da 3A Investimentos, explica que os veículos elétricos já são uma tendência em todo o mundo, impulsionados principalmente pelas pautas ESG, sigla em inglês para governança ambiental, social e corporativa. “Em muitos países, políticas governamentais vão acelerar essa mudança, mas, mesmo sem novas políticas ou regulamentações, essa tendência já é muito comum na Ásia e na Europa.”

Ela cita o exemplo de políticas que estão sendo implementadas em Fernando de Noronha, com o projeto “Noronha Carbono Zero”, no qual o governo de Pernambuco pretende impedir a circulação de veículos à combustão no arquipélago até 2030. “Atualmente, empresas de automóveis como a Tesla e a Ford, que estão listadas como BDRs na bolsa brasileira, atuam diretamente no aumento dos carros elétricos no Brasil”, diz.  

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Manuela destaca, ainda, que não são apenas as empresas do setor automotivo que estão envolvidas neste crescimento, mas também companhias do segmento de utilities, que engloba indústrias de serviços essenciais como água, gás e energia. “Isso porque o aumento das vendas de carros elétricos depende de uma infraestrutura que permita essa circulação. Em grandes cidades, como São Paulo, é muito comum encontrar postos de carga de veículos elétricos em estacionamentos, porém, essa estrutura ainda é muito escassa em cidades menores e nas estradas, o que dificulta, por exemplo, longas viagens”, analisa a especialista.

O futuro é dos elétricos?

Táxis voadores, carros por assinatura e estações rápidas de recarga de veículos elétricos estão entre os grandes avanços para os próximos dez anos, de acordo com a 22ª edição da “Pesquisa Executiva Anual do Setor Automotivo Global 2021” (GAES), da KPMG, conduzida com 1.118 executivos de 31 países.

Os entrevistados estimaram a porcentagem de vendas dos veículos novos alimentados por bateria, excluindo híbridos, dentro de cada mercado, até 2030. Na média, eles contabilizaram que esses modelos vão representar metade do mercado automotivo no Japão, na China, nos Estados Unidos e na Europa Ocidental e cerca de 40% no Brasil e na Índia.

A engenheira e mestre em energia pela Universidade de São Paulo (USP) Zenilda Ribeiro, sócia-diretora da Elev, empresa que desenvolve soluções para o mercado de eletromobilidade brasileiro, concorda que diversas empresas brasileiras já começaram a investir na frota de veículos elétricos. “Isso acontece, em parte, pela tendência de mercado que, cada vez mais, leva os princípios de ESG para seus negócios. A sustentabilidade é a agenda a ser trabalhada pelas grandes empresas e o mundo se volta para o meio ambiente e para o impacto negativo dos combustíveis fósseis. Portanto, a eletromobilidade é mais do que uma tendência tecnológica.”

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Para a especialista, a eletrificação no Brasil ainda é tímida em comparação a outros países. Mas ela cita que os indícios de transformação do setor da mobilidade não devem ser  ignorados. “Já conseguimos observar grandes movimentações na bolsa internacional das empresas de eletromobilidade, como é o caso da Rivian em 2021, que causou grande agitação quando abriu capital. No Brasil, entretanto, o mercado é mais tímido. O que temos são empresas já conhecidas, montadoras – como Renault, Toyota e Nissan -, investindo fortemente no setor e diversificando seus motores. Acredito que o impacto só será perceptível no longo prazo.”

Mobilidade elétrica no Brasil

Segundo dados da ABVE, em janeiro houve o emplacamento de cerca de 2.500 carros movidos a eletricidade no país, alta de 93% sobre um ano antes. Iêda de Oliveira, diretora de veículos pesados da Associação Brasileira do Veículo Elétrico (ABVE), argumenta que a mobilidade elétrica é a macrotendência da economia mundial mais importante deste século. “Estamos vendo o começo do fim da civilização do petróleo e o início de uma era baseada em energias renováveis e eficiência energética. Todas as indústrias de transportes em geral, de componentes e de energia estão se preparando para essa transição. As que não acreditaram estão perdendo terreno. Em poucos anos, a Tesla tornou-se a empresa de automóveis mais valiosa do planeta, desbancando gigantes que dominaram o mercado durante décadas.”

Iêda, que também é diretora da Eletra, empresa brasileira de ônibus elétricos, híbridos, trólebus e retrofit, pontua que, no Brasil, empresas como a WEG, que é líder mundial em motores elétricos, são campeãs na bolsa de valores. “Vale lembrar também que a Great Wall Motors, uma grande montadora chinesa, acaba de instalar uma fábrica em São Paulo, onde investirá R$ 10 bilhões em dez anos só para produzir veículos elétricos e híbridos. E não é só o transporte que está mudando. Empresas de energia solar e eólica crescem rapidamente. Um novo mercado de geração distribuída e recarga elétrica pública e residencial está se formando no Brasil, puxado por grandes empresas de energia e por startups inovadoras.”

A diretora de veículos pesados da ABVE defende, ainda, que a integração entre eletromobilidade e geração e distribuição de energias renováveis mudará a vida das pessoas em poucos anos. “Talvez com uma força semelhante à mudança trazida pela internet e pelos smartphones nos últimos 30 anos.”

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A especialista não considera que a infraestrutura e a tecnologia nacionais sejam empecilhos para os carros elétricos ganharem força por aqui. “Temos muita tecnologia. A Eletra e a WEG participaram diretamente da criação do e-Delivery, o caminhão elétrico mundial da Volkswagen. Os primeiros protótipos foram desenvolvidos no Brasil, com tecnologia nacional. Temos também uma sólida indústria de ônibus elétricos e híbridos. Um outro exemplo é a Toyota, que produziu com tecnologia nacional o primeiro carro elétrico híbrido flex a etanol.”

Iêda lembra que em dezembro de 2020 eram 350 eletropostos públicos e semipúblicos no Brasil. Em março de 2021, 500. Em fevereiro deste ano, 1.250. A previsão dela é que esse número chegue a 3.000 até o fim do ano. E a 10 mil em três anos. “A chamada estratégica da Aneel de 2018 estimulou inúmeros projetos de grande porte para instalação de redes de recarga. Elas já estão sendo instaladas em rodovias e corredores de trânsito de várias regiões do país, no Sudeste, Sul e Nordeste. Essa rede cresce num ritmo totalmente compatível com o aumento da frota de veículos elétricos, que, por enquanto, ainda é pequena.”

Para ela, o maior empecilho para a expansão da eletromobilidade no Brasil, hoje, é a ausência de um conjunto integrado e coerente de políticas governamentais de apoio a essa estratégia no transporte público e privado. “Diferentemente da Europa, onde há menos garagens particulares nas grandes cidades, no Brasil será possível recarregar seu futuro carro elétrico de madrugada, na garagem da sua casa, enquanto dorme, assim como fazemos com os celulares. O veículo elétrico permitirá o uso mais eficiente da infraestrutura elétrica já disponível. Por isso, a questão de uma ampla rede pública de recarga não é tão importante no Brasil quanto na Europa ou China. Mas é claro que temos de melhorar todo o ambiente regulatório do mercado de energia. A ABVE defende tarifas diferenciadas para estimular o consumo da eletricidade disponível à noite ou de madrugada.”

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