O tabagismo e o desafio ainda maior entre as mulheres para largar o vício 

Questões sociais e emocionais diferentes são obstáculos a mais na vida da mulher para lidar com a dificuldade de parar de fumar.
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Que o cigarro faz mal à saúde em vários aspectos, não é uma novidade. Essa informação é pública e compartilhada popularmente há alguns anos. Agora, uma vez diante do vício no tabaco, podemos, individualmente, enfrentar consequências e dificuldades distintas para parar de fumar. 

Seja para uso dito como social ou diário, o cigarro não tem benefício algum quando o assunto é saúde, mas isso se reflete de maneira diferente entre homens e mulheres, por questões óbvias fisiológicas e físicas, com certa semelhança em algumas questões, mas também em outras não tão conhecidas – ou ignoradas – assim.  

Sim, o comportamento e lugar social da mulher na sociedade como um todo faz a diferença. Somos expostas a rotinas que se sobrecarregam e cobranças –  de terceiros e nossas próprias – que faz com que o cigarro seja uma boa desculpa de válvula de escape.   

Infelizmente, neste artigo não viemos apresentar para você uma solução infalível para parar de fumar, se esse for o seu desejo, mas viemos trazer um olhar mais informativo para você mulher se sentir acolhida dentro do seu processo e com mais conhecimento para ajudá-la, da forma que for.    

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O sobrinho de Freud explica

Com esse título, a matéria da revista TRIP nos traz uma boa referência de como a questão do cigarro se disseminou historicamente entre as mulheres. 

O austríaco radicado nos Estados Unidos, Edward Bernays, sobrinho de Freud e também conhecido como “pai da sociedade do consumo”, teve como primeiro cliente, logo após o fim da Primeira Guerra, a Corporação de Tabaco Americana.

A empresa o desafiou a dobrar o consumo de cigarros no país e ele decidiu convencer as mulheres, que eram grande parte da população, de que podiam e deveriam fumar, algo visto como inapropriado para o gênero na época. 

Como diz na TRIP, “Edward entendeu o cigarro não como um produto, mas como um símbolo fálico. E percebeu que, se buscasse uma forma de associá-lo ao poder masculino e aos desejos inconscientes das mulheres de derrubá-lo, os cigarros ganharam um significado mais profundo, quase irresistível para muitas delas.”

Para isso, ao invés de anúncios e propagandas, ele contratou um grupo de mulheres para participarem do desfile de Páscoa em Nova York de uma maneira diferente. Para a imprensa, anunciou que esse grupo seriam militantes feministas em protesto por voto nas eleições, e que acenderiam “tochas da liberdade”, mas na verdade, elas tirariam das suas meias-calças as cigarreiras e fumariam em público. Feito! 

A iniciativa deu muito certo, jornais do mundo todo noticiaram o ocorrido, o cigarro tornou-se um sinônimo de liberdade e as vendas aumentaram já na semana seguinte.   

Este produto causa câncer

O problema é que de liberdade, o cigarro na verdade era um convite para uma “prisão”, pois, o consumo de nicotina, substância presente no cigarro, causa vício, algo que não combina nem um pouco com independência e autonomia.   

A médica pneumologista hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo, e professora de pós-graduação Roberta Fittipaldi, 40 anos, reforça essa relação de dependência presente no cigarro:

“A gente sabe que hoje o tabagismo é um dos vícios mais difíceis, porque o nosso cérebro tem receptores de nicotina e quando esses receptores são expostos à substância, eles se multiplicam, e nessa questão de se multiplicar eles “querem mais nicotina”, afirma.

“Esses receptores ativam vias de prazer e de recompensa no nosso cérebro, o que faz com que a pessoa tenha tanto um vício químico como um vício físico, então, por isso, é um dos vícios mais difíceis de largar.”, completa. 

Além disso, não podemos deixar de reforçar doenças que comumente já são associadas ao uso de cigarro como cânceres de pulmão, bexiga, laringe e garganta, além de doenças pulmonares crônicas, como bronquite crônica e o enfisema pulmonar.

Tochas da liberdade

O tabagismo feminino precisa ser conversado, pois o hábito de fumar está muitas vezes associado a questões emocionais e sociais. 

E, nesse aspecto, nós, mulheres, já sabemos que, além de uma diferença de variações hormonais enormes, se compararmos aos homens, que mexe com o nosso emocional, temos também outras tantas cobranças e questões para lidar diariamente.   

“As mulheres sofrem com as variações hormonais dos ciclos menstruais, como a TPM,em que o cigarro pode ser uma válvula de escape. Além disso, a rotina da maioria, envolve família, emprego, filhos – isso quando já não são mães solo – e sustento financeiro familiar. São muitas estruturas para equilibrar.”, afirma Fittipaldi. 

Fittipaldi ainda recorda que o tabagismo também está associado a doenças mentais muito comuns, como depressão e ansiedade, e, ainda, entre as mulheres, essa conexão pode ser encontrada também em uma depressão pós-menopausa.   

Os dados são ainda mais contundentes nesse quesito feminino. Segundo relatório publicado em 2021 pela Organização Mundial de Saúde (OMS), o número de mulheres no mundo que fumavam em 2020 era de 231 milhões. A faixa etária com maior taxa de prevalência entre as mulheres para o uso de tabaco é de 55 a 64 anos, idade em que o período da menopausa está associado.

Em geral, as notícias são positivas se olharmos para o todo, mesmo que aparentemente pequena, em que, em 2021, registrou-se um total de 1,3 bilhão de usuários de tabaco no mundo,entre mulheres e homens, em comparação com 1,32 bilhão em 2015.

Em artigo no site do HCor – Hospital do Coração, em São Paulo, mostrou que das mulheres tabagistas internadas, cerca de 50% fumam entre 11 a 20 cigarros por dia, 17% fumam até 30 cigarros, o que é mais que um maço comum que tem 20 cigarros, e 3,3% mais do que 30 cigarros. 

Entre os motivos, elas afirmam que 43,3% foram por influência dos amigos, 30% por curiosidade, 13,3% por influência dos familiares e 10% por busca de prazer.

Ainda em conversa com a Fittipaldi, destacamos o seu alerta a respeito da população de jovens fumantes, que estão se aventurando com as novidades do mercado como o cigarro eletrônico. 

“Os jovens estão fumando mais cedo e existe um risco cumulativo, ao longo dos anos, dos danos causados pelos cigarros. O uso de cigarros eletrônicos, comum entre eles, que tem tanto nicotina como outras substâncias tóxicas, presentes na combustão e na fumaça, e outras tóxicas utilizadas para fazer o aroma do cigarro eletrônico, causam não só danos pulmonares, como danos em artérias, cerebrais, e, em um estudo mais recente, mostrou que o uso de cigarro eletrônico está associado, para os homens, ao risco de impotência.”, afirma.   

(in)Fertilidade

Outro ponto muito importante e específico a respeito do tabagismo entre as mulheres é a relação do cigarro com a nossa fertilidade. 

A partir de dados do Instituto Nacional do Câncer, compreendemos que a nicotina provoca atraso na concepção e aumenta em 30% a possibilidade de infertilidade dessa mulher tabagista. 

Isso ocorre por conta da concentração da substância – nicotina – no fluido folicular do ovário, o que significa que uma mulher fumante que não usa método contraceptivo reduz a sua taxa de fertilidade de 75% para 50%. 

Durante a gravidez o tabagismo da mãe atinge também o bebê, pois a nicotina atravessa a barreria da placenta, comprometendo a nutrição e oxigenação, podendo causar má formação, parto prematuro, aborto espontâneo, morte súbida do feto e riscos de doenças cardiovasculares durante a sua vida.

Proibido fumar

Para quem está vivendo o desafio de tentar parar de fumar e se libertar do vício, Fittipaldi nos conta que é possível sim a partir de ajuda médica. 

“As especialidades que tratam do tabagismo, seja com mulheres ou homens, são especialistas da pneumologia, além de psicólogos e psiquiatras, com terapia cognitivo-comportamental, na grande maioria dos casos, associado à medicação.”, explica. 

“Há também grupos que se encontram para tratar da dependência e do vício, assim como acontece nos alcoólatras anônimos (AA), por exemplo, em que as taxas de sucesso registram o patamar de 80%”, finaliza.

Como mensagem final, convidamos você mulher tabagista a fazer uma reflexão, principalmente agora, a partir das informações que teve acesso aqui neste artigo. Você não precisa tentar resolver tudo sozinha, caso esteja passando por dificuldades, busque ajuda médica, e cuide da sua saúde e bem-estar. 

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