Terapia psicofinanceira: autoconhecimento para lidar com o dinheiro

Pensamentos e hábitos que levam à relação pouco saudável com as finanças podem ser mudados com ajuda profissional
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Muitas pessoas recorrem às sessões de terapia com psicólogos ou psicanalistas quando precisam cuidar da saúde mental, ou trabalhar questões emocionais. Os assuntos abordados nessas ocasiões são os mais diversos e vão focar na necessidade de cada pessoa: busca por autoconhecimento, lidar com questões do cotidiano, cuidar de traumas, luto, fobias, doenças…as possibilidades são inúmeras e nem adianta tentar esgotar os exemplos aqui.

Mas você já ouviu falar da terapia psicofinanceira? Ela é voltada especificamente para melhorar a relação da pessoa com o próprio dinheiro e pode proporcionar mais autoconhecimento, liberdade e autonomia financeira.

De acordo com um estudo do Instituto FSB Pesquisa, 47% dos brasileiros apontam as finanças pessoais como a maior preocupação e 30% possuem gastos maiores do que a renda. Além disso, um outro estudo, realizado pela Federação Brasileira dos Bancos (Febraban) em parceria com o Banco Central, revelou que as finanças geram estresse e problemas familiares em 58,4% dos brasileiros. 

Essa relação pouco saudável com o dinheiro pode provocar até a chamada fobia financeira. Ela é uma questão psicológica que surge a partir de experiências financeiras negativas e leva até mesmo a sintomas físicos, como taquicardia e enjoo, além de irritação e ansiedade, atrapalhando muito a organização das finanças pessoais.

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A terapia psicofinanceira surge, então, como uma possibilidade de mudar alguns pensamentos e hábitos, reorganizando a forma de se relacionar com o dinheiro.

Um caminho para a independência delas

Para as mulheres, em especial, a terapia psicofinanceira pode ser um recurso importante no caminho para a independência. Afinal, muitas abrem mão de realizações pessoais em nome do cuidado com a família e da casa, o que, na maioria das vezes, as torna financeiramente dependentes dos companheiros. Além disso, aquelas que trabalharam fora, ou conseguem se dedicar à carreira que escolheram precisam se deparar com a falta de igualdade no mercado de trabalho. 

Um estudo da consultoria IDados, com base na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio do IBGE, aponta que as mulheres ganham até 20,5% a menos do que os homens, mesmo quando têm o mesmo grau de escolaridade e o mesmo tipo de ocupação.

“A terapia psicofinanceira é a forma de você se conhecer e gerir melhor suas finanças, para que você possa desfrutar da liberdade e da autonomia financeira que você construiu. Na nossa cultura, muitas mulheres foram criadas e educadas desde cedo para o bom casamento, para se sentirem seguras, buscando segurança no outro e não em nós mesmas. Disseram-nos que não temos competência para isso. Hoje as mulheres tratam muito mais a mente do que os homens, mas, na questão financeira, deixam a desejar”, alerta a economista e mestre em psicanálise Francine Mendes.

Quando recorrer à terapia psicofinanceira?

Os sinais de que a relação com o dinheiro não está boa aparecem nos detalhes do dia a dia. Pode ser na dificuldade de organizar as próprias finanças, nos gastos por impulso, nas dívidas contraídas, na dificuldade em investir, na dependência em relação a outra pessoa, ou em qualquer outro fator que atrapalhe a autonomia financeira. 

Sophia Pecoraro, publicitária e responsável pelo marketing da socialtech EQL- Elas Que Lucrem, recorreu à terapia psicofinanceira motivada pelas dívidas e incentivada por Francine Mendes, com quem havia começado a trabalhar na época.

“Com 22 anos, eu já estava com mais dívidas do que eu imaginei. Estava terminando minha faculdade e fiquei bem assustada. Eu não sabia o que fazer, nem por onde começar a me organizar, mas queria mudar de vida, conseguir pagar minhas contas, investir e gastar com o que eu quero. Contei para a Fran tudo o que me preocupava. Ela me acolheu, me acalmou e tive um suporte em todas as minhas dúvidas financeiras, até as mais simples. Hoje sei o que é investimento, sei lidar melhor com meu medo de investir, consegui fazer planilha de gastos e, agora, quando gasto, faço com a consciência tranquila”, recorda Sophia.

Francine Mendes e Sophia Pecoraro

A dificuldade para se organizar financeiramente é o que aflige a maior parte das mulheres que buscam a terapia psicofinanceira, mas vale destacar que a falta de autonomia emocional em relação ao dinheiro também deve ser observada. É possível que a mulher tenha o próprio dinheiro e uma vida muito confortável a partir dele, mas essa independência financeira pode não se refletir na autonomia dela para traçar o próprio caminho.

“Um exemplo que dou é a cantora e atriz Whitney Houston, uma mulher com muita independência financeira, mas nenhuma autonomia. Ela colocou pessoas erradas na sua vida, se tornou dependente emocionalmente e viveu um casamento tóxico. Morreu em decorrência da dependência química, muito cedo e sem boa parte da fortuna que ganhou”, lembra Francine Mendes. 

Essa falta de equilíbrio entre o financeiro e o emocional são amplamente trabalhadas na terapia psicofinanceira e sempre é tempo para se reavaliar.

“Eu indicaria para todas as mulheres que querem construir e desfrutar da autonomia e da independência financeira ao longo da vida, independentemente da idade. Muitas mulheres acham que a partir dos 50 anos, por exemplo, a vida acabou, não podem fazer transição de carreira, não podem mais ter liberdade financeira, precisam depender de um outro que dê suporte. Não é verdade isso. Qualquer mulher pode fazer e deve começar o quanto antes”, incentiva Francine.

Afinal, qual é a diferença?

O que, então, diferencia a terapia psicofinanceira de outras terapias que também trabalham o nosso emocional? Justamente é o foco na relação com o dinheiro, a administração das finanças e o planejamento futuro.

“A terapia psicofinanceira racionaliza as decisões. Na terapia, a gente trabalha o desenvolvimento emocional e, de forma igual e paralela, a questão da racionalização e do dinheiro. A terapeuta vai conseguir preparar melhor essa mulher para ela ter uma condição relacional com o dinheiro, com as emoções, com os desejos, com os afetos…A gente não pode desejar tudo, então como vamos escolher o que a gente vai desejar para que a gente não tenha frustração, depressão, crise de ansiedade ou burnout? Esses sintomas sociais estão muito atrelados ao dinheiro”, explica Francine Mendes.

O profissional capacitado para conduzir essa terapia precisa de formação na área de psicologia ou da psicanálise, além de certificações relacionadas à economia e ao mercado financeiro.

A dinâmica da terapia psicofinanceira se assemelha a outras formas de terapia, com sessões onde a fala da paciente e a escuta pelo profissional responsável são fundamentais. Algumas vezes podem ser propostas atividades que ajudam a desenvolver uma nova relação com o dinheiro. 

“A primeira coisa que a mulher vai sentir é uma sensação de liberdade. A gente sempre começa com pequenas atitudes. Eu falo sempre para as mulheres em terapia psicofinanceira para colocar cada coisa na sua caixinha. Maternidade, vida profissional, as relações, o comportamento, os desejos, o consumo…a gente vai colocando tudo nas suas caixinhas e, ao longo das trocas, essa mulher começa a interromper o processo de repetição do que a levou para a situação que precisa ser mudada”, detalha Francine.

Após iniciar a terapia, a publicitária Sophia Pecoraro, passou a ter a independência financeira como prioridade. Logo que recebe o salário, investe um valor e divide o restante entre contas fixas e gastos.

“Foi incrível. Mudou minha forma de enxergar o dinheiro. Parei de me culpar tanto por estar naquela situação e entendi que só dependia de mim para sair dela. O maior exercício de todos é fazer um racional do que eu quero e o que eu preciso. No começo foi bem complicado, mas, agora, consigo administrar e fazer essa separação bem melhor. E se não comprei o que eu quero agora, não quer dizer que nunca vou comprar, apenas que tenho outras prioridades no momento. Entendi também que, sem saúde emocional, a independência financeira é ainda mais difícil de ser alcançada”, comemora Sophia.

Educação financeira: um olhar para as próximas gerações

Se a educação e a construção social afastaram muitas mulheres da autonomia financeira, é possível pensarmos em um olhar para frente, nas próximas gerações. O que podemos deixar para meninas e jovens que estão em formação?

Além da nossa experiência, a educação financeira deve começar logo cedo. Incentivá-las a ter noção do que o dinheiro representa, se organizar quando começa a receber alguma quantia (seja de presente ou em forma de mesada) e a se relacionar de maneira mais saudável com ele pode ajudar na caminhada futura, especialmente quando estiverem com a própria renda. 

Francine destaca que, além de educar a criança financeiramente, é necessário ter atenção ao exemplo, porque muitas mensagens sobre a nossa relação com o dinheiro são adquiridas ainda na infância e dentro de casa. 

“O que eu vejo? Como os pais e as mães estão muito cansados, eles acabam comprando o tempo deles com coisas para os filhos. Então, a criança deixou de desejar. Um outro comportamento que as mães reproduzem dentro de casa, quando uma criança pede dinheiro, é responder ‘peça para o seu pai’. O que você está dizendo? Que é o pai que tem dinheiro. O menino cresce achando que ele precisa fazer dinheiro e a menina cresce achando que a mãe não tem dinheiro”, alerta Francine.

A economista considera que uma forma muito eficiente de iniciar a educação financeira é por meio da mesada, que ensina noções de limite e reflexões sobre como gastar melhor o dinheiro.

“Quando você estabelece a mesada, a criança aprende a fazer escolhas. Ela sabe que ela não pode comer aquele doce hoje, porque, se ela comprar hoje, amanhã ela não vai ter para comprar outra coisa. E quem estiver cuidando da criança nesse momento precisa ser absolutamente firme para que a criança possa desenvolver as suas escolhas, lidar com as escolhas erradas e aprender a fazer escolhas certas”, conclui. 

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