Saúde mental da mulher: tema ganha urgência no mercado de trabalho

Cerca de 42% das profissionais convivem com sintomas da síndrome de burnout
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42% das mulheres do planeta convivem com sintomas da síndrome de burnout (Foto: FreePik)

Elas conseguem responder e-mails, falar ao telefone, planejar a próxima reunião e ainda ajudar o filho na tarefa. O que parece ser uma dose generosa de disposição e produtividade, no entanto, camufla a realidade de quem, muitas vezes, não tem o direito de se sentir cansada. De acordo com a pesquisa “Women in the Workplace 2021”, feita pela consultoria McKinsey & Company e pela organização LeanIn, 42% das mulheres do planeta convivem com sintomas da síndrome de burnout. 

Como sugere o nome – burnout significa combustão, em tradução livre -, o distúrbio psíquico é caracterizado como uma consequência da exaustão profissional, e abrange uma série de sintomas de outras doenças psicológicas. Nessa perspectiva, um levantamento realizado pelo Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo (USP) mostrou que, durante a pandemia de Covid-19, 40,5% das mulheres apresentaram algum indício de depressão, 34,9% de ansiedade e 37,7% de estresse. Os dados confirmam o que também mostra uma pesquisa encomendada pelo Instituto FSB, em parceria com a seguradora SulAmérica: 62% das brasileiras dizem que a saúde mental piorou durante o isolamento social, contra 43% dos homens. 

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Na esfera corporativa, por sua vez, esse cenário mostra que o “S” de ESG (ambiental, social e governança, na sigla em português)  merece cada vez mais atenção – e ação – por parte da liderança. Necessidade que será ainda mais reforçada a partir de janeiro de 2022, quando o burnout for incluído na Classificação Internacional de Doenças (CID) da Organização Mundial da Saúde (OMS) – o que, na prática, significa que vítimas do distúrbio terão os mesmos direitos das vítimas de outros acidentes trabalhistas, incluindo afastamento por licença médica e até aposentadoria por invalidez. 

Para Cassia Messias, chief operating officer (COO) do Zenklub, plataforma de saúde emocional e desenvolvimento pessoal, a maior incidência de distúrbios mentais em mulheres tem causas práticas e históricas. “Na maioria das sociedades, essa profissional já é mais sobrecarregada devido à jornada dupla de trabalho acarretada pela falta de divisão das tarefas domésticas”, diz. “Já quando pensamos em questões quase que biológicas, elas também são as principais vítimas da síndrome de impostor, aquele sentimento de não estar à altura de determinada tarefa”, completa. 

No dia a dia, isso significa que as colaboradoras podem se desgastar num nível muito maior, já que traçam planejamentos mais detalhados do que o necessário para provar seu ponto de vista ou participam de reuniões mais prolongadas para atestar que dominam determinado assunto. Tudo isso aliado à tensão de estar presente em um ambiente muitas vezes majoritariamente masculino, como é o caso de executivas em posições de comando, por exemplo. O problema é ainda pior no caso das minorias, como as de mulheres negras e LGBTQIAP+, quando a pressão e o sentimento de não pertencimento tendem a ser maiores. 

Diante deste contexto, a solução é tão óbvia quanto parece. Segundo Cassia, o avanço na equidade de gênero será, muito provavelmente, capaz de aliviar essa sobrecarga extra depositada nas costas femininas. “Com a representatividade de outras mulheres que chegaram lá e o desenvolvimento de programas adequados, a perspectiva se torna mais otimista”, afirma. 

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Saúde mental não é luxo – é necessidade

Na perspectiva das empresas, a procura crescente por ações que valorizem o bem-estar das equipes tem deixado de ser uma opção para se consolidar como uma obrigação. “Quem não fazia isso pelo cuidado humano logo acabará fazendo pelo bolso”, explica Cassia, citando os gastos com afastamento e licenças médicas. Tal realidade parece ter sido percebida rapidamente pelo mercado, já que nos últimos seis anos um levantamento da consultoria Willis Towers Watson (WTW) mostrou que houve um aumento de 33% no interesse das companhias pela implantação de programas voltados à saúde mental de  seus colaboradores. 

Essa guinada no mercado é acompanhada de perto pela Zenklub, que atualmente impacta 1.5 milhão de pessoas por mês por meio de atendimentos e programas corporativos. De acordo com a COO da startup, a alta adesão dos funcionários, independentemente do gênero, deixa claro o quão urgente era a demanda por suportes do tipo. Na fintech Creditas, uma das clientes da plataforma, o número de atendimentos com psicólogos cadastrados chega a cerca de 1.500 por mês, o que corresponde a uma aderência de quase 50% da equipe. Além disso, uma pesquisa interna do banco digital de empréstimos mostrou índices de 97% de satisfação em relação ao apoio oferecido. Já no aplicativo de entregas Zé Delivery, o programa começou com 50 aderentes e, atualmente, já conta com 600 funcionários cadastrados, sendo que 80% da equipe afirmou que faz/já fez terapia.

Fora o atendimento com profissionais personalizados, algumas das companhias – como o próprio Zé Delivery e a Ambev – aproveitam esses espaços de abertura para promover pesquisas sobre comportamento, conduta e cultura na empresa. “Eles conseguem perceber, por meio desses números, se existe abuso de poder ou outro problema organizacional”, revela a executiva. A relevância desse tipo de dado fica muito clara quando é levado em consideração que entre os profissionais com menos de 30 anos, 71% afirmam que a liderança tem impacto negativo na saúde mental, como mostra uma pesquisa da healtech Vitalk em parceria com a avaliadora de mercado MindMiners. 

Para 2022, a expectativa é que o retorno aos escritórios e à vida social pré-pandemia aumentem ainda mais a urgência de apoio psicológico para os profissionais. “Retomar o convívio diário é, com certeza, uma fonte de estresse para quem passou dois anos em casa”, diz. Dessa forma, o mais indicado é que, além da aderência de um regime híbrido, também exista acompanhamento para que a transição seja tranquila tanto para funcionários quanto para os líderes. 

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