No dia 3 de março de 1978, a capital baiana dava as boas-vindas àquela que viria a se transformar numa das maiores jogadoras brasileiras de futebol de todos os tempos – um ano antes de o esporte deixar de ser proibido para mulheres no país. Com seu um metro e sessenta e dois de altura, Miraildes Maciel Mota começou a fazer gols aos 12 anos de idade. Hoje, aos 43, já rodou o mundo defendendo equipes que vão do PSG, da França, ao São Paulo ao longo de mais de 30 anos de carreira.
Mulher, negra e nordestina. Como se não bastasse uma barreira, Miraildes ultrapassou todas elas e se tornou a jogadora mais longeva da história das Copas do Mundo. Mais do que isso: o simples fato de entrar em campo é como se ela colocasse abaixo uma série de preconceitos, inclusive contra a resistência em uma modalidade esportiva ainda tão desvalorizada. Dentro das quatro linhas, com a camisa amarela da Seleção Brasileira, Miraildes é meio-campista. Em suas costas, lê-se: Formiga, 8.
Conheça a plataforma de educação financeira e emocional EQL Educar. Assine já!
Hoje (25), em disputa do Torneio Internacional em Manaus, contra a Índia, a jogadora, que é praticamente um sinônimo de futebol feminino brasileiro ao lado de Marta e Cristiane, despede-se da Seleção Brasileira. Se Miraildes tivesse um currículo, incluiria as vitórias em três edições da Copa do Brasil (1997, 2012 e 2013), quatro do Campeonato Paulista (1997, 2008, 2012, 2014 e 2015), três da Copa Libertadores (2011, 2013 e 2014), na Copa da França (2017-18) e no Campeonato Francês (2020-21).
Em homenagem a uma das jogadoras de futebol mais talentosas do Brasil, relembre, a seguir, os grandes feitos de Formiga vestindo a amarelinha:
Sete edições da Copa do Mundo
Formiga se tornou, em 2019, na Copa do Mundo Feminina da França, a única atleta entre homens e mulheres a participar de sete mundiais. A jogadora defendeu a Seleção Brasileira na Suécia, onde o Brasil ficou com a nona posição, em 1995; nos Estados Unidos, em 1999, quando o Brasil conquistou o 3o lugar, e em 2003, terminando o torneio em quinto lugar; na China, em 2007, mundial em que o time conquistou o vice-campeonato; na Alemanha, em 2011, quando a Seleção repetiu o resultado da Copa de 2003; no Canadá, 2015, eliminada nas oitavas de final; e na França, 2019, também eliminada pelas donas da casa no primeiro mata-mata.
Foi, inclusive, no mundial da França, que Formiga, aos 41 anos, conquistou o feito de ser a jogadora mais velha a entrar em campo numa Copa do Mundo Feminina. Além disso, no campeonato anterior, no Canadá, a atleta se tornou a jogadora mais velha a marcar um gol em uma Copa, quando tinha 37 anos, três meses e seis dias de vida.
Sete edições da Olimpíada
Em 2021, ao ser convocada pela técnica da Seleção Brasileira Pia Sundhage, Formiga se juntou a uma lista pra lá de exclusiva, composta por uma única integrante: ela é a única jogadora a ter disputado todas as edições dos Jogos Olímpicos desde a estreia do futebol feminino, em Atlanta, em 1996.
Além dessa edição, Formiga participou dos Jogos realizados em Sydney, em 2000; Atenas, em 2004; Pequim, em 2008; Londres, em 2012; Rio de Janeiro, em 2016; e Tóquio, em 2020. Em 2021, aos 43 anos de idade, a atleta quebrou o recorde de jogadora de futebol (também entre homens e mulheres) mais velha a participar de uma Olimpíada.
LEIA TAMBÉM: Joga a bola no meu pé: a difícil trajetória das mulheres no futebol brasileiro
Nas edições de Atenas e Pequim, Formiga fez parte da equipe que conquistou as duas medalhas de prata que a modalidade possui na competição.
Mais de 200 partidas
Foi em 2019, ao ultrapassar o jogador Cafu, que acumula 149 partidas disputadas pela Seleção Brasileira, que Formiga se consagrou como a atleta a vestir mais vezes a camisa amarela: foram mais de 200 partidas defendendo o Brasil, de amistosos à Copa do Mundo. Formiga passou mais tempo de sua vida fazendo parte da Seleção do que fora dela.
Outros títulos
Formiga foi ouro em duas edições dos Pan-Americanos: em Santo Domingo, na República Dominicana, em 2003, e no Rio, em 2007. Também pela Seleção, foi vice-campeã nos Jogos de Guadalajara em 2011.
Em 2016, a jogadora ganhou o prêmio Bola de Prata, que elege os melhores atletas do Brasileirão. A premiação anual do futebol brasileiro foi criada em 1970 pela revista “Placar” e hoje é organizada pela ESPN.
Jogo oficial de despedida
Neste 25 de novembro de 2021, Formiga se torna a primeira jogadora do futebol brasileiro a ganhar um jogo oficial de despedida. Nada mais simbólico do que isso, afinal, a atleta dedicou 26 anos de sua vida à Seleção Brasileira: sua primeira partida foi aos 17 anos. Para muitas gerações, é impossível pensar em uma equipe de futebol feminino sem Formiga.
Fique por dentro de todas as novidades da EQL
Assine a EQL News e tenha acesso à newsletter da mulher independente emocional e financeiramente