Redes sociais e trabalho: como equilibrar para obter bons resultados?

O afastamento das redes nem sempre é a melhor solução e o equilíbrio pode trazer melhores resultados
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Denise Calente Guidolin trabalha com seu celular conectado e está sempre de olho nas redes sociais. “Eu preciso saber o que está acontecendo no mundo e as redes são a melhor forma de interagir com o público”, conta. Denise é sócia proprietária de uma empresa em Americana, interior de São Paulo, mas retrata uma realidade que tem crescido. “Empresas estão cada vez mais vendo as redes como aliadas, e não como inimigas. Quem tem visão de futuro sabe que não é viável manter funcionários desconectados o tempo todo”, explica Karina Leite, psicóloga.

Funcionária em uma loja de roupas, Adriana Souza diz que o celular hoje é o principal meio de divulgação de negócio. “Recebemos um telefone da empresa assim que entramos aqui. Entre um atendimento pessoal e outro, respondo clientes, reposto publicações, divulgo ‘looks’. Esse atendimento virtual tem crescido muito nos últimos anos. Os telefones pessoais podemos mexer nas pausas periódicas que instituímos após algumas conversas sobre melhorias no ambiente de trabalho. Muitas contavam que ficavam ansiosas em não poder mexer o dia todo no aparelho pessoal, então colocamos pausas para promover esse bem-estar”, conta.

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Mas, como tudo na vida, é preciso equilíbrio. “Aqui no Bike Hotel não proibimos o uso do celular, mas se estiver prejudicando o atendimento ao público, pedimos para que nossos colaboradores deixem o aparelho de lado”, explica Denise.

De acordo com uma pesquisa de 2009 realizada pela Universidade de Melbourne (Austrália), que estudou os hábitos de 300 trabalhadores, há uma regra de tempo e navegação pessoal para que a produtividade não caia. No estudo, aqueles que gastavam até 20% de seu tempo do trabalho navegando na internet para fins pessoais tinham uma taxa de produtividade maior do que aqueles que nunca o faziam. A mesma pesquisa mostrou que aqueles que usavam mais do que 20% do seu tempo para fins pessoais tinham uma produtividade pior do que aqueles que nunca navegavam.

Segundo o psicanalista Igor Capelatto, as redes sociais foram desenvolvidas para que as pessoas criem novos networks e com o tempo foram sendo mais um espaço de mural pessoal e de humor e política. “Isso se deu quando a geração adolescente e depois as crianças com as facilidades dos celulares, tablets, passaram a usufruir. “Esse público começou a dar engajamento aos influenciadores e aos conteúdos feitos para descontrair. O uso profissional para conteúdos educativos e para trabalho ainda acontece, mas é preciso focar neste fazer”, diz.

Imediatismo e ansiedade

Igor ressalta que, apesar de ser uma ferramenta de trabalho importante, escolher os conteúdos e colocar limites é fundamental, com horário e funções definidas. “O prejudicial, além do uso inapropriado das redes sociais durante o trabalho é o distanciamento social real, ou seja, o presencial, o olho a olho. Esse prejuízo do mundo real, da presença física, gera um lugar de isolamento e impessoalidade. Sem afeto real, o ego adoece’, explica.

O tempo do real é necessário, pois o tempo do virtual é gatilho de ansiedade. “As postagens são rápidas sem tempo de pensar, refletir. Somos conduzidos ao imediatismo: quando enviamos uma mensagem esperamos resposta imediata e, quando isto não acontece, somos tomados por ansiedade, medo e angústia”, conta Igor.

Portanto, os trabalhadores que acessam redes sociais com muita frequência são mais ansiosos. “Diminuem a tolerância e o suporte de angústia e frustração e acabam não tendo paciência e posição adequada diante de um serviço ou cliente. Às vezes, diante de uma situação que precisam tomar decisões, acabam optando sem pensar sobre, muitas vezes prejudicando a si ou a empresa, por conta deste reflexo do imediato das redes sociais.

Concorrência por curtidas e saúde mental

Fenômeno recente nas redes, muitos gastam tempo vendo se a concorrência teve mais curtida, ou se vendeu mais que ela. “Isso faz com que deixe de investir em si mesmo, no seu produto ou serviço, além de os prejuízos físicos (saúde física) causados por uso excessivo dessas redes (e aparelhos). Há casos registrados de trabalhadores que pegam atestado, pois estão com sintomas recorrentes deste uso de redes (a velocidade das postagens é tanta que prejudicam vista, tem dor de cabeça, coluna entre outros)”, diz Igor.

Redes podem ser fuga

A realização do trabalho se deve ao desejo. Estar fazendo aquilo que escolheu e que gosta é importante, mas nem sempre é possível. Por isso, um ambiente acolhedor pode ser fundamental para aquele funcionário que esteja em um emprego “emergencial” ou que não seja de sua escolha. “É o convívio presencial bem cuidado e o afeto que geram a satisfação de realização. As redes sociais e afins são fugas para essa angústia da não realização e não ‘curam’ essa angústia”, aponta Igor.

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