Empreendedora, investidora, influenciadora e mãe: quem é Paula Reis, a “Mulher Trader” 

Entrei no mercado financeiro por acidente. Eu era professora de inglês desde os 17 anos com intuito de ter dinheiro para pagar minha faculdade (meu pai era metalúrgico, se aposentou quando eu tinha 15 e sinalizou que não poderia me ajudar com a universidade).
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De professora de inglês ao empreendedorismo, a influencer do mercado financeiro, Paula Reis, tem muita história para contar. 

No entanto, sua jornada profissional não foi apenas marcada por sucessos. Ela enfrentou desafios, como a falência de sua loja de lingerie, o que a levou a repensar suas prioridades e a encontrar sua verdadeira paixão no Day Trade. 

Hoje, além de sua bem-sucedida carreira como investidora, Paula é reconhecida como uma líder na educação financeira das mulheres.

Entre suas conquistas, está o canal “Mulher Trader“, no YouTube, e seu perfil no Instagram, onde compartilha seu conhecimento e experiência, desmistificando o mercado, de forma simples e descontraída.

Mas, sua jornada vai além: Paula está lançando a Protagonize Lab, que nasce com a missão de empoderar as mulheres através da educação e do uso estratégico de tecnologias emergentes, promovendo a inclusão feminina nas áreas de tecnologia, finanças e inovação. 

Conheça e se inspire nessa história e saiba como ela alcançou o sucesso profissional e equilibrou sua vida pessoal com a maternidade. 

EQL – Como aconteceu sua trajetória no mercado de trabalho? Qual sua formação? Conte seus passos desde o início:

Entrei no mercado financeiro por acidente. Eu era professora de inglês desde os 17 anos com intuito de ter dinheiro para pagar minha faculdade (meu pai era metalúrgico, se aposentou quando eu tinha 15 e sinalizou que não poderia me ajudar com a universidade). 

Já no primeiro ano de faculdade de Letras com ênfase em tradução e interpretação em inglês, percebi que o salário de “teacher” não era suficiente para pagar a mensalidade e outros custos da faculdade. 

Um amigo trabalhava no Unibanco e disse que podia enviar meu currículo para assistente de gerente. O salário era bom e eu poderia manter só pra pagar a faculdade e depois seguir na minha área.

Eu, realmente, achava que seguiria um plano de carreira como professora, que logo eu poderia ser coordenadora e depois tradutora. Eu dava aulas em duas das principais escolas de idiomas do país, sem nunca ter saído do Brasil, estudava desde os 11 anos e amava línguas.

O fato é que no fim dessa graduação, eu não me identificava com a rotina do tradutor imerso em pesquisas e dicionários, estava apaixonada pela rotina e dinamismo no banco, atendendo clientes, conhecendo suas empresas. 

A entrada no mercado financeiro

Nesse mesmo ano, a Anbima – Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais – (na época era Anbid) iniciou a obrigatoriedade da (certificação) CPA-10 para todos os gerentes de bancos. 

A gerente que eu assistia, rapidamente, disse que eu deveria ser a primeira a obter a certificação na agência e assim eu fiz. As gerentes não gostavam de falar de investimentos, tinham receio, pois conheciam pouco e as metas eram todas voltadas para crédito de Pessoa Física e Pessoa Jurídica. 

Elas sempre me passavam os clientes que queriam falar de CDB e poupança, pois o assunto só tomaria tempo. Iniciei os atendimentos com o pouco que sabia, pois meu pai sempre foi poupador e usava os dois produtos.

Daí, para a CPA-10, uma promoção para gerente, um convite do banco concorrente para ganhar mais, e a CPA-20, foi um pulo de 6 meses. 

Percebi que sem querer eu estava me especializando num segmento que os bancários antigos não se identificavam e a regulamentação trouxe grandes oportunidades.

O mergulho no mundo dos investimentos

Larguei as aulas de inglês que ministrava aos finais de semana e apenas me formei em Letras e aposentei o canudo. 

Segui por 10 anos em 4 bancos brasileiros, um americano e finalizei minha carreira de bancária num banco de investimentos de atacado. Lá não havia o segmento de varejo tradicional, eu era de um segmento abaixo do private banking atendendo clientes de patrimônio acima de 1 milhão de reais. 

Atendi nessa jornada mais de 1500 famílias montando carteiras diversificadas em CDBs, tesouro, fundos de investimentos e previdência. 

Aprendi muito com eles, não havia um atendimento em que não era necessário entender dos sonhos do cliente, problemas de família e de saúde e suas preocupações. Entendi que cuidar do dinheiro tem muito mais a ver com aspectos psicológicos e com a vida que desejamos ter.

EQL – Você já empreendeu, mudou de profissão, atuou como influencer trader, hoje qual sua principal ocupação? 

Sim, foram diversas transições de carreira. Quando eu fui mandada embora do último banco, eu não acreditei naquilo. Eu era uma profissional dedicada, batia todas as metas, estava constantemente nos rankings de melhor gerente do Brasil. 

Foi duro ser descartada como apenas um número. Já estava cansada, dizia que não iria mandar o CV para o próximo banco, pois daqui a pouco, eu teria trabalhado para todos os bancos que existem no país.

Primeiros passos como empreendedora e a falência 

Resolvi abrir uma loja de lingerie, pois acreditava que vindo da área comercial, o que me restava como mulher era vender algo no segmento da moda. Afinal, toda mulher gosta de moda, não é mesmo? Ledo engano. 

Eu tinha poucos recursos por conta da demissão inesperada, investi tudo que eu tinha em estoque, pois acreditava que precisava de diversidade e grades de tamanhos completas. 

Queria vender pela internet, a primeira empresa que contratei para montar meu site nunca o entregou e sumiu com meu dinheiro. Tentei montar um site sozinha, até que rodou bem mas não vendia. 

O dólar subia, a renda e aviamentos importados também. Percebi que eu não entendia nada daquilo, nada de precificação e facilmente os vendedores e fornecedores me empurravam coisas que não faziam sentido.

Fui à falência na loja e quase na Pessoa Física, com dívidas altas de cartão e cheque especial. Meu apartamento era financiado da época em que eu trabalhava em bancos. Tive que alugá-lo, voltar para a casa dos meus pais, vender meu carro. Ali, percebi o quanto de consumismo havia na minha vida até então. Passei a ver o que realmente importava pra mim e não o que eu achava que as pessoas esperavam de mim.

Vendi móveis, peças de decoração da minha casa, doei todos meus sapatos de salto, vendi bolsas de marca e joias. Tudo aquilo não era mais meu, era de um status, um padrão da gerente de alta renda que não se encaixava mais na minha realidade. 

Eu queria fazer yoga, andar de patins no parque, malhar e cuidar da minha mente e saúde. Eu nunca havia meditado até então. E foi o que fiz, desconectei de tudo, reorganizei as dívidas e fui cuidar de mim.

O recomeço 

Logo, um ex-cliente me ofereceu um freela para lidar com um fundo de investimentos austríaco que havia comprado 1% da empresa dele. Ele dizia que o fundo tinha exigências contábeis que os contadores brasileiros não entendiam e, como sabia que eu falava inglês fluente e entendia de alguma forma a cabeça dos gestores de fundo, queria que eu assumisse aquela tarefa. 

Voltei pra faculdade, fui estudar gestão de negócios, pois senti que precisava me aprofundar em administração de empresas. 

Me tornei responsável pelo departamento financeiro e administrativo da empresa dele, eu prestava serviço PJ e trabalhava de casa. Essa era minha condição, pois eu não queria voltar para o corporativo, topei o trabalho, porque eu estava falida e precisando me reerguer, mas o bichinho do empreendedorismo já havia me picado.

Com a rotina flexível trabalhando de casa, decidi me tornar investidora e aplicar tudo o que eu sabia para meus clientes, para meu próprio dinheiro.

Como dei a volta por cima e o trader como profissão

Finalmente, saí do famoso “casa de ferreiro, espeto de pau” e montei minha reserva financeira e uma pequena carteira de ações. Foi ali que senti a necessidade de estudar mais sobre bolsa de valores, pois não era minha área de atuação nos bancos. Conheci a análise gráfica e a possibilidade de ser trader. Mergulhei nisso ao longo de 5 anos na empresa do meu cliente. 

Houve uma época em que eu tinha três rendas: da consultoria na empresa dele, o day trade e a renda passiva da minha carteira de swing trade e longo prazo, mas só pedi para sair da empresa dele quando me tornei youtuber. Os vídeos e compromissos com lives e entrevistas tomavam muito tempo e eu não queria deixar ele na mão.

EQL – Você possui o canal “Mulher Trader” no YouTube, além de manter um Instagram. Conte como você se tornou influenciadora nas redes sociais:

Meu Instagram (@amulhertrader) está sempre ativo. O Youtube está parado desde que descobri que estava grávida. Ele era meu “filho” até então. 

Produzia dois vídeos por semana, fora as lives e os conteúdos com parceiros comerciais. Era dedicação total e muitos feedbacks positivos de homens e mulheres recebendo respostas para suas dúvidas.

Quando o teste de gravidez positivo veio, eu já tinha a “reserva gravidez” que me permitiria ficar uns 6 meses sem trabalhar e nem fazer os trades. Então, optei por uma gestação tranquila e parei com o Youtube. 

Agora, o Francisco está com 1 ano e 10 meses, quando ele nasceu, fiquei ao invés de 6 meses, 1 ano com ele (olha o poder da educação financeira, economizei mais e prolonguei aquela reserva). Por isso, as coisas voltaram aos poucos, mas ainda não tive tempo de focar no Youtube.

Mas, sempre digo que se eu fosse bancária ainda, com certeza eu não seria mãe, pois o foco era total na carreira, não havia espaço para vida pessoal e o medo de ser substituída durante uma licença era grande. 

E mesmo que por acaso tivesse sido, eu não teria a chance de ficar 1 ano inteiro com meu bebê, isso não tem preço. 

Eu brinco que as pessoas querem investir e operar day trade para ter um Porsche. Mal sabem elas que o mais valioso é poder escolher o que fazer com seu tempo.

EQL – Enquanto atuou no mercado financeiro, você sentiu que teve dificuldades para avançar na carreira sendo mulher? 

Minha carreira foi majoritariamente na área comercial de bancos de varejo, atacado e de investimentos Pessoa Física.

Percebi que ser mulher, arrumada, bonita, que se posiciona, me abriu portas no início, porém, essa mesma questão “ser mulher”, que foi muito positiva no início, foi boicotando minha carreira no final dela.

Isso porque, há um estigma de que mulheres são melhores na área comercial, então, todas as vezes que tentei uma transferência para outras áreas, era “podada”. Ao mesmo tempo, na minha área, não era muito estimulada a lidar com um plano de carreira. 

As vagas para gerente geral, por exemplo, eram poucas e não havia uma preocupação com preparação de talentos para assumir a posição de líder. Era promovido quem era bom em vendas. Como resultado, essa pessoa aniquilava o psicológico da sua equipe, pois passava a competir com seus liderados e não formá-los a andar com as próprias pernas.

Assédio e pressão no mercado de trabalho

Sem contar o assédio sexual que já ocorreu internamente e, também, por parte de clientes. Episódios que me deixaram com nó na garganta e não valem a pena serem lembrados.

Então, eu diria que ser mulher no mercado financeiro é desafiador e eu não tinha um preparo ou respaldo psicológico para tal, não caí em burnout ou depressão por sorte. Quando saí do último banco me percebi com crises de ansiedade, comecei a fazer yoga, meditar e fazer terapias de todos os jeitos.

A trader que entende as mulheres

Como trader, decidi levantar a bandeira da mulher,  justamente, por essas dificuldades e, também, por ter visto um número menor de mulheres em comitês de investimentos – quando fui assessora em corretora – e nos cursos sobre trading. 

Mas, a verdade é que só enfrentei problemas como mulher no mercado de bancos mesmo. 

Os traders me abraçaram, me ajudaram demais e as maiores oportunidades que conquistei como autônoma e empreendedora do mercado financeiro foram sinalizadas por amigos homens. Porém, nós mulheres, estamos feridas quando chegamos no trading e não sabemos disso. 

Então, rolava a síndrome da impostora ou o medo de fazer uma pergunta muito boba (o tempo todo). Por isso, o “Mulher Trader” nasceu e se faz necessário até hoje.

EQL – Você é casada. Na sua opinião, como a mulher pode conciliar a parceria no casamento com a vida profissional e financeira?

Sou casada há 7 anos e, como casal, lidamos com tudo isso de forma leve. Acho importante alinhar sempre as expectativas já no início do relacionamento e, sempre que necessário, “renovar” esse contrato fazendo ajuste às novas necessidades.

Eu vejo a construção de patrimônio em conjunto. Somos um time e queremos o melhor para nossa família e aposentadoria. Por isso, sempre falamos de dinheiro sem aquela neura de comparar o quanto cada um ganha. 

A gente tem rendas muito sazonais e variáveis, pois ambos empreendem, então, estamos sempre com a reserva financeira em dia e juntando esforços para o próximo passo, o próximo sonho.

Acho engraçado quando aparece na caixinha (Instagram): “Vi que seu marido é músico, ele já investe pelo menos?”. (Risos) Como se os músicos não soubessem o que é dinheiro e como se investimento fosse uma competição. Algo que se ele não alcança, não “serviria” para estar com uma trader. 

Decisões financeiras são compartilhadas 

A verdade é que as decisões financeiras e de investimentos, obviamente, partem de mim. Sempre conversado em conjunto, mas arquitetadas por mim. Porém, tudo com o NOSSO dinheiro. 

Invisto o meu dinheiro e o dele, entro na conta e acompanho. Ele sabe, no geral, o que estou fazendo, mas não executa, porque não faz sentido perder tempo com isso.

Em resumo, se em um casal um deles é investidor, a família é investidora. Não tem como separar ou dividir as coisas. Estamos no mesmo barco. 

Se eu pensar em apartar tudo, ou o dinheiro vai ficar parado na conta dele sem render, ou vamos começar a rivalizar o dinheiro, o que é um grande erro dos casais. Isso seria errado, pois o dinheiro é ferramenta, é meio para conquistar os pilares principais da nossa vida e não o contrário.

EQL – Você teve recentemente um filho. Como foi para você a decisão de ter um filho? Como conciliar a maternidade com a profissão? 

Francisco tem 1 ano e 10 meses e é uma surpresa para minha família e amigos próximos. Todos pensavam que eu não seria mãe. Eu também pensava que não seria mãe (risos).

Nunca tive um instinto maternal muito aflorado e depois a constante preocupação com carreira e loucura que vivia em bancos, me faziam crer que não era pra mim. Eis que dois anos depois de sair do último banco, conheci meu marido e ele sempre quis ter filhos. 

Tudo foi mudando na minha cabeça, principalmente, após 2019, ano em que passei a viver dos trades. Vi que, realmente, o plano tinha dado certo e eu não ia mais precisar de um plano B. Com isso, a flexibilidade de tempo e horários traz aquela liberdade e qualidade de vida que eu considerava ideais para ser mãe.

Ainda sim, enrolei mais um pouquinho e engravidei com 37 anos. Foi tudo natural e perfeito, parto natural e humanizado. Tudo aquilo que colocamos na nossa cabeça sobre gravidez após os 35 anos passou longe de ser a minha realidade. Devo tudo isso às conquistas e estilo de vida em trabalhar autônoma e como trader me proporcionaram.

Fiquei com ele até completar 1 ano em casa, sem ajuda de terceiros ou dos avós, porque moram em outros estados. Só nós três e o Frajola, nosso gato, (risos).  

Fiquei sem trabalhar nesse período e foi maravilhoso. Quando eu teria isso como bancária? Não teria escolha de estender licença, a não ser que eu largasse meu emprego, assim como muitas mulheres.

EQL – Você tem um conselho para as mulheres que desejam ser mães, mas não querem abrir mão do crescimento profissional?

Abra sua mente para a tecnologia, inteligência artificial (IA) e o mercado cripto. Não vou dizer apenas pensar em ser trader, pois isso tem a ver com o apetite a risco e perfil. 

Vejo que o mercado financeiro, no geral, está em meio a uma revolução. Nada do que eu vi há 20 anos, quando cheguei, será o mesmo. Então, a mulher e mãe que investir tempo para entender tudo isso, com certeza, será protagonista de sua vida financeira e profissional. 

Muitas oportunidades estão surgindo com a tecnologia da blockchain agregada a outros mercados. 

Além da IA, temos a web3 chegando com novos apps e soluções, haverá oportunidade de trabalhar de casa e de forma flexível para todas. Basta ela estar disposta e saber lidar com a síndrome da impostora e com o medo, que eu sei que batem. 

A tecnologia será ferramenta da nova educação financeira e haverá espaço para todas nós nisso.

EQL – O que é independência financeira para você?

É atingir um patamar de patrimônio investido, que rentabilize o suficiente para pagar suas contas fixas. Ser independente financeiramente te permite escolher se quer trabalhar e como trabalhar, quantas horas estará dedicada a isso e quantas passará com sua família.

Eu atingi a liberdade financeira, que chega um pouco antes disso. Hoje, tenho um patrimônio suficiente para decidir como atingir meus sonhos. Não dependo de crédito ou cartões, uso eles só de forma estratégica para acumular milhas, por exemplo. 

Tenho a escolha de financiar ou não um imóvel, por exemplo, e esse lugar não tem preço. Mas, ainda não sou independente, pois não bati minha meta de reserva previdenciária. Continuo trabalhando para aumentar meus aportes, reinvestir dividendos e lucros da carteira que já existe, mas ainda falta uma caminhada para chegar no momento de poder parar de trabalhar.

Eu não seria alinhada ao que eu acredito se ficasse criando FOMO (sentimento de estar perdendo algo) às demais, dizendo que tenho tudo e mais um pouco. Afinal, falí em 2015 (risos), a conta não fecharia. 

Já conquistei muito de lá pra cá e é isso que gosto de desmistificar para as pessoas. Hoje em dia, a internet nos vende uma ideia muito imediatista, ninguém vê ou nem lembra dos tombos que levamos. Os bastidores nunca estarão ali 100%.

EQL – Como aprendeu a lidar com o dinheiro?

Na marra, pela falência e vergonha de não ter aplicado nada do que haviam me ensinado antes. Foi só quando a água bateu, literalmente, que eu deixei o status de “casa de ferreiro, espeto de pau”. 

Aí, resgatei muito do que meus pais sempre fizeram em casa, pois não tínhamos uma condição financeira elevada, mas nunca nos faltou nada e eles sempre iam conquistando o próximo tijolo. 

Antes da falência, eu achava chata a filosofia deles, porque era muita economia e o consumismo me pegou de jeito. Aí, eu gastava muito do meu dinheiro.

Além disso, tive clientes investidores que se tornaram amigos, aprendi muito com quem já tem bilhões e mesmo assim não deixa de planejar e se organizar para continuar em ascensão. 

Até hoje ligo para eles para trocar figurinhas e percebo o quanto ficam felizes em ver o que estou construindo. É a famosa história: você é a média das pessoas que mais convive. Eu não perdi a oportunidade de trazer eles para a minha vida e não só tratá-los como clientes. 

Eu, como menina de classe média, filha de metalúrgico que começou no banco com 19 anos, nunca teria a chance de ter um amigo em uma condição social tão diferente da minha. É sim, uma questão de mindset. Eu levava informação relevante dos economistas-chefe dos bancos para eles, e eles me entregavam experiência e reflexões de vida.

EQL – Como as mulheres, de modo geral, podem alcançar a independência financeira? Quais desafios você percebe na trajetória feminina?

Protagonizando suas decisões, olhando de forma sincera para as finanças. Não é porque ela é sigilosa, que devemos levar nossa vida financeira sem critério. 

Se fosse a roupa ou o cabelo, com certeza, estavam todas cuidando no mínimo detalhe, até porque, a sociedade nos impõe isso, não é? Mas, quando o assunto é dinheiro, ninguém vai ver, então está tudo bem negligenciar. 

Sem contar, o sentimento de não pertencimento. Não fomos ensinadas que dinheiro é assunto de mulher, e por aí vai. 

O principal desafio pra mim foi entender o quanto que viver tentando preencher metas que as pessoas esperavam de mim fez minhas finanças ruírem. E o quanto que nada daquela vida era o que eu queria. Então, não fazia sentido nenhum gastar com aquele padrão ou com aquelas metas. 

EQL – Como está atualmente sua carteira de investimentos? Você já se arrependeu de algum investimento financeiro feito? Nos fale um pouco sobre:

Hoje, tenho uma exposição elevada ao mercado de renda variável, 50% da minha carteira estão em ações e criptomoedas, mas não indico que façam isso. Só cheguei nesse patamar depois de muito estudo e muita oportunidade que surgiu no pós-pandemia, o que me “obrigou”, no bom sentido, a aumentar minha exposição de longo prazo.

Já investi por anos em fundos de investimentos multimercados e também em fundos imobiliários (FIIs). Hoje em dia, reduzi demais os fundos de investimentos e zerei minha posição em FIIs. Não faz sentido pra mim, pois eles são ativos de bolsa, sem opções como as ações, então o fundo imobiliário tem oscilação de renda variável, mas com rendimento (aluguel) de renda fixa. Prefiro ter 100% ações, pois por meio do lançamento de opções, consigo ter um “seguro” e reduzir o risco da parcela variável da minha carteira de longo prazo.

Me arrependi do meu primeiro investimento em bolsa que foi em 2009 quando eu trabalhava no Safra, mas não entendia nada sobre gráficos ou bolsa. Investi 25 mil reais e perdi um pouco mais de 1000 reais em 2 dias. 

Fiquei arrasada e isso me afastou demais do mercado que, mal sabia eu, seria a chave para minha vida pessoal e profissional.

EQL – Na sua opinião, qual investimento toda mulher deveria ter?

Uma reserva de oportunidade em um bom CDB com liquidez diária. Precisamos ter a segurança da reserva para qualquer emergência, é o básico que trará poder de escolha, seja para uma transição de carreira ou sair de um relacionamento abusivo.

Na minha experiência atendendo mulheres nesses anos de bancos e também recomendando para seguidoras e alunas, percebi que o CDB tem menos barreiras de entrada em termos de usabilidade e dia-a-dia que o tesouro direto. 

EQL – Quais são seus principais objetivos financeiros e como você está trabalhando para alcançá-los?

Hoje, minha meta é aumentar minha renda passiva e conquistar até os 45 anos um patrimônio investido suficiente para que eu e meu marido tenhamos uma aposentadoria tranquila. 

Estou fazendo mais trades que antes, especialmente, em cripto por ser um mercado exponencial e também no mercado americano, para diversificar minhas fontes de renda em dólar. A meta de aporte mensal é desafiadora, mas a vontade de chegar aos 45 independente financeiramente, é maior. Quando eu bater essa meta vocês vão saber, pois vamos viajar demais (risos).

EQL – Uma dica para lidar com tentações de consumo que toda mulher deveria saber:

Dê mais atenção ao seu ciclo menstrual, parece algo tão antigo, não é? Mas, essa sabedoria milenar pode nos ajudar demais a lidar com as finanças. 

Quando eu aprendi sobre isso e a produtividade cíclica da mulher, além de trabalhar de forma mais dinâmica e que respeita meus limites como mulher, eu também identifiquei que meus maiores gastos impulsivos aconteciam durante a TPM. E eu na correria, nem percebia que estava nela (risos). Só depois me dava conta. 

A minha professora desse tema se tornou uma grande amiga e sócia, hoje temos juntas um curso na Protagonize Lab, nossa comunidade educacional, em que unimos a produtividade cíclica à educação financeira para mulheres.

EQL – Um traje que você investiu e não pode faltar no seu armário para vida?

Roupão e pijama (risos). Sou muito básica no meu dia-a-dia e hoje não tenho grandes aquisições de moda ou alfaiataria. Literalmente, me desfiz de muita coisa. 

Com a constância de ficar em casa, o roupão para jogar por cima da roupa em dias de frio se tornou essencial. Também tenho investido cada vez mais em pijamas bonitos e confortáveis.

Eu brinco que preciso normalizar o pijama para quem trabalha de casa, pois diversas vezes, continuo com ele por algumas horas acompanhando o mercado e fazendo as operações da manhã, mas ainda tenho vergonha de abrir os stories e fazer um vídeo com ele (risos).

Também vamos dormir muito cedo na rotina do Francisco, então, é super comum eu estar de pijamas às 20h e dormir às 21h30. Nesses horários, já saiu stories de pijama, sim (risos).

EQL – Qual sua maior ambição?

Conseguir colocar em palavras, em um método, a junção de autoconhecimento e sucesso financeiro. O dia que conseguir isso, com certeza, escreverei um livro a respeito.

Além disso, executar programas de impacto social para mulheres também tem sido uma grande aspiração difícil de realizar ou encaixar na rotina. 

Me tornei conselheira da @multiplicandosonhos_ uma empresa de impacto social com foco em educação financeira de jovens do Ensino Médio de regiões periféricas. Também temos planos para que a Protagonize Lab inicie algo nesse sentido em breve.

EQL – Qual conselho você daria hoje, a você mesma, dez anos atrás?

“Estude sobre criptomoedas”. Se eu tivesse começado há 10 anos, o que iniciei somente em 2020, eu já estava com minhas metas pessoais batidas.

Para a Paula de 20 anos atrás: “comece a investir agora, mesmo que seja pouco”. Os R$ 50,00 ou R$ 100,00 por mês de hoje, com disciplina e juros sobre juros, serão a meta alcançada lá no futuro.

Além disso, quando nos tornamos investidoras e viramos essa chave do “guardar antes de gastar”, temos uma mudança de padrão e mindset que naturalmente torna nossa capacidade de encontrar novas fontes de renda e maiores aportes parabólica.

EQL – Qual o primeiro pensamento que vem à sua cabeça logo quando acorda? O que lhe motiva no dia a dia? 

Eu agradeço nossa casa, meu filho, nossa família. São as pequenas coisas que me dão gás para levantar e continuar todos os dias.

EQL – Se pudesse pedir ao gênio da lâmpada um único desejo, o que pediria?

“Tempo”. Se eu pudesse ter um estoque de tempo ali paradinho para usar na hora em que eu quisesse, com quem eu quisesse, eu usaria isso para ficar mais tempo com meus pais, minhas irmãs, amigos que amamos e que, muitas vezes, não vemos por conta da correria. Tempo com certeza é mais valioso que muitos bens materiais. Uma máquina do tempo então, melhor ainda!

EQL – Quem você pode dizer que é a Paula Reis em uma frase?

“Mulher, mãe, investidora e mãe do Francisco”.

EQL – Nos conte um fato curioso sobre você que outras mulheres deveriam conhecer.

Incluí a numerologia na minha vida, pois no banco tive um casal de clientes que falavam muito disso, mas não dei a devida atenção. Depois da falência, inseri em um grau que até meu alarme para despertar é definido no horário e minutos para que a soma seja 8: o número do dinheiro e sucesso. 

Na maioria das vezes, lembro disso ao adquirir algo ou assinar contratos. Pode parecer uma superstição, mas tem dado certo, então, não mudo mais.

Me tornei, no geral, muito holística pós-bancos, adoro diversas terapias novas. Isso veio para trazer equilíbrio ao mundo racional e matemático que trabalho e que sou apaixonada também. 

O projeto “Mulher Trader” veio como um download após um ritual de Ayahuasca, tudo aconteceu de forma mais rápida e até melhor do que nos meus planos. Isso pra mim é a prova de que encontrei minha missão de vida.

EQL – Você teria uma dica de viagem para algum lugar que toda mulher deveria fazer e que tenha excelente custo-benefício?

Eu me apaixonei por Praga, fui duas vezes pra lá, uma sozinha e outra com meu marido. O custo foi “ok” ao se comparar com outros países por perto e bem mais barato que destinos consagrados como Paris e Londres por exemplo.

EQL – E um livro que toda mulher deveria ler?

“O Poder Das Mulheres Fortes”. Apesar de ser escrito por um homem, mesmo autor de “Descubra Seus Pontos Fortes”, gosto, pois ele traz uma pesquisa de anos com diversas mulheres, então, as práticas ensinadas são embasadas nas nossas expertises como mulheres. O livro é feito para te ajudar a se encontrar, aceitar as dificuldades e ressaltar seus pontos fortes.

EQL – E quanto aos novos projetos? Conte um pouco mais sobre a Protagonize Lab: 

A Protagonize Lab é uma comunidade educacional fundada por mim e mais três mulheres educadoras financeiras e do mercado cripto. 

Lançada em março de 2024, é uma iniciativa dedicada ao empoderamento feminino por meio da educação e do uso estratégico de tecnologias emergentes, em conjunto com a comunidade H.e.r.DAO. 

Temos a missão de criar um ambiente seguro e acolhedor para o crescimento das mulheres e visamos capacitar as mulheres para explorar seu potencial em um mercado de trabalho em constante evolução.

Além disso, a iniciativa busca promover a igualdade de gênero e o desenvolvimento pessoal e profissional por meio do acesso a tecnologias emergentes como blockchain, metaverso, NFT e inteligência artificial.

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