Na última segunda-feira (4), a Bacio di Latte foi parar nos trending topics do Twitter e o motivo foi o mais inusitado possível. Catarina Lima, de 40 anos, resolveu compartilhar na rede social um ato de gentileza de seu pai, mas, em poucos minutos, acabou “cancelada”.
A polêmica se deu pelo ato por trás da postagem. Catarina teria que ficar alguns dias ingerindo apenas itens gelados e, por causa disso, ganhou do pai cinco potes de sorvete da marca que, embora brasileira, é inspirada nas raízes italianas. Cada unidade custa cerca de R$ 45, o que levou o valor total do mimo a R$ 225.
Não demorou para que o gesto dominasse a internet, invadida por críticas inconformadas a respeito do valor da compra num momento de escalada da inflação, quando alimentos básicos, como pão e ovos, subiram de forma expressiva e parte da população brasileira está sendo privada das três refeições diárias.
No entanto, para a educadora financeira Janaína Ornelas, o valor pago pelo sorvete não foi assim tão absurdo. “Por um lado, o preço nem é tão alto, tendo em vista que os brasileiros estão sentindo na pele o quanto as coisas aumentaram. O nosso poder de compra despencou nos últimos anos e a população está vivenciando a experiência de entrar em um supermercado e não conseguir comprar quase nada com R$ 200”, explica.
Por outro lado, há o efeito comparação. Se levarmos em conta que o preço médio de uma refeição comum em São Paulo é de R$ 34,62 – incluído aí arroz, feijão, carne ou frango e salada -, e que uma pessoa precisa de, pelo menos, duas como essa ao dia, o total gasto seria de R$ 69,24.
Na rede social, Catarina explicou que precisaria ficar 10 dias apenas ingerindo alimentos gelados em função de uma cirurgia de retirada de um cisto no rosto. Sendo assim, se ela estivesse em uma dieta tradicional, seu custo nesse período seria de, aproximadamente, R$ 690,24.
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A desigualdade no Brasil
De acordo com um estudo divulgado pelo World Inequality Lab (Laboratório das Desigualdades Mundiais) em dezembro de 2021, o Brasil segue como um dos países mais desiguais do mundo entre os membros do G20, perdendo apenas para a África do Sul.
O estudo analisou o impacto da Covid-19 e o quanto a crise sanitária exacerbou a desigualdade no país e aumentou, ainda mais, as fortunas dos mais ricos. “O debate é muito latente. Mesmo no Twitter, onde as pessoas se sentem mais à vontade para destilar seu ódio, o que está por trás é a desigualdade no país”, finaliza Simone Pasianotto, economista-chefe da Reag Investimentos.
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