Do amor pela matemática aos projetos para mulheres no mundo dos investimentos: a trajetória de Sandra Blanco no mercado financeiro

Para a estrategista-chefe da Órama, a desigualdade de gênero no setor está sendo reduzida
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Sandra Blanco (Foto: Arquivo Pessoal)

Você conhece alguém que decidiu qual seria sua profissão ainda criança e nunca mais mudou de ideia? É raro encontrar esse tipo de pessoa, que seguiu sua paixão de infância mesmo tendo descoberto, mais tarde, as inúmeras possibilidades que o mundo oferece.

A história de Sandra Blanco, estrategista-chefe de investimentos da Órama, com o mercado financeiro é assim: começou ainda na primeira fase da vida. Formada em matemática pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), ela conta que escolheu seu curso na faculdade porque, desde pequena, sempre gostou dos números.

Depois de conhecer suas alternativas de carreira, escolheu seguir no setor bancário, onde teve seu primeiro contato com o mundo dos investimentos. De lá para cá, com muito estudo, viagens e o exemplo de mulheres na área financeira cruzando seu caminho, Sandra foi se especializando e encontrou sua verdadeira vocação: investimentos para as mulheres.

Mesmo em meio a um ambiente predominantemente ocupado por homens, ela conseguiu se desenvolver profissionalmente, crescer na carreira e até escreveu dois livros para compartilhar suas experiências e conhecimentos. 

O primeiro, “Mulher Inteligente Valoriza o Dinheiro, Pensa no Futuro e Investe”, conta sua experiência cuidando do seu dinheiro durante dois anos nos Estados Unidos. Já o segundo, “A Bolsa Para Mulheres”, aborda a história do clube de investimentos que ela criou para mulheres de todo o Brasil.

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Confira, no bate-papo a seguir, mais detalhes sobre a trajetória de Sandra Blanco no mercado financeiro:

Elas Que Lucrem: O que fez você querer entrar no mercado financeiro?

Sandra Blanco: Acho que tudo começou pela matemática, que era minha matéria preferida. Quando eu saí do colégio, eu não sabia o que fazer, mas sempre fui nessa linha de pensar no que gosto e escolher o que ia fazer com base nisso. Então fui fazer matemática, pensando que poderia dar aula, mas pensando também que poderia encontrar outra coisa no meio do caminho, já que sou uma pessoa muito curiosa. 

Nunca tive ninguém do mercado financeiro na minha família, nunca tive nenhum incentivo para seguir essa área, mas na matemática eu conheci muita gente que trabalhava em banco e, na época, a maioria trabalhava na parte de computação e na parte de sistemas. Eu conversava muito com essas pessoas e comecei a me interessar pelo mercado. 

EQL: Qual foi seu primeiro contato com o mercado já como profissional?

SB: Apareceu na faculdade um programa de trainee em um grande banco e eu decidi que não daria mais aula, mas que começaria como analista de sistemas. Então fui pra lá e  passei por várias áreas. Comecei em conta-corrente, participei de um projeto que foi o início da interação dos bancos com os seus clientes por meio do fax. Depois fui pra área de cartão de crédito, crédito e, quando cheguei à área de investimentos, fiquei fascinada. Aprendi muito e, num determinado momento, percebi que não queria mais ser analista de sistemas, mas sim estar do outro lado, conversando com o cliente. Tive que me especializar, aprender, fiz um MBA de finanças e consegui fazer essa mudança na minha carreira.

EQL: E em que momento você se interessou pelo tema de mulheres no mundo dos investimentos?

SB: Desde que escolhi trabalhar com investimentos, fui me aprofundando, aprendendo mais, morei dois anos nos Estados Unidos e foi ali que tive o primeiro contato com educação financeira e investimentos para mulheres. Me interessei porque nunca tinha visto isso no Brasil e voltei cheia de projetos. Dali para frente, minha vida sempre foi focada em investimentos.

Hoje eu não tenho um projeto específico sobre o tema, mas tenho muitos grupos de mulheres com as quais sempre estou em contato. Eu tive um clube de investimentos, então eu ainda tenho esses grupos onde a gente troca ideias. E essas mulheres investem comigo porque eu tenho bastante conhecimento para compartilhar.

EQL: Alguns dados da B3 mostram que está crescendo o número de mulheres que investem na renda variável. Mas qual a sua percepção sobre a presença delas no mundo dos investimentos?

SB: Desde que eu montei o meu clube de investimentos para mulheres eu acompanho esse número. E ele subiu por muito tempo, depois estacionou e agora voltou a subir. Na realidade, eu vejo sim esse aumento do interesse de mulheres pelos investimentos desde que eu comecei no mercado financeiro. 

A minha tese de mestrado, inclusive, foi sobre isso: o que levava a mulher a investir, o que poderia fazer com que ela participasse mais dos investimentos. Com meu estudo, entendi que a mulher não é tão conservadora como a gente costuma rotular. Ela é mais cautelosa enquanto não conhece o terreno onde está pisando. 

Então, a falta de conhecimento faz com que a mulher seja mais conservadora no primeiro momento, mas depois que ela adquire o conhecimento, entende os riscos e sabe onde está pisando, ela passa a fazer outros investimentos. Conheço muitas mulheres que investem comigo que são bastante arrojadas, que gostam de ações. Depois de adquirir conhecimento, a mulher tende a desenvolver muita disciplina com seus investimentos.

EQL: Como os conteúdos sobre educação financeira auxiliam nessa tarefa de aumentar o número de mulheres investidoras?

SB: Quando eu comecei, a gente não tinha muitos livros de educação financeira aqui no Brasil. Lembro que quando eu voltei dos Estados Unidos, trouxe vários, já que o que tinha aqui era só o básico. Hoje em dia, o acesso à informação cresceu muito com a internet. Além disso, a presença de influenciadores que traduzem os conteúdos financeiros facilita muito esse contato. 

Como tudo na vida, tem que tomar cuidado com aquilo que parece bom demais para ser verdade – investimentos com taxas exorbitantes, por exemplo. Mas existe sim muito conteúdo bom que torna o mercado mais amigável para as mulheres iniciantes.

EQL: Ao olhar para o mercado financeiro como alguém que trabalha nele, qual a sua percepção sobre o ambiente profissional para as mulheres? Ele também se transformou com o passar dos anos?

SB: Desde que eu comecei, sempre encontrei muitas mulheres trabalhando no mercado. Mulheres como diretoras, gerentes, em cargos de liderança, então tenho boas referências. Mas houve sim um aumento na presença de mulheres e podemos ver isso pela quantidade de profissionais que hoje estão na mídia, são porta-vozes, dão entrevistas. Esse ambiente antigamente era mais restrito aos homens.

Mas o mercado financeiro é um ambiente muito competitivo, com bastante agressividade, onde você trabalha muito e sem horários muito definidos. Então isso pode gerar uma série de inseguranças para as mulheres, mas não é nada que com o tempo elas não dominem, assim como em qualquer área profissional.

As gerações mais novas também estão chegando e demandando mais suporte das empresas, com mais oportunidades de capacitação, então acredito que a desigualdade será cada vez mais dissipada.

EQL: E tem aquelas mulheres que, no decorrer da sua trajetória, serviram como inspiração para você?

SB: Tem duas mulheres com quem eu trabalhei quando morei nos Estados Unidos que foram minha inspiração. Foi com elas que eu aprendi sobre investimentos para mulheres. Elas me deram vários livros, materiais para estudar, me apresentaram um clube de investimentos para mulheres em Chicago e me inspiraram muito.

Quando voltei para o Brasil, tudo que eu pensava é que queria ter um livro sobre o assunto e um clube de investimentos para mulheres. Foi aí que encontrei muitas dificuldades. O banco onde trabalhava dizia que mulheres não queriam investir, que não era interessante lançar esses produtos.

Mas continuei insistindo muito e, depois de conseguir lançar o primeiro livro, as outras coisas vieram mais fácil. Muita gente me estimulou, me incentivou a continuar fazendo esse trabalho e aí as coisas foram acontecendo.

sandra blanco e filhas
Sandra Blanco com suas filhas, Isabela (de preto) e Alicia (de branco) | (Foto: Arquivo Pessoal/Sandra Blanco)

EQL: E na vida pessoal, o que mais a motivou para você continuar com o caminho da educação financeira?

SB: Esse meu interesse por educação financeira também ganhou muita força quando minha primeira filha nasceu. Essa foi a primeira vez que eu consegui olhar para frente e ver a necessidade de ter um planejamento que fosse mais de longo prazo. 

Lembro do momento em que eu olhei para ela e pensei. “Agora eu tenho esse bebezinho, que daqui a pouco vai ter um ano, cinco anos”. Ela está perto de completar 23. Foi ali que eu realmente comecei a usar as técnicas que eu tinha aprendido na minha própria vida.

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