Simone de Beauvoir já havia nos alertado

Não podemos baixar a guarda: sem a união das mulheres, não haverá equidade de gênero
avatar Hellen Moreno

“Nunca se esqueça de que basta uma crise política, econômica ou religiosa para que os direitos das mulheres sejam questionados. Esses direitos não são permanentes. Você terá que manter-se vigilante durante toda a sua vida.” A frase é de Simone de Beauvoir, escritora, intelectual, filósofa existencialista, ativista política, feminista e teórica social francesa, e nunca fez tanto sentido.

Recentemente, comemoramos o 8 de março, Dia Internacional da Mulher. Recentemente, também vimos a repercussão de falas misóginas de um parlamentar brasileiro, no meio de uma pandemia e em paralelo a uma guerra. Todos esses fatos juntos dão um nó na garganta e, peço desculpas, mas hoje estou enxergando o copo meio vazio.

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Muito se evoluiu na luta pela igualdade de gênero – este é um fato inegável. Até 1962, sequer poderíamos trabalhar sem a autorização dos nossos maridos. Foram muitas lutas, com seu auge nas décadas de 1970 e 1980, quando, finalmente, na Constituição de 1988, a mulher passou a ser tratada como igual perante a lei. Ao menos ali, naquele lugar, estava reconhecido que homens e mulheres são iguais pela legislação.

Pouco antes, em 1979, as mulheres passaram a ter autorização para frequentar a universidade. Após a liberação para o trabalho, passamos a ter direitos trabalhistas, que foram sendo aperfeiçoados ao longo dos tempos para que, de fato, fossem contempladas as questões de gênero.

Conquistamos o direito ao controle de natalidade, conquistamos o direito de ter uma delegacia própria para o acolhimento das vítimas do sexo feminino e, em 2006, tivemos a icônica Lei Maria da Penha, tão importante para garantir proteção às mulheres vítimas de violência doméstica.

Enfim, muito foi conquistado, mas não podemos parar de lutar, não podemos descansar. Ainda hoje vivemos em desigualdade, na vida conjugal, no trabalho. Mulheres trabalham mais e ganham historicamente menos. Enfrentam duplas jornadas e suportam, quase sempre sozinhas, o cuidado com os filhos e a casa.

Durante a pandemia de Covid-19, as mulheres foram as que mais experimentaram a sobrecarga e, aquelas que já sofriam abusos, viram-se presas junto a seus algozes. Agora, durante o conflito bélico entre Rússia e Ucrânia, mulheres e crianças têm seus direitos e corpos violados. Por isso eu disse antes que o copo me parece meio vazio, com pouco a se comemorar e muito a considerar diante do que ainda temos pela frente.

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Ainda ocupamos o vergonhoso 5º lugar no ranking dos países que mais matam mulheres no mundo, segundo o último relatório do Anuário Brasileiro de Segurança Pública. Não podemos parar. Cabe a nós, mulheres, sermos feministas, buscar entender o movimento e como contribuir com ele. Precisamos nos fortalecer enquanto mulheres, acolher a outra sem julgamentos. E acreditar no poder da união das mulheres em prol da equidade de gênero.

Hellen Moreno é advogada especializada em causas femininas

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