Escolas secretas: Professoras afegãs desafiam o Talibã e ensinam adolescentes de forma clandestina

Desde que o grupo assumiu o governo do país, meninas são proibidas de frequentar escolas públicas a partir da sexta série em diversas cidades, inclusive na capital Cabul
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Escolas secretas: Professoras afegãs desafiam o Talibã e ensinam adolescentes de forma clandestina
Crianças afegãs lendo livro (Foto: Zohra Bensemra/Reuters)

Na sala de estar de Fawzia, uma professora afegã, adolescentes se reúnem para uma aula clandestina de história. Nas escolas privadas do país, as alunas participam das aulas assim, de forma secreta. Desde setembro, quando o Talibã reabriu as escolas no Afeganistão, meninas não podem frequentar aulas a partir da 6a série em diversas cidades do país, inclusive na capital Cabul.

“Precisamos dar a elas esperança de que um dia as escolas reabram”, disse a professora ao jornal norte-americano “The Wall Street Journal”. Oficiais do Talibã dizem que as escolas para meninas mais velhas serão reabertas assim que acordos de segregação de gênero forem feitos. Mesmo com tom mais moderado do que na década de 1990, quando o movimento fundamentalista islâmico governou o Afeganistão pela primeira vez, o grupo ainda não impõe confiança quando diz que as escolas serão reabertas. 

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“Estamos empenhados em dar às meninas o direito à educação. O Islã deu a elas esse direito. Mas existem algumas questões que vão contra nossos costumes e valores islâmicos. Assim que esses problemas forem resolvidos, vamos deixar as meninas irem à escola”, disse Akef Muhajir, porta-voz do recém-criado Ministério para a Promoção da Virtude e Prevenção do Vício do Talibã, que ocupa o antigo Ministério dos Assuntos da Mulher. “Estamos tentando fazer isso o mais rápido possível.”

Segundo Axana Soltan, que dirige uma ONG nos Estados Unidos pela defesa da educação de meninas afegãs, está claro como os talibãs se sentem em relação à educação das mulheres. “Eles não querem empoderá-las por meio da educação. O objetivo do Talibã é manter as mulheres em suas casas”, disse a ativista ao “WSJ”.

Desde que o grupo assumiu o poder no final de agosto, seu posicionamento em relação aos direitos das mulheres é, no mínimo, contraditório. Ao mesmo tempo que determinou, na última semana, que mulheres devem consentir com o casamento, o Talibã também proibiu a transmissão de filmes com atrizes e exigiu que as repórteres usem o véu islâmico. Além disso, imagens de mulheres do lado de fora de muitas lojas foram pintadas e as cidadãs afegãs foram impedidas de entrar em muitos locais de trabalho, incluindo todos os empregos públicos.

Em relação à educação, que avançou muito no país nos últimos 20 anos, o Talibã impôs que homens lecionem para homens e mulheres ensinem mulheres – nos casos em que estas estão autorizadas a aprender. Em algumas universidades, as salas de aula foram divididas com uma cortina, separando alunos de alunas. 

Mesmo assim, o Talibã aponta que um dos problemas relacionados à reabertura de escolas e universidades para meninas é econômico. “Se você nos impõe sanções, está interrompendo ainda mais o processo”, disse Zabihullah Mujahid, o porta-voz chefe do grupo.

O Afeganistão enfrenta uma crise. A Organização das Nações Unidas (ONU) prevê que 95% da população afegã pode passar fome em poucos anos, e até 97% correm risco de ficar abaixo da linha da pobreza. A economia do país está à beira de um colapso, o que afeta, inclusive, o estudo das meninas, que geralmente pagam uma quantia para as professoras que ministram as aulas secretas. 

Enquanto Fawzia abre sua casa para aulas clandestinas, escolas disponibilizam o porão do prédio para as alunas estudarem. Em reportagem do “Deutsche Welle”, a empresa pública de radiodifusão da Alemanha, publicada pelo G1, as meninas aprendem logaritmo com uma aluna veterana. 

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Já em uma escola localizada em bairro xiita no oeste de Cabul, mais de 50 alunas da 6a à 10a série frequentam as aulas de forma secreta. 

“Se o Talibã descobrir o que estou fazendo, vai me punir severamente. Mas eu assumo a responsabilidade por minhas ações”, disse o diretor da escola ao “WSJ”. “Eu não tenho medo. Quero que as meninas continuem seus estudos.” Ele conta que recebeu ligações de pais pedindo para que as filhas voltassem a estudar e, uma semana depois de as escolas reabrirem, permitiu que as meninas também aprendessem. “Apesar do risco, não vamos desistir”, disse uma das alunas ao “DW”. 

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