Como uma lesão no braço levou Beatriz Ramos a se tornar a “rainha dos selinhos”

Impedida de continuar sua trajetória como pianista nos EUA, Beatriz Ramos voltou ao país e hoje comanda a operação da L-founders of loyalty
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Desde o momento em que tocou as teclas de um piano pela primeira vez, Beatriz Ramos se agarrou a uma certeza: seu futuro seria na música (Foto: Divulgação)

Desde o momento em que tocou as teclas de um piano pela primeira vez, Beatriz Ramos se agarrou a uma certeza: seu futuro seria na música. Suas primeiras notas no instrumento seguiram uma intuição infantil. Uma paixão que a fazia descer para a dispensa de sua casa todos os dias para tocar – ou pelo menos fantasiar que estava tocando uma música completa. “Era uma coisa minha, então eu comecei a pressionar a minha mãe para que ela me matriculasse em uma escola de música. De início, ela queria que eu aprendesse a tocar algum instrumento de sopro, que era menor e podia ser levado para todos os cantos, mas eu estava focada no piano”, recorda a brasiliense. 

Quando Beatriz iniciou os estudos na Escola de Música de Brasília, ficou nítido – para todos – que ela tinha um talento natural. Aprendeu rápido e logo o gosto pelo instrumento começou a aumentar, até que uma grande oportunidade surgiu. “Minha irmã morava na Holanda e, em uma visita que fizemos no aniversário dela, eu toquei piano. Por sorte, um professor do Conservatório Real de Haia estava presente. Ele me ouviu e questionou se eu tinha interesse em visitar o conservatório. Eu fui, fiz algumas aulas e fui convidada para ser bolsista e estudar lá.” A informação que deixa esse acontecimento ainda mais surpreendente é a idade de Beatriz na época: aos 12 anos, ela deixou o Brasil para estudar música clássica na Europa. 

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“Eu não podia deixar essa oportunidade passar”, brinca. Nos primeiros meses, sua mãe a acompanhou na empreitada, já que a irmã morava do outro lado da Holanda e não conseguia oferecer uma moradia próxima ao conservatório. Após um tempo, Beatriz se estabeleceu na casa de uma família que recebia intercambistas e começou a amadurecer como pessoa e como musicista. Aos 16 anos, já se sentia pronta para novos desafios, e foi aprovada na renomada instituição artística Juilliard School, em Nova York. Na cidade, foi morar no internato de jovens talentos, junto a outros músicos e bailarinos. 

Beatriz aproveitou o dinamismo da metrópole norte-americana para conhecer pessoas e aprender coisas novas. Para aproveitar a parceria entre a Juilliard School e a Columbia University, ingressou no curso de economia da consagrada faculdade. Sua rotina, muito equilibrada, envolvia contas e acordes, além de parecer um roteiro de filme hollywoodiano. Como em toda boa obra, no entanto, um clímax de infortúnio surgiu em sua vida. Aos 21 anos, descobriu uma lesão nos nervos do braço direito que a impediram de seguir carreira como pianista. 

“Foi assustador e deprimente. Imagina ter um sonho que, de repente, é arrancado de você sem que seja possível fazer alguma coisa. Eu conversei com vários médicos e realmente não tinha jeito”, conta. “Todos os esforços e longos dias de treino não deram em nada. Foi naquele momento que tudo mudou.” Embora hoje enxergue a situação como um divisor de águas, responsável por duas vidas diferentes – a Beatriz pianista e a Beatriz executiva -, não foi fácil aceitar esse susto do destino. “Foram meus amigos e familiares que me ajudaram a ter uma nova visão. Ganhei o livro ‘A Arte da Felicidade’, de Tenzin Gyatso, e, ao ler, entendi que o vitimismo não nos leva a lugar nenhum. Eu não teria mais o piano, mas o que eu ganhei com ele?”, questionou. 

HERANÇA MUSICAL

Como herança dos longos anos ao lado do piano, Beatriz ganhou amadurecimento, responsabilidade e foco. Além disso, sua trajetória morando na Europa e nos Estados Unidos lhe deu bagagem para que conhecesse diferentes culturas, idiomas e competências. “Como eu já estudava economia, comecei a procurar por oportunidades em áreas que me propiciassem unir o amor pela música com a paixão pelos negócios. Eu não queria ser professora de piano porque seria um confronto muito grande com os meus sentimentos, então decidi seguir o outro caminho”, explica. 

No início dos anos 2000, época em que as gravadoras estavam sofrendo com o desafio dos downloads ilegais de música, a brasiliense conseguiu uma vaga como trainee na Sony Music, como parte da equipe de estratégia da empresa. Trabalhou em Nova York e em Londres por cerca de cinco anos, e acumulou conhecimentos sobre como gerar fidelidade no varejo. “Durante esse tempo de trabalho, conheci a BrandLoyalty, uma empresa que nos ajudou em um projeto especial. Resumidamente, as pessoas iam ao supermercado e, a cada certa quantia em compras, ganhavam figurinhas de artistas vinculados à Sony. Na embalagem, além da figurinha, recebiam um acesso a downloads digitais de algumas músicas. Isso incentivava a venda e criava fidelidade.” 

Com o sucesso da campanha – que chegou ao Brasil -, Beatriz foi convidada pela BrandLoyalty a abrir a operação brasileira da empresa. “Eu sempre tive vontade de voltar ao Brasil porque meus pais estavam aqui. Já pelo lado profissional, eu tinha vontade de contribuir para o meu próprio país”, revela. Após quase duas décadas morando no exterior, à beira dos 30 anos, ela decidiu retornar ao seu país de origem e abrir um novo capítulo em sua trajetória: o de empreendedora. Afinal, começar uma empresa do zero em uma nova região era um grande desafio. 

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“Foi difícil, mas eu estava muito confiante. Com todas as minhas vivências fora, eu acreditava muito no conceito dos selinhos e tinha convicção de que iria virar uma febre no Brasil”, destaca. Dito e feito. Rapidamente, a operação local começou a prestar serviços de fidelidade para grandes redes nacionais. Basicamente com a mesma estratégia usada na campanha de figurinhas da Sony – o ganho de itens colecionáveis a partir de uma quantia em compras -, a executiva criava uma nova noção de fidelidade na cabeça  dos consumidores. “Por que eles iriam querer comprar no concorrente se comprando aqui gastavam a mesma coisa e ainda ganhavam brindes?”, questiona ela, tentando explicar sua tática preferida para o varejo. 

Em pouco tempo, Beatriz ficou conhecida como a “rainha dos selinhos”, por atender redes como Pão de Açúcar e Extra – além do supermercado Hema, da gigante do comércio chinês Alibaba. Em 2021, após mais de 10 anos do início de sua história com o varejo, a executiva assumiu o comando da L-founders of Loyalty, empresa holandesa que também entrega estratégias de de fidelidade de mercado, fechando novas rodadas de programas de selinhos trocados por prêmios, como panelas e facas.

Após mudanças de carreira e anos sabáticos inspiradores, Beatriz continua agradecendo a música por todos os ensinamentos que a ajudaram na trajetória como executiva. “O simples ato de saber ler partituras me ajuda na análise rápida e nas reuniões de negócio”, revela. Mais do que isso, o piano continua sendo um ponto de equilíbrio em sua rotina. Desde o primeiro contato com o instrumento, ela nunca deixou de tocar. Sua única tarefa foi se adaptar e entender que a música e os negócios podem andar em sintonia.

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