Mães que amam seus filhos, mas não gostam da maternidade

O peso da maternidade e a sobrecarga das mães muitas vezes fazem com que a experiência não seja como imaginavam
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Larissa* foi mãe pela primeira vez aos 22 anos. Nunca tinha pensado muito sobre o tema da maternidade, mas aceitou a gravidez e levou o então namorado para morar junto no apartamento que dividia com a mãe e a irmã. Aos 24, engravidou do segundo filho, mas já estava em união estável morando com o marido (o mesmo namorado de 2 anos atrás). Viveu as duas maternidades no “automático”, mas quando começou a depender completamente do marido, percebeu que não gostava daquilo.

“Eu amava meus filhos, mas odiava a privação que a maternidade me trazia. Não tínhamos dinheiro para colocar uma cuidadora, a escola era apenas em período parcial, não conseguia um emprego que me sustentasse ou que superasse a conta de colocarmos uma cuidadora em casa”, conta. Por anos, ela se sentiu frustrada com os filhos e só conseguiu aceitar o que sentia quando eles se tornaram maiores, portanto, mais independentes. “Precisei retornar ao mercado de trabalho para perceber o quanto ser mãe em tempo integral me fazia mal. Depois de um dia de trabalho, posso passar um tempo de qualidade com eles”, conta.

O sonho da maternidade pode não ser bem o que imaginavam

Embora seja difícil encontrar pessoas que assumam a frustração da maternidade, uma pesquisa alemã da YouGov, realizada em 2016, 8% dos 1,2 mil participantes disseram que lamentavam ter se tornado pais.

Em 2015, a socióloga israelense Orna Donath publicou um estudo com mulheres que se arrependeram de ter tido filhos. Ela descreveu “o desejo de desfazer a maternidade” como uma “experiência materna inexplorada”.

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A especialista em comércio exterior Érica Marinho, de 36 anos, precisou recorrer a fertilização in vitro para realizar o sonho de ser mãe de Bella, hoje com 3 anos. Mesmo assim, a maternidade traz sentimentos contraditórios. “Eu amo ser mãe, é realmente aquele amor que transforma sua vida, é um combustível que te faz ser uma pessoa melhor, querer um mundo melhor. Ser mãe é ver as coisas simples e a cada conquista daquele pequeno que te enche de orgulho. Mostrar o mundo ao seu filho é a melhor experiência que eu já vivi. Porém a maternidade é muito exaustiva emocionalmente e fisicamente para mim! E eu que achava que trabalhar o dia inteiro, ir para a faculdade à noite, chegar em casa todos os dias quase meia noite e sair para a balada era cansativo”, diverte-se.

Não é igual para todas

A psicóloga Karina Perusso enfatiza que a maternidade é diferente para cada pessoa. “A maternidade para as mulheres pode ser sentida de formas diferentes, nem toda mãe gosta. Para algumas mulheres a maternidade pode ser algo mais doloroso, pois muitas vezes não conseguem ter a ajuda do pai ou não conseguem renunciar suas carreiras para o cuidado exclusivo aos filhos. Além dessa sobrecarga, há também o sentimento de abrir mão da própria vida para se dedicar ao outro”, diz. “É fundamental para que essas mães se sintam acolhidas em suas dificuldades”, completa a psicóloga.

“É uma sobrecarga que não acaba: a mãe que carrega 9 meses, depois do nascimento do bebê tem a pressão da maternidade perfeita, a mãe tem que decidir se vai parar de trabalhar para cuidar do bebê ou deixá-lo o dia inteiro na escola…aí você pensa, será que estão tratando meu bebê bem? será que estão alimentando-o direito, será que irão deixar a fralda sempre limpinha? Com quem posso deixar meu bebê? A minha escolha foi parar de trabalhar e cuidar da Bella em tempo integral. Não me arrependo, porém, tive que deixar a minha carreira em segundo plano. Quando voltei ao mercado de trabalho tive que recusar algumas ofertas que eram melhores, que tinha um bom plano de carreira, porém em outra cidade, isso demandaria mais tempo de locomoção, eu tive que escolher o emprego que era mais flexível e que me fizesse passar mais tempo com a milha filha. Ou seja, ser mãe é fazer escolhas e ter que renunciar a muitas coisas, enquanto na paternidade não precisa. Às vezes eu queria ser pai,” brinca.

Por isso, o movimento de mulheres que são contra a maternidade compulsória é cada vez maior. “Realmente, o empoderamento das mulheres está fazendo com que elas pensem nas consequências reais da maternidade, e passem a fazê-la como escolha, não como consequência natural da vida”, diz Bruna Silva, psicóloga. “As pessoas estão parando de romantizar a maternidade e estão trazendo pontos reais e importantes para reflexão. Isso não irá impedir totalmente que mães se frustrem, mas deve fazer com que escolham a maternidade com mais consciência das suas consequências”, reflete.

Por fim, ela dá um conselho para quem está se sentindo frustrada com a maternidade. “Não podemos evitar o arrependimento, mas entender que nem sempre as coisas saem como o planejado e aprender a conviver com isso pode minimizar o sofrimento. Procurar um profissional que possa ajudar a compreender as razões por trás dos sentimentos também pode ajudar muito”, aconselha Bruna.

*Larissa teve seu nome modificado para preservar sua identidade

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