5 atitudes que provam que Elza Soares era um exemplo de mulher empoderada

Cantora faleceu ontem, aos 91 anos, deixando um importante legado artístico e exemplos incontestáveis de superação
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Globo/Fábio Rocha
Elza Soares morreu em decorrência de causas naturais (Foto: Globo/Fábio Rocha)

Na tarde de ontem (20), mais especificamente às 15 horas e 45 minutos – segundo informações divulgadas pela assessoria -, Elza Soares morreu em decorrência de causas naturais. Aos 91 anos, a cantora descansou em sua casa, no Rio de Janeiro, e levou comoção à internet pelo legado que deixou para a música e a história do Brasil. 

“Ícone da música brasileira, considerada uma das maiores artistas do mundo, a cantora eleita como a Voz do Milênio teve uma vida apoteótica, intensa, que emocionou o mundo com sua voz, sua força e sua determinação”, divulgou em nota a assessoria de imprensa. “A amada e eterna Elza descansou, mas estará para sempre na história da música e em nossos corações e dos milhares fãs por todo mundo. Feita a vontade de Elza Soares, ela cantou até o fim.” 

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E não é força de expressão. No final de dezembro, a cantora fez um show em Belém, capital do Pará, e publicou as imagens em seu Instagram, agradecendo pelo carinho do público. Além da música, ela deixa sua marca na militância contra o racismo, a homofobia, a misoginia, a fome e a miséria. Após todas as violências que sofreu durante a vida, sua história é um livro aberto de força e superação. 

Veja, abaixo, 5 momentos de Elza Soares que mostram o seu empoderamento como mulher: 

1. Encarou as dolorosas turbulências da maternidade de forma precoce 

Nascida em 1937, na favela da Moça Bonita, no Rio de Janeiro, Elza da Conceição Soares foi obrigada pelo pai, um operário, a abandonar os estudos e se casar aos 12 anos de idade. O escolhido foi Lourdes Antônio Soares, um amigo da família que já havia abusado da menina. Após a união, passaram-se poucos meses até que a cantora engravidasse, dando a luz – aos 13 anos – ao primeiro filho. 

Na mesma época, foi sua estreia na rádio Tupi. Como o bebê estava doente e precisava de remédios, a carioca foi se apresentar em troca de dinheiro para providenciar o tratamento da criança. Durante o programa apresentado por Ary Barroso, Elza foi questionada sobre sua aparência humilde e magérrima e, já naquela ocasião, calou as risadas da audiência ao responder que tinha vindo do “planeta fome”. 

Com a apresentação – que rendeu grandes elogios do apresentador -, Elza conseguiu ganhar o dinheiro que precisava. Apesar disso, seu primogênito acabou falecendo pouco tempo depois. A tragédia familiar foi seguida por outras: dos oito filhos que teve, a cantora viu quatro morrerem, assim como o marido, que a deixou viúva aos 21 anos de idade. Mas, mesmo em meio ao luto, ela não deixou os palcos. 

2. Nunca deixou para trás um de seus grandes amores: a música

Em 1999, Elza foi eleita pela Rádio BBC de Londres como “a cantora brasileira do milênio”. A escolha teve origem no projeto “The Millennium Concerts”, da rádio inglesa, criado para comemorar a chegada do ano 2000. Além disso, ela aparece na lista das 100 maiores vozes da música brasileira elaborada pela versão brasileira da revista “Rolling Stone”. Em toda sua vida, mesmo sendo vítima de muita violência, a artista nunca deixou de cantar, o que explica tais reconhecimentos. 

Na canção “A Mulher do Fim do Mundo”, do álbum homônimo de 2015, o primeiro com músicas inéditas, ela pede que a “deixem cantar até o fim”. Também foi neste álbum que ela compartilhou com seus fãs as violências sofridas durante a vida. Na música “Maria da Vila Matilda”, ela diz: “Cadê meu celular? Eu vou ligar prum oito zero, vou entregar teu nome e explicar meu endereço. Aqui você não entra mais. Você vai se arrepender de levantar a mão pra mim”. 

O disco, que também critica o racismo, virou referência na luta feminista do país e ganhou o Grammy Latino de melhor álbum de MPB, o Troféu APCA da Associação Paulista de Críticos de Arte e o Prêmio da Música Brasileira, entre diversas outras indicações e conquistas. 

3. Posicionou-se contra a ditadura 

Durante a ditadura militar, Elza foi perseguida por ter gravado o jingle da campanha que levou João Goulart à vice-presidência, em 1960. Em 1970, seis anos depois do golpe que derrubou Jango, a cantora teve a sua casa metralhada no Rio de Janeiro.

Em uma entrevista para Fábio Porchat em 2018, ela relembrou o fato: “Eu morava no Jardim Botânico e estava brincando com as crianças na rua. Assim que entramos, começamos a ouvir um barulho de tiroteio. Minha casa foi toda baleada. Fiquei completamente apavorada por causa dos meus filhos. Eu tinha um piano na sala que foi aberto ao meio”, contou. Após o ataque, a cantora foi obrigada a se exilar na Itália com Garrincha, com quem era casada. 

“Quem pede a ditadura não sabe o quão duro foi aquele momento. Muito triste, Deus me livre. Eu não fugi, me mandaram sair do país, tive a casa metralhada e fui embora para a Itália. Ditadura não, democracia sim”, enfatizou em 2016, quando questionada sobre as pessoas que pedem a volta do regime ditatorial no país. 

4. Superou um casamento baseado na violência

Elza e Garrincha se conheceram em 1962, quando ela estava ascendendo no samba e ele já era o herói nacional do futebol. Na época, o jogador era casado e acabou se divorciando quase no mesmo período em que assumiu o relacionamento com a cantora. Diante disso, sobrou para ela as acusações de ter acabado com o casamento do atleta, acompanhadas de adjetivos como “bruxa” e “vadia”. 

Esse foi apenas um dos sofrimentos que essa relação lhe trouxe. Enquanto casada, Elza tentou ajudar o jogador a superar o alcoolismo – motivo pelo qual acabou virando alvo de piadas no grupo de amigos de Garrincha. A preocupação dela não foi o suficiente para mudar os hábitos do marido, que acabou sofrendo um acidente automotivo que levou a mãe da cantora, Dona Josefa, à morte. 

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Além da questão com o álcool, a violência doméstica também fazia parte dos problemas do casal. Em uma das ocasiões em que acabou violentada pelo jogador, que era conhecidamente ciumento e nervoso, Elza chegou a perder os dentes. Pouco tempo depois, o casal se divorciou, colocando um ponto final ao relacionamento conturbado de 16 anos. 

Em uma entrevista, ela disse: “Eu nunca gostei de ser mulher de fulano. Eu sou eu. Não era preciso ser mulher do Garrincha para ser a Elza Soares. O Garrincha era marido da Elza Soares”.

5. Venceu a depressão, a tentativa de suicídio e fez o que gostava até o fim

Ao longo das mais de nove décadas de vida, Elza sofreu. Além de perder quatro filhos, quase todos de forma trágica – como acidentes de carro e casos de desnutrição -, a cantora enterrou os dois maridos e a mãe. Também viveu separada de uma das filhas, sequestrada na infância, com quem só voltou a conviver na vida adulta. Com a notícia da morte de Garrincha, em 1983, ela passou a sofrer de depressão, período em que também começou a usar drogas e tentou suicídio. 

Mas o legado de Elza não é esse – pelo contrário, a história da artista é de alguém que sobreviveu mesmo em meio ao caos. E foi usando a carreira como válvula de escape que a cantora deixou os momentos conturbados de lado e se recuperou emocionalmente das perdas. O palco, que acabou se tornando seu refúgio, foi onde ela expressou seu maior desejo: “Me deixem cantar até o fim”.

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