Pais narcisistas. Porque precisamos falar sobre isso

O impacto do narcisismo nas relações entre pais e filhos podem trazer consequências evidentes, entenda como.  
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Desde o nosso primeiro contato com o mundo, após o nascimento, os nossos pais, são, em geral, as primeiras construções sociais e de interação que temos. São a nossa referência primordial para diversas etapas do nosso desenvolvimento humano. 

De toda forma, não existe parentalidade perfeita. Pais e mães se esforçam para revelar o seu melhor, nem sempre apenas com acertos, pois é um aprendizado constante, sem dúvidas.

Porém, há alguns elementos que podem indicar problemas na condução dessa parentalidade, como o tema deste artigo que vamos falar sobre pais narcisistas e as consequências desse comportamento na criação dos seus filhos, acompanhe. 

O que seria de você sem mim? 

Provavelmente se você vive próximo a uma pessoa narcisista, você já deve ter ouvido essa frase, pois, obviamente, não são apenas os pais que carregam esse estigma, podemos lidar com o narcisismo em diferentes relações sociais. 

Por isso, já no começo da nossa conversa com a psicóloga clínica especialista em família, Carla Zaupa, 48 anos, de Três Lagoas/MS, destacou:

“Importante enfatizar que todo ser humano apresenta em algum momento características do narcisismo, egoísmo ou falta de empatia. Buscamos atender as nossas necessidades, até por questões de sobrevivência da espécie mesmo.”.

“É preciso diferenciar traços narcisistas de uma pessoa que tenha o Transtorno de Personalidade Narcisista (F60). E o que vai diferenciar é o tempo, a frequência e a intensidade com que essas características se apresentam.”, completa. 

Carla nos explica que o Transtorno de Personalidade Narcisista é caracterizado por um padrão generalizado de grandiosidade, como se considerar sempre mais especial e superior a outros. 

Entre os principais traços desse transtorno, você pode encontrar: 

  • Supervalorização das suas conquistas e dos seus méritos;
  • Mentiras na tentativa de desqualificar a credibilidade do outro;
  • Inveja;
  • Dificuldade na imposição de limites e em críticas;
  • Busca do reconhecimento contínuo. 

“Uma pessoa diagnosticada com o Transtorno, não consegue deixar de ser daquele modo, e não está condicionado a um contexto específico.”, explica Carla. 

Você não reconhece que eu faço tudo por você

Indo mais a fundo na questão narcisista e olhando pela ótica da parentalidade, Carla nos conta que os pais nesse cenário são frequentemente autoritários e tentam tornar os seus filhos os seus modelos ideais de criação. 

“Pais narcisistas vendem a ideia de que são pais perfeitos e isso geralmente dissemina culpa nos filhos quando não os atendem. A tendência é irmos para situações de vitimismo.”, afirma. 

Carla nos explica que os efeitos do narcisismo parental afeta o desenvolvimento cerebral das crianças e, em especial, o seu desenvolvimento emocional. “Essas crianças tornam-se adultos que apresentam dependência emocional, autoestima baixa e outras situações de estresse por vulnerabilidade.”

“Em geral, essas crianças também acabam por reproduzir esse comportamento narcísico nas suas relações ou tornam-se pessoas feridas que para sobreviver a esse cenário acabam se afastando.”, acrescenta.  

Como buscar ajuda 

“Uma mulher de 38 anos, depois de muitos anos em sofrimento emocional, com problemas significativos de baixa autoestima e dificuldades nos relacionamentos afetivos e sexuais, procurou a minha ajuda. 

No decorrer do processo de terapia e a partir da investigação familiar, chega-se à conclusão de que a mãe dela apresentava traços de personalidade narcisista. 

A partir daí, o processo terapêutico foi destinado à reconstrução emocional da paciente, destituindo-se daquilo que era da mãe, e apoderando-se daquilo que era seu. 

Dessa forma, a paciente, sem modificar a personalidade da mãe, conseguiu administrar as suas demandas pessoais, e também estabelecer o distanciamento emocional necessário.”

Com esse relato real de um atendimento conduzido por Carla, podemos entender que pessoas que passaram pela questão da vivência com pais narcisistas podem e devem procurar ajuda, e não apenas tentar incansavelmente que os seus pais façam o mesmo caminho, o que muitas vezes pode não acontecer. 

Claro, que o tratamento não é indispensável para os envolvidos no processo como um todo, ou seja, não precisa ser unilateral, porém é mais difícil que a pessoa em situação de transtorno de personalidade tenha mais dificuldade de se perceber e aceitar que precisa de ajuda profissional, como o processo psicoterapêutico.

“O indivíduo com o Transtorno de Personalidade Narcisista muitas vezes não enxerga a necessidade de pedir ajuda, pois se considera perfeito. Mas, os filhos podem sim, percebendo os sinais e as dificuldades, buscar ajuda para administrar o convívio, e também chegar ao suporte e fortalecimento emocional necessário.”, conclui Carla. 

Vale também lembrarmos que o amor pode ser paciente, acolhedor e por que não uma fonte de cura. Por mais difícil que alguns cenários possam parecer, indivíduos que carregam transtornos relacionados ao nosso mental e emocional, no fim precisam de ajuda, apoio e uma boa dose de amor. 

Talvez o primeiro passo esteja em olhar para si, curar as próprias feridas, para ganhar um repertório mais positivo de mostrar que existe um caminho com mais empatia e com espaço para todos serem reconhecidos.  

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