Assaí em queda, GPA em alta: como o mercado está reagindo à operação entre as empresas

Analistas acreditam que transação vai impulsionar expansão agressiva da rede atacadista no país
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O Grupo Pão de Açúcar anunciou ontem (14) a venda de 71 pontos da rede de hipermercados Extra Hiper para o Assaí, pertencente ao grupo francês Casino, que também controla o GPA. A empresa também anunciou que não tem mais interesse nesse modelo de lojas no Brasil, que vem enfrentando dificuldades de crescer diante da concorrência com o atacarejo e as dificuldades impostas pela pandemia aos consumidores.

Segundo comunicado da empresa, o Assaí vai pagar R$ 5,2 bilhões pela operação, sendo que R$ 4 bilhões serão quitados em parcelas até 2024. Os outros R$ 1,2 bilhão serão pagos ao GPA por um fundo imobiliário que tem garantia do Assaí.

As lojas restantes da bandeira – 73 – serão convertidas em formatos com maior potencial de rentabilidade para o GPA.

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No pregão de hoje (15), as ações do GPA mostram valorização de 15%, enquanto os papéis do Assaí têm queda de 3%.

“Enxergamos a operação com bastante otimismo do ponto de vista do GPA, ativando um trigger importante para o destravamento de valor nas ações da companhia com uma entrada relevante de caixa. Além disso, o grupo abandonará o modelo de hipermercados, que não vinha trazendo bons resultados, e poderá focar seus esforços na remodelagem de lojas da bandeira Pão de Açúcar e formato ‘proximidade’, como as lojas Minuto Pão de Açúcar, que vêm apresentando um desempenho mais satisfatório”, disseram os analistas da Ativa Investimentos. 

Já do ponto de vista do Assaí, a corretora também acredita em ganhos expressivos. “A operação reforça o plano de expansão de lojas pelo Brasil e garante a abertura de novos estabelecimentos de forma mais rápida, uma vez que os pontos comerciais já estão construídos. Além disso, possibilitará a entrada do Assaí em localizações estratégicas do país, onde a marca ainda não está presente”,  concluem. A opinião é corroborada pelos analistas da XP Investimentos, que enxergam no acordo a chance de o Assaí aumentar sua capilaridade nas capitais brasileiras e grandes cidades. 

No que diz respeito a possíveis riscos, os especialistas da Ativa explicam que a queda das ações do Assaí observada hoje está relacionada ao questionamento do mercado sobre o valor de R$ 5,2 bilhões pago pela companhia na transação. “Sem considerar o investimento que será feito nas lojas, o valor pago por loja foi de, aproximadamente, R$ 73 milhões. Em nossos modelos, consideramos um CapEx de cerca de R$ 65 milhões por loja construída do Assaí. No entanto, a operação garantiu uma expansão da marca de forma rápida e eliminou a burocracia envolvida na avaliação de terrenos e construções de lojas”, disseram. 

Segundo estimativas de Belmiro Gomes, presidente do Assaí, a operação vai resultar num faturamento extra de R$ 25 bilhões, elevando a receita bruta da companhia para R$ 100 bilhões até 2024 com o mesmo nível atual de margem de lucro (Ebitda). 

“Teve dois eventos neste ano que mudaram a geografia do mercado: o primeiro foi a aquisição do grupo BIG pelo Atacadão, principal rival do Assaí e líder do setor”, disse ele. “Havia na nossa visão um distanciamento que nós precisávamos buscar uma forma de acelerar nossa expansão de forma rentável”, acrescentou. “O ativo que nos parecia mais vital para isso era o parque de lojas do Extra Hipermercado”, disse o executivo durante teleconferência com analistas, citando fatores como baixa sobreposição de lojas, velocidade de incorporação dos pontos e custo de reforma para o formato de atacarejo.

Segundo ele, o outro “divisor de águas” para a transação com o GPA foram acordos com locadores de lojas que antes não permitiam que hipermercados fossem convertidos em lojas de atacarejo, que precisam de obras de reestruturação para operarem como tal.

Em julho, o GPA fez acordo com a Península, family office da família Diniz, envolvendo locação de imóveis.

Segundo Gomes, o Assaí precisaria ter 110 lojas para conseguir o mesmo nível de faturamento que espera obter com as 71 lojas do Extra Hiper que vai incorporar ao seu parque. E a pressa da empresa em fechar o negócio deve-se a perspectivas de inflação pressionada no próximo ano, levando clientes a buscarem preços menores em regiões onde a bandeira não está presente.

“Lojas nesse nível custam mais de R$ 100 milhões para serem feitas, com todo o tempo para se fazer uma loja… A gente fala que para qualquer comércio tem três fatores importantes: o primeiro é ponto, o segundo é ponto e o terceiro é ponto.”

Segundo o Assaí, do valor total a ser pago pelo negócio, 500 milhões serão desembolsados neste ano. As parcelas seguintes somam cerca de 1,6 bilhão de reais até o fim de 2022, 1,2 bilhão até junho de 2023 e mais 700 milhões até o início de 2024.

(Com Reuters)

Carol Proença é estudante de economia e especialista de investimentos certificada

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