Elas adotam: 9 mulheres que construíram famílias com filhos do coração

Por mais burocrático e doloroso que seja o processo de adoção - e de adaptação -, elas garantem ter valido a pena
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A fila de adoção no Brasil pode ser grande, mas possui uma peculiaridade: são 35 mil inscritos e apenas 5.000 crianças à espera de uma família. Problema resolvido? Longe disso. Na verdade, a fila permanece extensa porque a maioria das famílias não deixa o perfil aberto para adoção. 

Segundo pesquisa do Observatório do Terceiro Setor com dados do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), 61,5% dos candidatos a adotantes não aceitam irmãos e 57,7% só querem crianças sem nenhuma doença. Além disso, 26,1% deles desejam crianças brancas, 58% almejam crianças de até quatro anos e apenas 4,52% aceitam adotar maiores de oito anos. Por outro lado, 49,7% das crianças cadastradas no sistema são pardas – e apenas 16,68% brancas. Para completar, 55,27% delas possuem irmãos, 25,68% têm algum problema de saúde e 53,53% têm entre 10 e 17 anos de idade.

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A realidade de Fernanda Fabris, Arely Vieira e Bárbara Sampaio, Cláudia Fernandez, no entanto, é bem diferente. Na verdade, elas foram na contramão desse perfil padrão de candidatos a adotantes e, por isso, encurtaram a espera. Enquanto Fernanda é hoje mãe de quatro irmãos, Bárbara e Cláudia são mães de cinco e Arely adotou três crianças com deficiência. 

“A primeira reação foi: uau, cinco! Acho que temos que pensar um pouco mais”, conta Cláudia, sobre o momento em que se deparou com a foto das crianças no site da Comissão Estadual Judiciária de Adoção de Pernambuco (CEJA). Apesar do baque inicial, a candidata à mãe, ao lado da companheira Bárbara, decidiu encarar o desafio.

Fernanda também não esperava ser mãe de quatro – na verdade, tinha limitado a adoção a dois irmãos. Ainda assim, o destino deu seu jeito. “É um sentimento inexplicável. Quando olhei para a foto deles, imediatamente soube que estava olhando para os meus filhos”, conta.

No caso de Arely, a adoção de crianças com deficiência foi motivada pelo nascimento do filho biológico, Samuel, que é autista. Depois do diagnóstico, ela e o marido decidiram aumentar a família e adotaram três crianças: Elizabete, Henrique e Heloísa. 

Por mais que seja difícil cuidar deles, cada um com sua deficiência e personalidade, Arely conta que o maior desafio é da porta pra fora de casa. “A gente ainda precisa conscientizar as pessoas que amor por filho biológico e por filho adotivo não tem diferença. E que as pessoas com deficiência têm direito de ir e vir, de estar nos lugares como qualquer outra.”

A adoção pode até ser tabu para uma grande parte da sociedade, mas essas mulheres provam que ela não é um ato de caridade, mas de amor. 

Veja, a seguir, 9 mulheres que se tornaram mães de coração:

Arely Vieira

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Arely, Samuel, Bete, Henrique e Heloísa (Foto: Reprodução)

Ela já era mãe de Yan e Alana quando Samuel chegou – todos filhos biológicos. Mas foi o caçula quem preparou Arely Vieira para a adoção. A partir do diagnóstico de Samuel, que é autista, Arely aprendeu a lidar com os desafios de ter uma criança neuroatípica em casa. 

Foi em uma das visitas com Samuel à Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE) que ela se deparou com uma menina muito brava, agressiva mesmo, que chamou sua atenção. “Eu e meu marido ficamos um pouco chocados ao ver uma criança se machucando. Mas ficamos sabendo que ela havia sido tirada da família por maus tratos”, relembra Arely. O tempo passou, ela se mudou de cidade e nunca mais viu a menina, até que seus caminhos se cruzaram mais uma vez.  

Arely e o marido decidiram, então, aumentar a família. “Deixamos nosso perfil completamente aberto e recebemos a notícia de que tinha uma menina na mesma cidade em que estávamos. Ela tinha deficiências múltiplas, física e intelectual, além de paralisia cerebral. Quando chegamos lá, a menina era a mesma que eu tinha visto na APAE”, lembra.

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Arely e Elizabete (Foto: Arquivo Pessoal)

O processo de adaptação de Elizabete foi difícil. “Por ser muito agressiva, quando dizíamos ‘não’ ou a contrariávamos, ela se batia”, conta. Mesmo com os desafios, o tempo foi passando, elas foram se entendendo e, hoje, aos 14 anos, Bete está super adaptada e frequenta a escola. 

Mas a família não parou de crescer. Em agosto de 2018, o casal voltou para a fila de adoção. Depois de uma ligação, Arely e o marido viajaram até outra cidade para conhecer Henrique, um rapaz de 14 anos tetraplégico. “A gente esperava um adolescente, mas encontramos um menino muito pequeno. Ele pesava apenas nove quilos.” 

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Arely e Henrique (Foto: Arquivo Pessoal)

Henrique tinha vivido com a família biológica até então, numa rotina de maus tratos. Apenas depois que a genitora faleceu, o menino foi levado a um abrigo. “A gente sabia que ele era nosso filho, então entramos com todo o processo em agosto. Dois meses depois, o Henrique já estava em casa.”

Já naquela época, o caso dele era muito grave. O adolescente não tinha mais deglutição, e o quadro foi piorando até a realização de uma traqueostomia em 2019. No ano seguinte, precisou ser conectado a um aparelho 24 horas por dia para respirar. “Acho que o que ele precisa é viver cada dia. E a gente não deve esperar que ele evolua de uma forma que não é mais possível. Eu quero viver com o Henrique o que dá para viver hoje.”

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Mesmo com os desafios envolvendo Bete, Samuel e Henrique, Arely e o marido entraram mais uma vez na fila de adoção em fevereiro do ano passado. “Recebemos a foto de uma menininha de seis anos, a Heloísa. Ela também tem paralisia cerebral, nasceu prematura e tem sequelas. A gente começou o processo de aproximação por videochamada e, em maio, ela veio para casa”, conta. 

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Arely e Heloísa (Foto: Arquivo Pessoal)

Hoje, o casal vive para os filhos. Arely pensa em adaptações e estímulos capazes de oferecer às crianças uma melhor qualidade de vida e que os ajudem no desenvolvimento. “Penso e crio atividades para as crianças, para ajudá-las no dia a dia. Como são quatro, cada uma com um tipo de deficiência diferente, tudo isso exige muito de mim.” Em casa, as adequações do espaço são feitas pelo casal, afinal, muitos utensílios adaptados são caros e não muito acessíveis. 

Mas, para além desses itens, ajustes precisam ser feitos até nas roupas. “A Elizabete, por exemplo, é uma menina de 14 anos. Eu compro roupas da idade dela e faço as adaptações necessárias. Não posso ficar vestindo ela com calças de moletom para o resto da vida. Ela já é uma mocinha.”

Mas Arely sabia o que iria enfrentar quando embarcou nessa jornada. “O que mais me entristece são as dificuldades que a gente enfrenta lá fora, ainda que dentro da família também exista. Muita gente acha que eles são coitadinhos e não têm entendimento do que acontece ao redor. Tem até quem pergunte onde estão a mãe e o pai dessas crianças. A mãe e o pai deles somos nós, eu e o meu marido”, finaliza a super mãe.

Bárbara Sampaio e Cláudia Fernandez

Elas Adotam: 9 mulheres que construíram famílias com filhos do coração
Bárbara, Cláudia e os filhos (Foto: Arquivo Pessoal)

“Começamos a namorar em fevereiro de 2019 e sempre falamos em formar uma família. Nossos papos passavam por uma casa cheia, um lar acolhedor. Foi quando Bárbara me perguntou se eu nunca tinha considerado ser mãe. Na verdade, esse sempre tinha sido meu maior sonho, mas, aos 52 anos, eu já o tinha deixado para outra vida”, conta Cláudia Fernandez. Bárbara, que já tinha dois filhos de um casamento anterior, convenceu a esposa a se entregar à maternidade, e foi então que as duas começaram a considerar a adoção.

Meses depois, elas passaram a trilhar os passos para a habilitação. Mas foi graças a uma amiga que Cláudia foi apresentada à Comissão Estadual Judiciária de Adoção de Pernambuco (CEJA). No dia 21 de novembro, no site da entidade, Cláudia viu a primeira foto das crianças: cinco irmãos, destituídos da família e aptos para adoção. “A primeira reação foi: uau, cinco! Acho que temos que pensar um pouco mais”, lembra. Mesmo assim, e consciente de que ainda não estava habilitada, Bárbara enviou um e-mail, embora sem nenhuma expectativa de retorno. “Estávamos encantadas com as crianças”, conta.

A resposta veio duas horas depois: outro casal já estava no processo, mas isso não significava que elas não tinham chances. “Ficamos chateadas, porque já tínhamos feito planos. Mas, dois dias depois, recebemos a notícia de que o casal tinha desistido, então entramos no processo”, relembra Bárbara. 

Todas as tratativas começaram, então, a ser feitas na cidade onde as crianças moravam. Em dezembro de 2019, elas passaram a conversar diretamente com o abrigo, contaram que eram duas mulheres e garantem que isso nunca foi um problema. “Nem para as crianças. Elas ficaram eufóricas”, conta Bárbara. Já no primeiro contato, via chamada de vídeo, os cinco se referiram a ambas como “mãe”.

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Bárbara e Cláudia no primeiro encontro com os filhos Maria Clara, Samuel, Maria Eduarda, Juan Pablo e João Vitor (Foto: Arquivo Pessoal)

Bárbara e Cláudia faziam questão de conversar com as crianças sempre, mesmo à distância, uma vez que moravam em São Paulo. Foi na semana do Carnaval de 2020 que elas receberam a notícia de que poderiam buscar as crianças para fazer um estágio de convivência de três meses. Elas embarcaram no dia 1o de março para encontrar os cinco irmãos, passaram alguns dias na cidade conhecendo a rotina deles e voltaram oito dias depois – com todos eles. “Na semana seguinte, veio a pandemia de Covid-19, e eu e Cláudia ficamos trancadas em casa com cinco crianças”, conta Bárbara.

“Foi difícil, porque nos vimos com cinco estranhos em casa, e eles com duas estranhas. Mas fomos criando uma rotina, tentando o menor contato com o mundo externo possível. Até que os três meses viraram seis e, só então, conseguimos contato com um fórum. Nessa altura do campeonato, já tínhamos criado um vínculo, uma rotina de família.”

As crianças saíram do abrigo analfabetas, com dificuldades de fala. Então, além de todo o processo de adaptação, as duas precisaram correr atrás também de professores que as ajudassem nesse quesito em meio a uma pandemia. 

Aula de alfabetização (Foto: Arquivo Pessoal)

Foi em março de 2021 que o juiz concluiu o processo e Cláudia e Bárbara se tornaram mães de Maria Clara, Samuel, Maria Eduarda, Juan Pablo e João Vitor. “Hoje, eles já vão pra escola, em período integral, mas ainda têm acompanhamento de psicólogos, fono e estão começando a alfabetização. Esse é um processo que não sabemos quanto tempo vai durar”, contam. “O que eu e Cláudia sempre falamos é que a adoção, principalmente tardia, precisa de dedicação, informação, acompanhamento e muito amor”, finaliza Bárbara.

Carina Machado

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Carina, o marido e Levi (Foto: Reprodução)

A influencer digital Carina Machado e seu marido Bartolomeu não viam a hora de ter um filho. Quando contabilizaram 13 anos de casamento, se deram conta de que oito deles tinham sido marcados por tentativas de engravidar. Foram inúmeros testes de gravidez e  várias esperanças frustradas até a descoberta de um diagnóstico que, finalmente, explicou a dificuldade: Bartolomeu tinha azoospermia, uma doença que afeta de 1% a 2% dos brasileiros. Além da ausência total de espermatozóides, os exames também constataram que as chances de engravidar com uma fertilização in-vitro eram praticamente nulas. 

Ao mesmo tempo em que sofria com a notícia, Carina tinha medo de não estar preparada para a adoção. Assim, o casal esperou mais três anos para começar a correr atrás da papelada. Mas a influenciadora, que hoje compartilha sua história e seu cotidiano no Instagram, foi se animando com a ideia, principalmente por acompanhar pela internet outras famílias que haviam passado pelo processo de adoção.

Carina, porém, é sincera ao dizer que é preciso pensar, ponderar e refletir muito. É também importante estar preparado, porque a jornada da adoção pode ser muito longa e difícil. Para ela, adoção não é uma aventura, e sim um conjunto de escolhas responsáveis que acompanharão o adotante por toda a vida.

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Foram anos na espera pela habilitação no Cadastro Nacional de Adoção, mas, em 2020, em meio à pandemia, o casal recebeu a ligação que mais esperavam. Levi chegou mudando a vida dos dois e todos os esforços da família se voltaram para o filho. Hoje, com quase 25 mil seguidores, Carina compartilha no seu perfil @carinamachado.maeporadocao os dramas, as alegrias, as dificuldades e os momentos especiais da sua trajetória com Levi.

Fernanda Fabris

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Fernanda e os filhos Flávio, Fabrício, Arthur e Flávia (Foto: Reprodução)

Nem Fernanda, nem o marido, tinham qualquer diagnóstico que os impedissem de ser pais, mas a dificuldade de engravidar esteve presente em 11 dos quase 17 anos de casamento.

“Apesar de a adoção estar presente na minha vida, já que tenho primos adotados, fiquei presa à expectativa dos outros por muito tempo”, conta Fernanda. Aquela tradicional indagação sobre a chegada do bebê acabou criando uma prisão, que resultou em três depressões ao longo dos anos. “Foi um longo processo até eu entender que poderia amar uma criança como meu filho mesmo que ela não tivesse saído da minha barriga”, explica Fernanda. 

“Levei mais ou menos um ano de ‘luto’, aceitando essa condição”, lembra. Fernanda se descobriu forte quando passou a responder com naturalidade, para quem perguntava sobre filhos, que não conseguia engravidar. “Mas, além disso, descobri que não queria, necessariamente, ter um bebê. Eu queria ser mãe, viver a maternidade.”

O planejamento de Fernanda era entrar com a papelada para habilitação em 2019 e estar apta no ano seguinte. Mas foi fazendo pesquisas que acabou encontrando o site Adote um Boa Noite, do Tribunal de Justiça de São Paulo. Ao navegar pela página, deparou-se com uma foto de quatro irmãos. “É um sentimento inexplicável… Eu soube imediatamente que estava olhando para os meus filhos. Não digo que é amor, mas foi algo muito forte. Tão forte que me fez mudar todos os planos para poder me tornar mãe dessa turminha”, conta.

Fernanda, os filhos e o marido (Foto: Arquivo Pessoal)

Pouco tempo depois, ela e o marido se encontraram com as crianças. “Nossos filhos nasceram pra gente aos três, seis, nove e 11 anos.” Fernanda, que nunca havia imaginado ser mãe de tantos, encarou a situação com suas alegrias e dificuldades. “Sofri muita rejeição deles no início. A Flávia não queria ser adotada e sempre deixou isso muito claro. Ela demorou um ano e três meses para aceitar a adoção”, lembra.

Com Fabrício, seis anos, e Arthur, três, o vínculo também demorou. No caso do mais novo, Fernanda ficou três meses sem poder tocá-lo, pois ele não deixava. “E, por incrível que pareça, desmistificando o que dizem sobre crianças mais velhas não formarem vínculos tão facilmente, o Flávio, de 11 anos, foi o primeiro a se conectar comigo.”

Essas dificuldades levaram a família a dedicar um tempo de sua rotina para compartilhar os altos e baixos da adoção. “A gente via outros perfis, mas quase sempre mostrando uma maternidade irreal. O @mae_poramor mostra um processo de adoção real, nossas dificuldades, e isso acaba ajudando a quebrar o tabu que ainda cerca o assunto.”

Giovanna Ewbank

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Giovanna, Titi, Zyan e Bless (Foto: Reprodução)

Apesar de ter vivido por muitos anos em uma bolha, onde questões raciais não eram pauta, Giovanna Ewbank viu essa realidade mudar quando adotou Chissomo, ou Titi, como a menina é chamada. Foi durante uma visita a um abrigo de órfãos em Lilongwe, capital do Malawi, que a modelo, casada com o ator Bruno Gagliasso, conheceu a filha. 

O ano era 2015 e o casal não pensava em ter filhos tão cedo. Mesmo assim, ao encontrar a pequena Titi, os planos mudaram. Giovanna soube, naquele momento, que elas não poderiam mais viver longe uma da outra.

Durante um ano e meio – tempo que durou o processo de adoção -, Giovanna e Bruno largavam tudo por aqui, faziam as malas e embarcavam para o país africano. Neste período, foram mais de dez viagens ao Malawi na expectativa de trazer com eles a pequena Titi, na época com quatro anos. Assim que a menina mostrou-se completamente adaptada no Brasil, manifestou a vontade de dividir o espaço com outro irmão.

Assim, o segundo filho adotivo de Giovanna e Bruno veio pouco tempo depois. Também natural do Malawi, Bless e os pais se encontraram durante uma das viagens deles pelo país. Foi amor ao primeiro abraço. “Quando encontramos o Bless – na época com quatro anos -, a gente sabia que era ele que estava faltando na nossa vida, a gente sabia que ele ia ser nosso filho e o irmão que a Titi tanto esperava”, relatou a atriz em seu canal do YouTube.

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Giovanna, Titi e Bless (Foto: Reprodução)

O processo de adoção de Bless foi mais tranquilo do que o de Titi, mas, claro, teve seus altos e baixos. Os dois irmãos se conectaram logo de cara, mas a menina teve uma crise de ciúmes quando a família chegou ao Brasil. Foi com muita paciência e amor que as coisas foram se encaixando. 

Após apenas quatro meses da chegada de Bless ao Brasil, Giovanna descobriu uma gravidez inesperada. Ela e Bruno nunca haviam planejado um filho biológico, na verdade até se preveniam. Mas a empolgação de Titi e Bless com a chegada de mais um irmão acabou animando também os pais. 

Para Giovanna, a gravidez tinha ainda um outro aspecto: não era apenas mais um filho, mas sim um bebê branco. O casal tinha receio de como esse fato seria recebido pelas duas crianças. “Eu não sei o que é sofrer o racismo na pele, mas sei o que é ser mãe de crianças negras. Foi aí que entendi a urgência e a necessidade de ir além, de ser antirracista”, disse a atriz em um post nas redes sociais.

Leandra Leal

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Leandra e Julia (Foto: Reprodução)

Foi um processo angustiante e demorado, que durou, ao todo, três anos e oito meses, até que a atriz Leandra Leal e seu ex-marido, Alê Youssef, adotassem Júlia. Apesar de penoso, foi esse tempo na fila de adoção que ajudou a artista a refletir e se preparar. Quando decidiu entrar com o pedido, comunicou a todos que eram importantes em sua vida. Para ela, a chegada da criança deveria ser repleta de amor e acolhimento, e não de surpresa. 

Apesar de ser mais reservada em relação à adoção, Leandra usa as redes sociais para contar um pouco sobre sua história com Júlia. Um encontro onde ela escolheu adotar – e a filha escolheu ser adotada. Ainda assim, a atriz não esconde os desafios de criar uma filha mulher, negra e adotiva no Brasil. Leandra percebeu que em seu entorno, na zona sul do Rio de Janeiro, poucas pessoas eram negras, o que a incomodou, afinal Júlia cresceria sem referências.

“Sempre me considerei uma pessoa superconsciente, ativista, mas é óbvio que ser mãe de uma menina negra muda completamente a percepção e o meu sentimento. É algo que eu não consigo sentir por ela, mas é algo contra o qual eu posso lutar contra, ao lado dela”, disse a atriz em um programa de televisão.

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Leandra e Julia (Foto: Reprodução)

Foi por conta do racismo e das dificuldades que ele traria para a filha que Leandra cogitou se mudar de país pela primeira vez na vida. Ainda assim, decidiu permanecer por aqui e criar uma Júlia independente e forte para lidar com o dia a dia, que muitas vezes pode ser cruel. 

Mas não há dificuldade capaz de fazer Leandra voltar atrás. Na verdade, a atriz é grata todos os dias por Júlia a ter escolhido como mãe. Por isso, todo ano, a família comemora o amor, a parceria e a sorte de terem se encontrado. “A ‘Festa da Família’ não é uma festa para dizer parabéns ou feliz data, e sim para dizer eu te amo”, contou a atriz em um post.

Naiara Demarco e Janaína Fernandes

Naiara, Janaína, Guilherme e Gabriel (Foto: Reprodução)

Janaína Fernandes foi casada antes de conhecer Naiara Demarco. Com o sonho de ser mãe por adoção, ela e a ex-esposa entraram com o processo, mas as duas acabaram se separando ainda em 2014. Foi no meio disso tudo que ela e Naiara se conheceram.

Todo o processo de adoção – que demorou quatro anos – foi conduzido no nome de Janaína. Por isso, quando Naiara passou a morar com Janaína, Guilherme e Gabriel já estavam lá. “Eu cheguei três meses depois. Mas, sabe, eu nem lembro que não estive com eles nesse tempo. A sensação que eu tenho é que estivemos sempre juntos, unidos”, disse Naiara em um post nas redes sociais.

Ela, que também sempre  sonhou em ser mãe, entrou na vida dos meninos como tia, apesar de ser namorada de Janaína. Com o tempo, Naiara percebeu que também queria aquela maternidade. Foi um processo, mas Guilherme – o mais novo – entendeu mais rápido e logo passou a chamá-la de mamãe. 

Para Naiara, ainda existem muitos tabus rondando a adoção. Um deles é essa imagem irreal de que a criança vai ser a melhor do mundo, a mais bem preparada. A realidade é outra, é preciso ter muita paciência. Mas, no final, o que prevalece são as pequenas e grandes alegrias, como a primeira vez que Gabriel chamou Naiara de mãe. 

“O amor é escolha, renúncia, empatia e, principalmente, perdão. A minha família é, com certeza, a definição de amor”, diz Naiara.

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