Tendência entre brasileiras, ninfoplastia melhora vida sexual e pode ser feita pelo SUS

Cirurgia que reduz os lábios vaginais é conhecida entre as celebridades e aumenta a autoestima, segundo especialistas
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Procedimento impacta no bem-estar feminino (Foto: Pexels)

Quando entrou na puberdade, Graci Pereira, hoje com 28 anos, percebeu que havia algo de diferente em seu corpo. “Notei uma assimetria bem considerável entre meus lábios vaginais, algo que não era comum nas outras mulheres que eu conhecia”, lembra. Por mais que fosse uma característica íntima e praticamente imperceptível, a questão causava desconforto físico e psicológico na jovem. Na época, ela se queixava de dores ao andar de bicicleta ou montar a cavalo,  dois dos seus hobbies favoritos. “Quando olhava no espelho, tinha vontade de pegar uma faca ou estilete e cortar em casa mesmo”, conta. 

No Brasil, esse tipo de queixa parece ser cada vez mais comum. Não é à toa que o país lidera o ranking mundial de ninfoplastia – cirurgia plástica íntima que possibilita a redução dos pequenos lábios -, de acordo com a Sociedade Internacional de Cirurgia Plástica Estética (ISAPS). Entre as celebridades, a lista das que já passaram pela operação é longa, incluindo a coach Maíra Cardi, a modelo Geisy Arruda, a viúva de Mc Kevin Deolane Bezerra, as ex-BBBs Clara Aguilar e Letícia Santiago, e a apresentadora Andressa Urach. 

No caso de Graci, a primeira vez que ouviu falar sobre ninfoplastia foi em 2012, na televisão. “Lembro de assistir a Geisy Arruda falar sobre o tema e pensar: ‘Se existe um procedimento para melhorar isso, eu quero fazer’”, diz.  O sonho acabou sendo realizado quase dez anos depois, em 2021, quando a baiana operou com seu ginecologista – a especialidade, assim como a de cirurgião plástico, está apta para fazer o procedimento. 

Ela conta que nem mesmo a dolorosa recuperação – foram 40 pontos na região -, fez com que se arrependesse. Além da comodidade física, já que o excesso de pele chegava a prender na roupa íntima e machucar a área, a alteração trouxe ganhos na autoestima e na vida pessoal. “Só senti impactos positivos. Hoje eu vou pedalar tranquila. A vida sexual também melhorou. Só me arrependo de não ter feito antes”, brinca a youtuber, que chegou a compartilhar a experiência com seu 1 milhão de inscritos no canal.  “Felizmente, não ouvi críticas sobre ter feito a cirurgia. Falar sobre vaginas ainda é um tabu e eu quis colocar o assunto para jogo gravando um vídeo onde explico tudo sobre a minha ninfoplastia. Espero que assim as pessoas abram mais a cabeça”, afirma.  

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Estética íntima inclui aplicação de botox, clareamento e lipoaspiração 

Nos consultórios, o aumento pela procura de procedimentos estéticos voltados à região íntima foi perceptível ao longo dos últimos dez anos, conforme explica a Dra. Tatiana Turini, membro titular da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP). Assim como no caso de Graci, uma das motivações que levam as pacientes a procurar ajuda, segundo a médica, é o desconforto na prática de atividades físicas e sexuais. “O excesso de pele pode enrolar e friccionar durante a penetração, levando a machucados e dores relevantes”, destaca.

Nesses casos, o próprio Sistema Único de Saúde (SUS) oferece a labioplastia – outro nome para ninfoplastia – de modo gratuito, caso exista indicação médica. No entanto, a lista de espera para o procedimento pode chegar a um ano e meio, segundo informações do Cartão SUS. Em clínicas particulares, o valor da operação costuma variar de R$ 5.000 a R$ 12 mil dependendo da tecnologia utilizada. 

Por outro lado, a questão estética acaba tendo um peso duplo. “Além de ser a maioria absoluta das queixas, a impressão negativa sobre a própria aparência tem um impacto tanto funcional quanto emocional”, diz Tatiana. Segundo a médica, uma vez que a autoestima é afetada, as mulheres costumam apresentar problemas de confiança na vida pessoal e profissional. “Parece algo pequeno, mas muda tudo. Tenho relato de pacientes que fizeram ninfoplastia e salvaram seus casamentos, melhoraram o relacionamento com os filhos e até passaram a se vestir diferente. É como ir ao cabeleireiro ou fazer as unhas”, destaca. 

Além disso, quem não quiser alterar os pequenos lábios pode optar por outros tipos de procedimentos. Atualmente, métodos como rejuvenescimento vaginal, clareamento dermal, laser de colágeno, botox e até mesmo pequenas lipoaspirações já são realizadas para melhorar a estética da região. “Quase todas as características da vulva podem ser mudadas, incluindo os grandes lábios, o clitóris e o canal vaginal em si”, explica Tatiana. 

“As mulheres não querem ficar fechadinhas e rosinhas, elas só querem se sentir bem”

No consultório da ginecologista Dra. Kátia Aparecida Pinho, a demanda por serviços voltados à estética íntima já correspondem a quase metade do total das consultas. Especialista em procedimentos do tipo, a médica relata que apesar das críticas relacionadas à “superficialidade”, as mulheres que procuram por ajuda acabam se sentindo mais seguras e empoderadas. “As pessoas imaginam que todas chegam querendo ficar fechadinhas e rosinhas, igual em filme pornô. Mas não é isso, elas só querem se sentir bem. A maioria tem uma expectativa muito realista sobre os procedimentos, de forma que os resultados são únicos”, diz. 

Tanto que, ao contrário de outros casos médicos, a ginecologista explica que a indicação dos procedimentos é feita sempre e somente pelas pacientes – a não ser que haja danos físicos, como citado anteriormente. “Mesmo que eu note que existe flacidez ou gordura localizada, minha postura como especialista é não falar nada e corrigir apenas a queixa da paciente. Afinal, não é para seguir um padrão estético, e sim para melhorar os incômodos”, afirma. 

Outro ponto destacado pela especialista é que, apesar do atual interesse pela estética íntima, essa demanda provavelmente sempre existiu. A diferença, explica ela, é que as mulheres de hoje podem agir de forma independente e esclarecida, enquanto gerações passadas ainda carregavam o fardo da aprovação alheia. “Nossas avós provavelmente dependiam do marido para considerar esse tipo de coisa. Hoje, as mulheres fazem por elas mesmas, mesmo que a característica seja indiferente para o companheiro”, conta. A prova disso, explica a cirurgiã Tatiana Turini, é o grande volume de pacientes homossexuais, que mesmo tendo relações sexuais apenas com mulheres, continuam sentindo vergonha da própria genitália. “Em vez de se entregar ao sexo, elas ficam pensado em como está a vagina. Por causa disso, quase sempre elas só transam de luz apagada”, completa Kátia.

Outro fator associado à alta procura de operações é o autoconhecimento. De acordo com a ginecologista, as mulheres de hoje já se sentem mais à vontade para observar o próprio corpo, notando, assim, aquelas formas que não as agradam. “Diferente do rosto, que você acaba esbarrando em um espelho e vendo, a vagina precisa querer ser vista. Seja no banho ou com um espelho, é preciso ter essa proatividade”, destaca. 

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