Com ou sem filtro? Como evitar comparações nas redes sociais

É natural olhar para as pessoas nas suas redes e comparar você e seu estilo de vida àquilo que elas postam. Mas é essencial estabelecer limites nessa relação.
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Filtro, efeito, edição… Quem nunca mexeu (pelo menos um pouquinho) em uma foto antes de publicá-la no Instagram, que atire a primeira pedra! Mas você já parou para pensar quais são os reflexos dessas pequenas alterações na sua vida fora das redes?

Muito além de uma orelha de cachorro divertida, com o passar do tempo, os filtros do Instagram foram evoluindo e caminhando para outros rumos. Hoje, com apenas um toque na tela você pode alterar seu nariz, queixo, diminuir a bochecha e até mesmo criar uma maquiagem que, normalmente, demoraria horas fazendo. E, vamos ser sinceras, de vez em quando é legal brincar com os efeitos e criar diferentes versões de nós mesmas.

Mas a brincadeira, no entanto, tem implicações gigantescas na realidade. Tanto a ponto de, até mesmo, criarem uma nomenclatura nova para o que estamos vivendo atualmente, a chamada “dismorfia do Instagram”.

O nome complexo se refere, basicamente, a pessoas que, de tanto usarem filtros e se acostumarem com edições, deixam de se reconhecer frente a um espelho comum e, muitas vezes, chegam até mesmo a passar por complexas cirurgias plásticas para conseguirem ficar o mais próximo possível daquela imagem vista na tela do celular.

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O próprio Facebook, aliás, já admitiu que esses problemas realmente acontecem em suas plataformas. Em um estudo publicado pela empresa em 2020, eles assumiram que, muitas vezes, a “brincadeira” pode se tornar tóxica para os usuários, principalmente para jovens garotas. “32% das garotas afirmam que, quando se sentem mal com seu corpo, o Instagram as faz se sentirem pior”, aponta uma parte do estudo.

Mas, afinal, como chegamos a esse ponto? Para Izabel Gimenez, jornalista e produtora de conteúdo no Instagram @belsempadrão, muito disso aconteceu por uma falta de entendimento de todos nós, principalmente quando começamos a entrar nas redes sociais. “Os usuários não tinham consciência de que aquilo não era 100% a vida real das pessoas. Porque quando as redes sociais começaram a entrar na nossa vida, criou-se uma sensação de que aquilo é a realidade de fato, mas no universo online. Hoje, com o tempo, as pessoas têm um pouco mais de consciência de como são afetadas, mas ainda assim é muito difícil você desvincular no dia-a-dia, porque é um cenário propício para você se sentir iludida”, afirma.

Para Edwiges Parra, psicóloga organizacional, especialista em saúde mental, professora convidada FGV de Educação Executiva, palestrante e instrutora de mindfulness, é justamente nessa falta de diferenciação entre vida real e redes sociais que entra o problema.

“A questão não está em usar o filtro e sim na relação que o indivíduo faz quanto a ele. Se você entender que pode usá-los como diversão, ou em uma manhã que não acordou tão bem e está com vontade de fazer uma make sem se dar o trabalho de fazê-la, não há danos. O problema se torna quando a pessoa que já tem uma fragilidade, uma tendência à baixa autoestima, começa a gostar mais da versão de si que vê no filtro do que daquela natural/verdadeira”, aponta.

E é assim, em uma brincadeira que passa a se tornar rotina e em uma rotina que passa a se tornar um problema de autoimagem, que começam a surgir esses distúrbios e a idealização por uma imagem perfeita.

Muito além do próprio corpo, a idealização da vida

Vamos pensar em duas hipóteses: 1) você acordou em um domingo de manhã, descabelada, cansada e pretende passar o dia todo sozinha deitada na cama e 2) você está em uma festa sábado à noite, mega arrumada, cheia de amigos e se divertindo. Qual dos dois cenários estaria no seu feed ou stories neste final de semana?

Não preciso te conhecer muito para imaginar que seria o segundo. E você também não precisa ficar com vergonha de admitir isso, afinal, é exatamente assim que a maioria de nós usamos as redes sociais. Mas, olhando para os dois, dá para entender a diferença. É justamente esse exercício que precisamos fazer diariamente: entender que todos temos domingos de manhã ruins e solitários, a diferença é que (a maioria de nós) não postamos sobre eles.

O Instagram, Facebook e qualquer outra rede social é nada mais nada menos que um recorte (comumente perfeito e idealizado) da nossa vida real. E, muito além de problemas com autoimagem, esse recorte também vem trazendo uma série de outros problemas, como, por exemplo, a Síndrome de FOMO.

Sabe quando você fica um final de semana todo sem planos e vê que, aparentemente, todos os seus amigos estão curtindo e vivendo coisas legais sem você? Se você já presenciou isso, consegue ter uma noção do que é essa síndrome. A sigla FOMO vem do inglês Fear Of Missing Out, que é basicamente o medo de estar por fora das coisas. De não ser convidado, de não estar vivendo a vida animada que aparentemente todas as outras pessoas estão. Claro que a síndrome é dada quando essa sensação se torna excessiva e prejudicial à própria vida. Ou seja, muito além dos impactos na nossa imagem e aceitação, as redes também estão trazendo uma idealização da vida em si.

Socorro! Como ter uma relação saudável com as redes?

Com essa série de problemas e prejuízos que as redes sociais podem trazer, é natural que bata aquele leve desespero. Mas pode respirar: nem tudo é ruim no universo online! A gente sabe que você se diverte mexendo no Facebook e Instagram e esse não é um recado para você sair correndo dessas redes.

Muito pelo contrário: não há problema algum em publicar, olhar, curtir e dar aquela stalkeada de vez em quando. Como tudo na vida, o uso das redes também passa por uma relação de limites e filtros do que você escolhe ver ou não lá dentro. 

Hoje já vemos, por exemplo, movimentos dentro das redes sociais que buscam mostrar um pouco mais da realidade, da vida como ela é. A própria Izabel busca diariamente trazer esse tipo de conteúdo para seus seguidores. 

“Eu tento fazer isso. Mostrando meu corpo, me colocando em uma posição vulnerável, dizendo sobre minhas inseguranças, falando sobre minhas questões. Porque muitas vezes essa ideia do body positive, corpo livre, auto amor, chega até a ser tóxico em algum ponto. Porque ele cria uma expectativa de que todo mundo vai se amar, todo mundo vai ser feliz. Cria uma série de regras que não tem que nada!”, pontua. “No final das contas, a gente é humano e vivência todas as questões, principalmente em um mundo tão gordofóbico, machista, com tantas pressões em todos os lugares”.

No fim das contas, a dica é sempre buscar olhar para a pluralidade também nas redes: seguir perfis de estilos diferentes e entender que, independente da pessoa estar usando ou não um filtro, postar ou não sempre é uma escolha e os quadrados no celular são apenas um recorte da vida real.

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