Empresárias cariocas criam a primeira healthtech de alimentação infantil e saudável do Brasil

Fundada por Paula Cunha e Luciana Melhorim, Jornada Mima oferece refeições práticas e variadas para a primeira infância
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Luciana Melhorim e Paula Cunha, da esquerda para a direita, são amigas da época da faculdade e sempre pensaram em empreender juntas (Foto: Divulgação)

De acordo com dados de 2019 do Ministério da Saúde, uma em cada três crianças brasileiras de cinco a nove anos está obesa. O que assusta ainda mais os especialistas, no entanto, é o fato de que 50% dos bebês menores de dois anos já comem alimentos ultraprocessados – considerados muito mais práticos de preparar e consumir. O excesso de peso na primeira infância – período entre os primeiros meses de vida e os seis anos de idade – preocupa porque pode gerar consequências para uma vida inteira, como doenças cardíacas, diabetes e fraqueza nas articulações.

Foi observando esse cenário que, em janeiro do ano passado, Paula Cunha começou a questionar o mercado de alimentação saudável no país. Mães de duas crianças menores de cinco anos, ela sente na pele a dificuldade da introdução alimentar – principalmente com a sobrecarga que muitas mulheres enfrentam para dar conta da carreira e da maternidade. “Os lanchinhos da tarde, por exemplo, são os grandes responsáveis pela entrada dos produtos industrializados na rotina das crianças. É difícil pensar em opções e, muitas vezes, na correria, os pais oferecem o que é mais prático”, explica a carioca. 

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Após tantos anos ajudando no desenvolvimento de startups, Paula decidiu que era hora de dar voz ao seu incômodo e pensar em um modelo de negócios na área de alimentação infantil. Para isso, entrou em contato com Luciana Melhorim, amiga e madrinha de seu primeiro filho. “Nos conhecemos na faculdade de engenharia de produção e, desde então, mantivemos a amizade. Experimentamos trajetórias profissionais parecidas, passando por startups e produtos digitais, então sempre acompanhamos a carreira e a vida pessoal uma da outra. Conversamos sobre as minhas ideias e ela topou entrar nessa comigo.”

Juntas, começaram a desenvolver – finalmente – o próprio projeto. Como já tinham experiência no mundo de startups, sabiam que o ponto de partida era a pesquisa. “Conversamos com mais de 100 mães, além de nutricionistas, pediatras, proprietários de creches e um monte de gente que tem algum contato com a alimentação infantil. Percebemos vários padrões, o que ajudou a criar nosso modelo”, explica Luciana. “A obesidade infantil é um problema de saúde pública no Brasil e no mundo. Sabemos que isso acarreta vários problemas na vida adulta, mas como ajudar as mães neste processo? Fizemos um caminho muito cuidadoso até conseguir responder a esse questionamento”, completa Paula. 

Após seis meses de estudo e um investimento inicial de R$ 300 mil, em junho de 2021 a Jornada Mima nasceu, e logo foi considerada a primeira healthtech brasileira especializada em alimentação para a primeira infância. Com o objetivo de fornecer às famílias opções práticas, porém saudáveis, a empresa tem em seu portfólio refeições congeladas – almoço e jantar – feitas com ingredientes orgânicos e compostas pelos cinco grupos alimentares (proteínas, verduras, legumes, carboidratos e leguminosas). 

A cozinha 4.0 – como é chamada – é um diferencial da empresa. Instalada no bairro de Botafogo, na zona sul do Rio de Janeiro, não possui fogão, forno e panelas, e é toda monitorada por uma tecnologia alemã com controle digital, que consegue manter os alimentos com os nutrientes e texturas adequados. Os legumes e verduras são preparados 100% no vapor, enquanto o ultracongelamento preserva a qualidade dos alimentos e garante durabilidade de três meses sem adição de conservantes ou qualquer produto químico.  

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As refeições são feitas com ingredientes orgânicos e compostas pelos cinco grupos alimentares – proteínas, verduras, legumes, carboidratos e leguminosas (Foto: Divulgação)

A comercialização, diferente de um delivery tradicional, funciona no modelo de assinatura, para que cada criança tenha orientação exclusiva com nutricionistas que montam o seu plano alimentar, além de fazer um planejamento e um mapa de evolução ao longo da jornada. São dois pacotes: um com Ao todo, dois pacotes são disponibilizados na empresa, sendo um com oito refeições, a R$ 182, e outro com 14, por R$ 299, que podem ser entregues toda semana, de 15 em 15 dias ou mensalmente. “Nosso cardápio muda quinzenalmente para que possamos oferecer mais de 100 alimentos diferentes durante o processo”, conta Paula. 

“Além disso, a comida chega separada. Não é uma papinha pronta ou com alimentos misturados. A criança é exposta a cores, sabores, aromas e texturas diferentes. Ela aprende a gostar de cada alimento como ele realmente é, algo que faz muita diferença na vida adulta”, continua a empreendedora. De forma resumida, a empresa tem como objetivo resolver dois problemas: a dificuldade de construir hábitos saudáveis na primeira infância e a complicação de preparar refeições do tipo no dia a dia dos pais.  “É muito normal cairmos na monotonia alimentar com a rotina agitada. Quando você precisa de apenas três minutos para descongelar uma comida saudável e variada, tudo fica mais fácil.” 

MOVIDAS POR PROPÓSITO 

Paula e Luciana sempre pensaram em empreender, mas tinham, em comum acordo, uma exigência para que isso acontecesse: o negócio precisava ter propósito. Entregar-se 100% a uma ideia exigia que elas acreditassem no que estavam fazendo. No caso da Jornada Mima, elas acham que estão no caminho certo. “É um mercado desassistido. Estamos falando de mães que podem reduzir a sobrecarga da rotina com o nosso negócio, principalmente na volta da licença-maternidade, momento em que as crianças começam o período de introdução alimentar”, destaca Luciana. 

Para elas, a pandemia de Covid-19 fez com que a urgência de atuar neste mercado ficasse ainda mais latente. Com o isolamento social, mais crianças e adolescentes se entregaram ao sedentarismo e começaram a consumir produtos industrializados dentro de casa. Já para os pais, que tiveram que conciliar home office, cuidado com a casa, homeschooling e alimentação, tudo se tornou ainda mais difícil de equilibrar – principalmente para as mães, claro.  “Sabemos sobre a importância dessa rede de apoio para que as mulheres consigam equilibrar suas funções no dia a dia”, completa a sócio-fundadora.

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O propósito e a experiência de mercado movem o desenvolvimento da empresa – isso está claro para as duas -, mas criar um negócio do zero é uma aventura sem precedentes. “Temos uma ambição, mas sabemos que, em algum momento, algo vai dar errado. Essa é uma maturidade do empreendedor. Dá vontade de chorar às vezes? Dá. Mas seguimos em frente”, brinca Luciana. “Teve um dia que nosso freezer parou de funcionar porque a energia caiu na região, o que nos fez perder toda a produção. Era um sábado lindo de sol no Rio, mas passamos o dia na cozinha produzindo mais alimentos para atender à demanda. De qualquer maneira, cada vez que erramos, também aprendemos.” 

Após menos de um ano de história, é com aprendizados assim, rotineiros, que a Jornada Mima evolui e conquista novos espaços. No último trimestre do ano passado, a empresa cresceu 160%, o que deu esperanças para a tão sonhada meta financeira das empresárias: faturar mais de R$ 1 milhão no primeiro ano de operação. Já para os próximos anos, o objetivo é expandir para outros estados – atualmente, a healthtech só atende nas cidades do Rio de Janeiro e de Niterói – e começar a atender o mercado B2B, atuando com grandes empresas, escolas e creches.

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