Open insurance: entenda por que o novo modelo pode democratizar o acesso aos seguros no país

Compartilhamento de informações permitirá ofertas mais direcionadas às necessidades dos consumidores
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O open insurance deverá ser implementado em fases. (Foto: EnvatoElements)

Em julho deste ano, a Superintendência de Seguros Privados (Susep) divulgou a data para a estreia do open insurance no Brasil: 15 de dezembro. A entidade, responsável pelo controle e fiscalização do setor no país, define o novo modelo como um “compartilhamento padronizado de dados e serviços por meio da abertura e integração de sistemas no âmbito dos mercados de seguros, previdência complementar aberta e capitalização”. 

Em resumo, o open insurance nada mais é do que o compartilhamento de dados dos usuários no mercado de seguros por meio de seu consentimento – nos mesmos moldes do que vem sendo feito com o open banking. Na prática, significa que as informações dos clientes – que até então ficavam de posse das seguradoras – poderão ser compartilhadas com outros players em benefício e interesse do consumidor.

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Bárbara Possignolo, head de legal & compliance da Pier, primeira insurtech a virar seguradora no Brasil, presidente da Associação Brasileira de Insurtech (ABInsurtech) e membro do Conselho Deliberativo do Open Insurance no Brasil, diz que a mudança é positiva, já que os dados do segurado são fundamentais para a aceitação e precificação adequada do serviço de seguro. 

“Atualmente, no entanto, quando é realizada uma cotação, apenas alguns desses dados são informados, o que cria uma assimetria de informações e impossibilita que seguradoras que não tenham o histórico completo do cliente possam oferecer preços e serviços adequados. Se esse consumidor puder solicitar todos os dados que refletem seu relacionamento anterior com as seguradoras e compartilhá-los com outros fornecedores, ele tende a ser muito mais bem atendido. Assim, o open insurance possibilita que não apenas o consumidor seja precificado de forma justa e correta, mas também que ele tenha a liberdade de escolher a melhor seguradora. Além disso, com esse compartilhamento de dados, viabiliza-se o desenvolvimento de novos produtos e serviços adequados ao perfil de cada consumidor”, explica a especialista. 

Bruna Souza, executiva de negócios do Grupo FCamara, consultoria de soluções tecnológicas e transformação digital, também enfatiza que o novo modelo tem como objetivo melhorar as condições e informação dos clientes, permitindo que estes tenham mais opções de escolha de produtos e garantias ofertadas pelo mercado. “As seguradoras precisam adequar seus processos de compartilhamento de informações de canais, produtos e dados de clientes, passando a participar de um diretório onde serão orquestradas e controladas, de forma segura, todas estas operações, conforme requerimento da Susep. Novos players e processos foram incorporados ao ecossistema para facilitar essas mudanças. Os prazos são apertados e devemos acelerar nossos esforços para atender a demanda”, alerta.

Para ela, a grande mudança que poderá ser alcançada com o novo modelo é o amplo acesso à informação, sob o controle e consentimento do segurado. “Isso permitirá um significativo aumento de oferta e negociação de garantias e deve aumentar o volume de apólices e coberturas a serem contratadas, beneficiando todos os atores do ecossistema”, pontua. 

Para que a troca de dados seja viável e ocorra entre as diversas companhias envolvidas, de forma segura e rápida, os participantes vão precisar chegar a um consenso para criar um sistema único de troca de informações.

Da mesma forma como aconteceu com o open banking, que é fiscalizado pelo Banco Central e trata do compartilhamento de informações financeiras e bancárias, o open insurance deverá ser implementado em fases. 

A primeira, a partir de 15 de dezembro, vai contemplar o compartilhamento de dados públicos das empresas referentes a produtos e canais de atendimento. A segunda fase, prevista para começar em 1º de setembro de 2022, permitirá que os clientes compartilhem seus dados pessoais. A partir daí, uma empresa poderá oferecer uma oferta melhor do que sua concorrente, já que terá acesso às informações do cliente (desde que ele autorize). Já a terceira e última fase prevê a execução de serviços por meio do ecossistema e terá início em 1º de dezembro de 2022.

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O mercado de seguros e os benefícios do open insurance

Vale lembrar que o setor no Brasil é muito diverso, com mais de 95 categorias registradas pela Susep, como a previdência privada, o seguro de automóveis, de viagem, funeral e residencial, entre outros. E, como a cobertura ainda é baixa no país, o espaço para crescimento é grande. É o que mostra uma pesquisa da Confederação Nacional das Seguradoras (CNSeg). De janeiro a junho deste ano, o mercado brasileiro cresceu 19,8%, movimentando R$ 145,1 bilhões e ultrapassando o volume do segundo semestre de 2019, antes da pandemia, que atingiu R$ 144,7 bilhões. Entre os destaques no semestre está o segmento de cobertura de pessoas, que inclui vida e previdência, cuja arrecadação saltou 23,7%, seguido pelos segmentos de danos e responsabilidades (15,4%) e títulos de capitalização (8,4%).

E é justamente o open insurance que pode viabilizar todo o potencial do país no segmento, por meio da democratização do acesso aos seguros e previdência. A visão é da presidente da Associação Brasileira de Insurtech. 

“Sabemos que o mercado de seguros tem baixa penetração, e as principais razões são o preço, que é elevado para parte da população, e o fato de que os produtos disponíveis muitas vezes não atendem à necessidade do consumidor. Assim, ao reduzir a assimetria informacional, é possível oferecer preços mais justos e produtos que façam mais sentido para o público brasileiro”, acredita Bárbara Possignolo.

Com as diretrizes publicadas pela Susep, a especialista explica que o compartilhamento de dados viabiliza que novos brasileiros sejam atendidos, aumenta a competição e facilita o ingresso de novos players, que vão conseguir oferecer preços tão competitivos quanto as seguradoras que possuíam o histórico do consumidor.

“O próprio aumento da concorrência acaba por reduzir os preços, uma vez que aumenta a oferta. Outro ponto importante é que, muitas vezes, os produtos contratados não são efetivamente adequados ao perfil do consumidor. Esse ajuste tende a resultar em preços mais justos”, diz ela ao reiterar os benefícios para o consumidor.

Para a Susep, o modelo pretende assegurar o desenvolvimento do setor, garantindo segurança e controle no acesso aos dados do consumidor, ao mesmo tempo em que amplia o intercâmbio coerente de informações neste segmento, a oferta de produtos e a inovação.

Os desafios para implementar o sistema aberto

Apesar dos vários benefícios que podem ser alcançados, o Brasil é o primeiro país do mundo a operar o open insurance regulamentado, e isso traz desafios do ponto de vista operacional, estratégico e cultural. Em setembro, um webinar realizado pela Capgemini, que reuniu os executivos da consultoria, debateu o tema. Na ocasião, Fábio Dragone, diretor de Digital, Inovação, CRM e CX do Grupo Bradesco Seguros, disse que as seguradoras estão mais adaptadas a um mundo open, mas os prazos são desafiadores. “Tem uma questão de possíveis riscos e não amadurecemos tanto neste mercado. O Brasil é quase pioneiro e, talvez, precisasse entender melhor alguns pontos.”

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A especialista Bruna Souza também concorda que esse modelo de compartilhamento de dados pode ser um desafio, uma vez que representa uma grande mudança de paradigma, mas avalia que o potencial de retorno é maior. “Teremos que conscientizar os clientes quanto aos ganhos que eles terão decorrente dessa nova forma de operar. A Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) garante que a proteção destes dados esteja sempre sob o comando do cliente”, esclarece.

Em agosto, por meio de nota, a Federação Nacional dos Corretores de Seguros Privados e de Resseguros, de Capitalização, de Previdência Privada, das Empresas Corretoras de Seguros e de Resseguros (Fenacor) manifestou preocupação com os possíveis efeitos da implementação do open insurance de forma abrupta e sem um amplo debate dos órgãos reguladores com as instituições do setor.

A entidade levantou o debate sobre a exclusão dos corretores de seguros, que são atualmente o principal canal de distribuição do serviço no país. “Não há menção ao corretor de seguros, seja regulamentando a atuação do grande agente distribuidor das apólices brasileiras, ou como cogestor do open insurance, em parceria com os demais players já definidos”, disse. 

Sobre isso, Bruna avalia que é uma realidade. “Vai afetar tanto os corretores como as instituições corretoras de seguros. Ambos representam os canais oficiais de intermediação de negociação entre seguradoras e o cliente. Cabe a estes se adaptarem operacionalmente para ofertar o acesso a todas estas informações.”

Bárbara concorda que o corretor de seguros tem um papel importante no setor, atuando como porta-voz do segurado na operação. “Mas ainda que o corretor não esteja expressamente previsto nas normas de open insurance, há muitas oportunidades na figura da SISS (Sociedade Iniciadora de Serviços de Seguros), que fará o relacionamento com o cliente e poderá iniciar serviços de seguros. A ideia é trazer mais eficiência para o mercado, e o corretor poderá assumir essa figura”, conclui. 

O que diz a Susep

Procurada pela reportagem para esclarecer a viabilidade do open insurance, a Susep informou, por meio de nota, que há grandes desafios e oportunidades. “Não é simples adaptar a regulamentação e a atuação do mercado a todo esse processo de mudanças que surge em função dos avanços tecnológicos e da legislação. Um outro desafio está relacionado às mudanças comportamentais dos consumidores financeiros e aos incentivos para que eles possam se inserir em um mercado aberto, compartilhando seus dados para se beneficiar com produtos e serviços mais atraentes.”

Sobre a proteção dos dados dos clientes, o órgão regulador esclareceu que o open insurance é projetado para ser totalmente seguro. “A regulamentação estabelece uma série de requisitos de segurança, que estão, inclusive, em linha com os padrões definidos para o open banking. Entre essas exigências, destacam-se a necessidade de dupla autenticação/consentimento do cliente, tanto pela sociedade receptora das informações quanto de quem envia os dados; a necessidade de confirmação das informações a serem compartilhadas pelo cliente; a limitação de acesso ao sistema somente para entidades supervisionadas ou credenciadas pela Susep; e a exigência de certificados de segurança para a autenticação segura das empresas participantes do open insurance, além das regras gerais de segurança cibernética e de governança que serão aplicadas a essas empresas.”

A Superintendência de Seguros Privados acrescentou, ainda, que os corretores continuarão a ser peças fundamentais no mercado de seguros, principalmente considerando que um dos objetivos do open insurance é a inclusão de novos consumidores que ainda não fazem parte do setor. “É importante, portanto, a atuação destes profissionais no assessoramento para melhor entendimento dos produtos oferecidos nesse novo ambiente, sobretudo em um cenário de inovação onde se espera o surgimento de produtos inovadores e flexíveis.”

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